Andressa 24/10/2012
Jorge Coli (Amparo, 1947) é um professor titular em História da Arte e da Cultura, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Foi colaborador do jornal Le Monde, traduziu para o francês Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos e Os sertões de Euclides da Cunha, em colaboração com Antoine Seel. Entre seus livros estão: Música Final- ed. Unicamp; Ponto de fuga (Perspectiva); L'Atelier de Courbet (ed. Hazan, Paris). Recebeu diversos prêmios, entre eles o "Florestan Fernandes" (CAPES), melhor orientador de tese em Ciências Humanas (2005). Foi Secretário da Cultura da cidade de Campinas.
Jorge Coli concentra seu discurso no objeto artístico. Nos diz que explicar o que é arte é uma coisa difícil. Ele propõe a questão de como saber o que é e o que não é arte. Para isso nossa cultura possui instrumentos específicos para nos dizer sobre o assunto. Um deles é que reconhecemos a competência e a autoridade do objeto artístico. Eles podem se manifestar em um museu, numa galeria, numa sala de concerto e entre outros. A seguir o autor então fala aliviado, pois nossa cultura determinará o que é e o que não é arte. Mas ele também alerta que o estatuto da arte não parte de definições abstratas, lógica ou teórica.
A arte se instala em nosso mundo pelo esplendor que envolve o objeto. Mas não há uma divisão para nos dizer o que é e o que não é arte, mas podemos dizer que uma arte é melhor que outra. Certo crítico poderá afirmar isso segundo alguns critérios, se uma obra é mais bem realizada, mais rica, ou mais profunda que outra.. Havendo uma hierarquia entre os objetos artísticos. A crítica, portanto, tem o poder não só de atribuir o estatuto de arte a um objeto, mas de o classificar numa ordem de excelências, segundo critérios próprios. Existe mesmo uma noção em nossa cultura, que designa a posição máxima de uma obra de arte nessa ordem: o conceito de obra prima (pág.14).
Os profissionais do discurso, hoje, possuem critérios que não são apenas o do saber fazer, e um critério mais variado. Não como no passado, que a melhor obra era a mais perfeita e que era julgada a partir de critérios precisos de fabricação. Os discursos que determinam o estatuto da arte podem tomar diversos caminhos. São vários os elementos em cena para determinar a preferência pela obra.
O autor nos explica que durante muito tempo há obras que são consideradas como não arte, até que românticos e alguns teóricos se interessaram por elas e demonstraram o seu valor. O autor, depressivo, chega a uma constatação: a autoridade institucional do discurso competente é forte, mas inconstante e contraditória, e não nos permite segurança no interior do universo das artes (pág.22).
Coli aponta sobre o desejo de rigor, que é importante conhecer o estilo de um autor para reconhecer com facilidade sua produção. Mesmo que o autor mantenha um mesmo estilo desde a sua primeira obra até a última ele transforma ou modifica suas estilísticas no decorrer do tempo. Mais adiante, o autor nos diz que não é importante apenas similar o estilo do artista, mas, também, descobrir o que ele revela como preocupações.
O autor cita que é preciso distinguir o crítico do historiador. O Crítico analisa as obras, e sua função é eminentemente seletiva. De certo modo, é o juiz que valoriza ou desvaloriza o objeto artístico (p.36). Já o historiador da arte procura em princípio evitar os julgamentos de valor. Entretanto, o historiador da arte não consegue evitar inteiramente os critérios seletivos, pois o conjunto de objetos que estuda supõe uma escolha. Ele busca a compreensão dos fenômenos artísticos (p.37).
Em 1915, Wölfflin, historiador, escreve um tratado: os Princípios Fundamentais da História da Arte, nele há cinco categorias que classificam o classicismo e o barroco.
1º) o classicismo é linear, o barroco, pictural;
2º) o classicismo utiliza planos, o barroco a profundidade;
3º) o classicismo possui uma forma fechada, o barroco, aberta;
4º) o classicismo é plural, o barroco, unitário;
5º) o classicismo possui uma luz absoluta, o barroco, relativa (p.39).
No decorrer do texto o autor nos dá exemplos de cada uma dessas categorias assimiladas à autores.
Além de citar Wolfflin, também cita os historiadores D’Órs e Focillon. Faz uma reflexão sobre as propostas de classificação desses historiadores, que vai do conceito estático e agrupado à independência total da obra em relação à história. Nos coloca que as obras não são absolutamente culturais ou materiais, elas vivem e se modificam, é prazer associado a razão, não explica mas nos faz sentir, é reação do complexo cultural que existe dentro de nós diante do complexo cultural que está fora.
Para Wölfflin e D’Ors, os conceitos são estáticos, eles agrupam, nada mais. Wölfflin liga-se à evolução no tempo, porque em tal momento as formas tomam tais constantes e, no seguinte, outras tantas. Mas, para ele, o barroco não é uma conseqüência do clssicismo; há uma idéia de sucessão, e não de causalidade (p.58). Para Focillon, todos os períodos artísticos passam por uma fase: primitiva, clássica, barroca; pelo menos virtualmente. Em ambos, a especificidade das artes encontra-se nas formas, são elas que permitem um sistema classificatório estático ou evolutivo.
Coli fala sobre a arte para nós, que refere-se aos instrumentos que instauram a arte em nosso mundo: história da arte, crítica, museu, teatro, cinema de arte. Através deles a arte existe. E comenta que a idéia de arte não é própria a todas as culturas e a nossa possui uma maneira muito específica de concebê-la. Isto é, selecionamos algumas manifestações materiais e damos a elas uma denominação desconhecida dos homens que as produziram.
Um objeto só é artístico porque foi aceito como tal pelas diversas “competências”: pelo crítico, pelo historiador (p.67-68).
Coli sita o cineasta francês, Jean Renoir, que deixou um texto muito bonito sobre a história da arte: “Cheguei mesmo a me perguntar se toda obra humana não é provisória – mesmo um quadro, ... uma estátua, ... uma obra arquitetural, mesmo o Partenon ... Talvez se consiga, à custa de tanto colocar cimento nas colunas, mantê-lo por cem anos, duzentos anos, digamos quinhentos anos, digamos mil anos. Mas, enfim, chegará um dia em que o Partenon não existirá mais.
Pergunto-me se não seria mais honesto abordar a obra de arte sabendo que ela é provisória e irá desaparecer” (p.74).