Jaqueline 07/11/2020
Tão profundo quanto o próprio oceano
Há muitos anos, fui introduzida no universo do Jeff Lemire por Sweet Tooth e, embora já tivesse percebido a grandiosidade do seu talento, foi só agora que dei continuidade à leitura de suas obras.
Em O soldador subaquático, temos traços e até mesmo uma história que a princípio parecem simples, sem grandes pretensões. Porém, a medida que avançamos na leitura, vemos que os personagens ganham profundidade e capacidade reflexiva.
Resumir a obra ao tema da perda seria injusto. A perda aqui é um dos elementos principais, porém para mim, o grande mérito da obra é saber trabalhar em cima da culpa, mais especificamente da culpa pela perda. Lemire trabalha muito bem esse tema e o desenvolve a ponto de mostrar o quão determinante a culpa pela perda pode ser pelas nossas escolhas na vida adulta e o quão importante é nós reconciliarmos com o nosso passado e elaborarmos nossa culpa para que possamos finalemente seguir em frente.
Nós, como seres humanos, somos complexos. O mar, vasto e imenso, serve como uma excelente metáfora para a profundidade da nossa dimensão psíquica. E melhor ainda é o paralelo feito com a obra. Jack, o personagem principal, precisou entrar em contato com os seus próprios medos de maneira abrupta e sem apoio. Precisou ir cada vez mais fundo no mar e, consequentemente, em si mesmo para dar sentido a uma lembrança que relacionava com a culpa. A HQ, portanto, nos faz lembrar de como somos pequenos diante da imensidão do oceano, mas de como podemos ser tão profundos quanto ele quando estamos lidando com os nossos traumas.