skuser02844 16/07/2023
Apresenta boas reflexões, mas por si é muito limitador
Eu não gostei da leitura, mas entendo a importância deste livro no mundinho tarô e acho que o Jododowsky é um nome inevitável quando alguém se propõe a estudá-lo. Vou elencar alguns pontos que achei positivos e outros que achei negativos:
Gostei:
- Não tem esquizoterice, o que significa que não faz relação com astrologia ou outros sistemas. Ele até menciona cabala, mas é só para pontuar, não fica forçando a barra.
- É uma leitura bem completa, não é como outros materiais que passam bem pelos arcanos maiores e deixa o resto pelo resto. Passa por tudo muito detalhadamente, então você fica com todo o baralho muito coberto por alguma coisa de teoria.
- Gostei da proposta de fazer um "e se o arcano falasse", que é um textinho em primeira pessoa com a descrição que o arcano daria de si. É bem valioso como exercício, inspirado nisso dá para pensar em fazer tiradas com o próprio tarô se explicando. E também gostei da tentativa de um sistema de correspondência com os dois quadrados que ele propõe. Fica claro que não funciona perfeitamente, mas vale muito pelas reflexões que ele traz.
- O Jodorowsky é bem pretensioso, e por isso ele acaba trazendo umas reflexões bem interessantes, coisa que eu nunca tinha visto em nenhum outro material de tarô. Gostei particularmente das reflexões éticas sobre o que é ser tarólogo, vale muito se questionar sobre isso quando se pensa em fazer atendimento.
Não gostei:
- O Jodorowsky é muito pretensioso, e por isso ele frequentemente come onde cuspiu. Ele fala contra definições tradicionais de certas cartas e logo em seguida dá a exata mesma definição para ela. Acontece com ênfase no arcano 13, mas se repete em vários outros trechos, como quando ele fala sobre os 4 elementos e os 4 naipes, etc. Inclusive, ele coloca a visão dele como a única correta e a versão do tarô que ele usa (o próprio tarô restaurado) como o único “verdadeiro”.
- Frequentemente os textos ficam desnecessariamente complexos porque ele tem uma fixação enorme pelos detalhes. Ele engata parágrafos sem fim com conversas de “não porque os 12 risquinhos do lado esquerdo significa que não sei o que”. Entendo a proposta mas acho que nesses trechos ele tá correndo atrás do próprio rabo. (E todas as entradas para cada arcano tem, pelo menos, um pouco disso).
- Discordo muito das leituras que ele faz em muitos aspectos, mas principalmente no que diz respeito às figuras femininas. Fica claro que os arcanos femininos têm menos complexidade pra ele do que os seus “equivalentes” masculinos e eu acho que todos deveríamos questionar o porquê disso. Ele insiste muito na sexualidade das personagens femininas do tarô enquanto na maioria esmagadora dos masculinos isso sequer é mencionado. Para mim, parece que ele só vê as mulheres com viés sexual e acho isso um problemão na hora de fazer uma leitura, pois como ele mesmo diz e ignora na hora da prática, energia feminina e masculina não é a mesma coisa que gênero feminino e masculino na sociedade.
- Ele fala bastante sobre ser comportamentos tóxicos durante o livro e talvez não perceba que acaba colocando muita positividade tóxica nas suas leituras.
- No final ele vai dando exemplos de leituras e muitas vezes não aplica o que ele mesmo propôs, na verdade, acaba fazendo leituras seguindo a tradição que ele mesmo insiste em criticar dando leituras completamente dentro do que ele mesmo apresenta como “errado”.