Dudu Menezes 27/09/2023
Melhor livro sobre o tema...
Chego ao final desse livro espantado com a capacidade do Laurentino Gomes em tornar leve e interessante um assunto que, normalmente, poderia ser considerado maçante para a maioria das pessoas.
Em "1808" temos um grande trabalho de reportagem, que durou 10 anos. Tempo utilizado pelo autor para pesquisar mais de 150 livros e diferentes fontes, tanto impressas quanto digitais, frequentando as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa e Washington.
O livro faz parte de uma trilogia, que é composta, ainda, por "1822" e "1889", em referência, respectivamente, aos anos que marcam a declaração da Independência e a proclamação da República.
Em "1808" o texto flui de forma leve, mas com rigor histórico. Além de conhecermos detalhes íntimos da vida de Dom João VI, sua mãe Maria I (a louca) e Carlota Joaquina (a esposa conspiradora), também ficamos sabendo da história de figuras como Luiz Joaquim dos Santos Marrocos (o arquivista real), que teve um papel decisivo em registrar a vida no Brasil, ainda enquanto Colônia de Portugal.
Ao narrar a fuga da família real, Laurentino conta um pouco da história do surgimento da imprensa, com o Correio Brasiliense, de Hipólito José da Costa, e traz dados importantes para se compreender a origem da exclusão social em nosso país. Como, por exemplo, o fato de que, entre os séculos XVI e XIX, cerca de 10 milhões de escravos africanos foram vendidos para as Américas, tendo o Brasil (maior importador do continente) recebido 40% desse total (algo entre 3,6 e 4 milhões de cativos).
Durante os 13 anos em que a família real passou no Rio de Janeiro, muitas transformações estavam ocorrendo no mundo. Napoleão, obviamente, é figura central nesta obra, tendo afirmado, já no final de sua vida, que Dom João VI teria sido "o único que teria conseguido enganá-lo", ao deixar Portugal, com o apoio da Inglaterra, não aderindo à imposição do bloqueio continental.
Ao falar da Guerra Peninsular, dentre os conflitos provocados pela ofensiva napoleônica, Laurentino crava essa: "entre 1807 e 1814, Portugal e Espanha foram para Napoleão o que o Vietnã seria para os Estados Unidos um século e meio depois".
Como se vê, esse é um livro indispensável!