Diego 25/07/2013Lirismo e históriaMais um livro de Pepetela repleto de lirismo e histórias que se descortinam pelas agitações das guerras de libertação e guerras civis. O início desta obra é fantástica, o jovem Júlio e sua vida numa terra agreste, o planalto do sul de Angola, sua ingenuidade em não entender o racismo, sua vontade de aderir à luta após ler os relatos de Frantz Fanon sobre a descolonização da Argélia, como tantos outros de sua geração.
Quando ele chega em Moscow a história vai mudando de tom, pouco a pouco começa a ganhar uma malícia relacionada à política, porém, ainda é um jovem ingênuo e cheio de lirismo e tem o coração arrebatado por uma pequena moça da Mongólia.
O argumento central do livro então se descortina, ela, a filha de um eminente membro do partido mongol, ele, um branco de olhos azuis angolano, visto por desconfiança até pelos de sua terra. A Mongólia era uma peça importante do quebra cabeça geo-político comunista, pois estava entre a China e a URSS e os soviéticos não iriam deixar que nada acontecesse com a filha de um ministro mongol, sem a aprovação do mesmo.
Aqui aparece um traço característico de Pepetela, utilizar um drama pessoal, arremessá-lo em um cenário macro-político para dar tonalidade a seus contornos mais intricados, e tentar dar ao leitor uma impressão da impotência do homem comum diante da política, da guerra, da corrupção e de tantos outros temas que aborda em seus livros.
O resto da história passa em flash forward, fazendo muitas considerações sobre o que foi a guerra de libertação angolana, a queda do comunismo, etc. E 35 anos depois há um desfecho da história de amor.
Não é uma obra tão boa quanto a "parábola do cágado velho", ou "predadores", principalmente pelo final desenrolado às pressas, porém, ainda é obra característica deste autor, direta e dura, por vezes chegando à "objetividade" jornalística por um lado, mas sem perder o lirismo e um tom afetuoso.