Gramatura Alta 17/04/2017
Falsa ficção-científica
Por várias vezes, eu desejei ler a série DIVERGENTE. Isso, até assistir ao filme e receber spoilers de como termina o último livro. Aí, fiz o contrário. Fugi dessa série. Então, fiquei sabendo desse novo livro da autora, CRAVE A MARCA, que traria um enredo que agradaria aos fãs de ficção-científica, mais especificamente aos fãs de STAR WARS. Bem, acredito que se eles lerem a história, não irão gostar muito do que vão encontrar.
Antes de continuar, deixar uma coisa bem clara: CRAVE A MARCA não é ficção-científica! A grandiosidade do enredo que está na sinopse, sobre os dois personagens poderem influenciar toda uma galáxia, é totalmente exagerada, uma vez que o enredo acontece quase em um único planeta, em uma única cidade, e os perigos que eles enfrentam, são sobreviver a lutas dentro de arenas. Na verdade, CRAVE A MARCA é uma distopia misturada com Young Adult, que usa breves passagens no espaço para se afirmar como uma ficção-científica.
Mas a autora usa outras inspirações para compor uma trama arrastada, confusa, cheia de informações que não são bem explicadas, cenários pouco descritivos e uma ação tão rasa, que desanima. Ela utiliza a velha fórmula do casal de famílias rivais (neste caso, de raças rivais), que se apaixonam; da filosofia da Força de STAR WARS, misturada com poderes mutantes e predestinação; e de JOGOS VORAZES, misturado com gladiadores da Roma antiga.
Mas isso nem seria ruim, se fosse bem aplicado. Não é. A autora se perde em diversos momentos e não consegue compor uma história que deveria ser cheia de cenários fantásticos. O que ela consegue, é deixar o leitor perdido. As naves espaciais, ou melhor, a nave espacial, uma vez que só aparece uma e, mesmo assim, é tão pouco descrita que mais parece um navio, serve apenas para locomoção; as armas utilizadas, são todas da idade média: facas e venenos; as armaduras de luta, bem... não consegui compreender o que elas são, porque são feitas de materiais que não conhecemos, e nem são explicados.
Deixando a falsa ficção-científica de lado, porque senão vou reclamar por mais alguns parágrafos, vou falar da única coisa que é legal no livro: Cyra. Ela é irmã do vilão, Ryzek, que governa a nação Shotet com mãos de ferro, e mata qualquer um que vá contra seus planos. O poder de Cyra é fazer os outros sentirem dor. Esse poder é visível por todo o seu corpo através de fios negros, sempre em movimento por baixo de sua pele. Quanto ela usa toda a força de seu poder, sua pele fica totalmente negra. Mas a dor que ela causa com um toque, ela sente o tempo todo. Mesmo com analgésicos fortes, a dor está sempre lá.
Ryzek usa o poder da irmã em sessões de tortura, para conseguir confissões dos inimigos. Akos, da nação Thuvhe, que é sequestrado ainda criança pelos Shotet, possui um poder que Ryzek julga imprescindível para controlar Cyra: Akos anula o poder de Cyra. Assim, quando Cyra é tocada por Akos, ela para de sentir dor. Os dois passam a viver juntos, o tempo todo.
Cyra me consquistou por sua fragilidade, pelo que ela sofre nas mãos do irmão, por seu conflito moral ao ferir os outros, por sua perseverança em tentar se libertar e por seu senso de justiça. Mais do que isso, é Cyra que gere todas as ações da história, até mesmo aquelas perpetuadas por Akos, uma vez que ela se envolve em todas sem ele saber.
Mesmo assim, e infelizmente, isso não é suficiente para salvar a história. Inclusive, existe outro ponto na narrativa que me deixou confuso: os capítulos são alternados entre Cyra e Akos. Nos de Cyra, a narrativa é feita em primeira pessoa. Nos de Akos, a narrativa é em terceira pessoa. Não há nenhum motivo justificável para isso, uma vez que o foco da ação nos capítulos de Akos, se concentram todos nele. A menos que a autora pretenda matá-lo no futuro, por isso ele não conta sua própria história. Não sei se isso é verdade, então não encarem como um spoiler, mas foi a única explicação lógica para a mudança de narrativa.
Acredito que o prazer na leitura de CRAVE A MARCA dependa de com qual expectativa você irá ler. Ser você for fã de Young Adult, de romances, de distopias leves, conseguirá apreciar a história. Agora, se você for fã de ficção-científica, de fantasia, de STAR WARS, não irá conseguir apreciar, como eu não consegui.
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