Fernanda | @psiuvemler 05/05/2017Meio Mundo, Mar Despedaçado #2 | Blog Psiu, vem ler!No primeiro volume da série, Meio Rei, nosso principal protagonista é Yarvi, um garoto que possuía uma das mãos defeituosa e que, por isso, sempre foi vítima de preconceitos e visto como fraco diante de todos. Yarvi era o próximo na linha de sucessão do Trono, mas seu desejo sempre foi tornar-se ministro. E diante de todas as dificuldades, ele renunciou o posto de príncipe – o que, para muitos, foi um alívio – e virou o pai Yarvi, ministro do rei de Gettland. Meio Rei é apenas a introdução de uma batalha que ainda nem começou.
Em Meio Mundo, segundo volume de Mar Despedaçado, nós temos novos personagens, novas histórias a serem descobertas e o início da preparação para a guerra que se aproxima. Nesse livro, Yarvi já é um homem sábio, que entende que Gettland precisa de aliados para combater o Rei Supremo e é por isso que realiza uma viagem para além do Mar Despedaçado enfrentando grandes perigos e ameaças com uma tripulação bem improvável formada por remadores, matadores, novos e velhos amigos, entre eles Thorn e Brand, a fim de conquistar alianças o mais rápido possível.
O que diz a sinopse é mais do que verdade, Thorn não tem nenhuma semelhança com as outras garotas de sua idade. Ela não é delicada, não preza tanto pela beleza e não sonha em se casar apenas para carregar uma chave. Mas é isso que a faz tão especial. O sonho de Thorn é tornar-se guerreira do rei, mas, em uma sociedade completamente machista, ela vai ter que enfrentar muita coisa.
E uma delas acontece no quadrado de treinos, onde é visto quem tem capacidade para lutar e quem não. Em um dos treinos, mestre Hunnan acaba colocando três oponentes para lutar contra ela – que, a propósito, era a única garota no grupo – e, no desespero, acaba matando um deles. Thorn então é julgada como assassina pelo homem que devia prepara-la para guerras e é condenada ao apedrejamento.
Brand é o completo oposto da maioria dos personagens que estão focados em ir para a guerra. Essa também é sua meta, mas seu principal objetivo está em vencer e conseguir a recompensa para sustentar a si e a sua irmã. Ele sempre foi um garoto bom e generoso e, ao crescer, tornou-se um homem incrível, que tentava sempre manter-se na luz – este era o único pedido de sua mãe antes de morrer. Mas Brand viu todas as injustiças cometidas contra Thorn e foi pessoalmente avisar pai Yarvi. Alguns considerariam um grande erro, pois o mestre descobriu e fez questão de acabar com todas as chances do rapaz de ser um guerreiro.
Diante de todos esses acontecimentos, que pareciam levar tudo ao fundo do poço, as histórias de nossos personagens vão sendo traçadas. Por conta de Brand, pai Yarvi resolve intervir na vida de Thorn, a resgatando para fazer parte de sua tripulação. Thorn indica Brand como sendo um dos melhores lutadores do quadrado e, junto com diversos outros, esse trio parte pelo Mar Despedaçado, criando alianças, fazendo inimigos, sofrendo e, principalmente, matando.
Genteeeee! Se eu achei que Meio Rei era um ótimo livro, nem sei o que comentar sobre Meio Mundo. Quando comecei a ler, não fazia ideia do que me aguardava. Fiquei até nervosa por não saber quem era Thorn, pois achei que havia esquecido tudo o que aconteceu no volume anterior, hahah. Mas essa obra é daquelas que dá vontade de ler e reler e reler, porque sempre vai ter um detalhe diferente que vai chamar ainda mais a atenção do leitor.
O autor conseguiu me prender completamente durante a leitura, tanto que quando estava lendo, não lembrava de fazer outras coisas e, quando precisava largar o livro, só pensava na história. Todos os personagens são cativantes, até os inimigos, pois todos foram criados de maneira impecável. Pai Yarvi está apaixonante. Em Meio Mundo, o ministro precisou usar de toda sua sabedoria e estratégia para tentar sempre estar um passo á frente do adversário – o que nem sempre era possível.
Thorn e Brand estão entre os mais fascinantes, cada um com suas características e peculiaridades beeem diferentes. Se Brand tentava sempre manter-se na luz, sempre buscando a paz em um mundo de guerras, Thorn era a verdadeira morte em pessoa. Ela batalhou muito para chegar onde chegou. Enquanto todos riam por ela ser uma mulher tentando ocupar o cargo de homens, a garota treinava arduamente com a feiticeira Skifr, que foi incumbida da tarefa de torna-la mortal. Se Thorn levou um soco que a deixou no chão, ela levantou-se e desferiu dois contra o oponente. São várias as citações que mostram sua garra e determinação.
Eu sei que a resenha já está enorme, mas simplesmente não consigo falar pouco sobre uma obra que tanto significou para mim. De uma maneira bem direta, Joe Abercrombie introduziu em sua fantasia um dos temas que mais tem gerado discussões na atualidade: a desigualdade entre homens e mulheres nas mais diversas situações.
Muitos queriam colocar Thorn para baixo, dizendo que ela devia estar costurando ou cozinhando ao invés de fazer parte de uma tripulação. E, de fato, muitas vezes somos induzidos a acreditar que esse cenário de guerras pertence apenas aos homens por estes serem “mais fortes”. Thorn treinou e batalhou e acabou sendo melhor que muitos, inclusive mestre Hunnan, que foi quem desencadeou tudo. Cresceu e conquistou coisas que nenhum deles foi capaz de conquistar enquanto estavam sentados, rindo de seus objetivos.
Mas nem todos estiveram debochando dela. Sua tripulação, apesar de no início não acreditar no que estava acontecendo, deu cada vez mais apoio à garota. Eles acompanharam todo o processo de treinamento de Thorn e Skifr, a viram cair, mas também contemplaram sua ascensão. Puderam sentir na pele que ela não estava lá para brincar e não dava nenhuma importância aos que não acreditavam nela. Thorn conquistou respeito, fez amigos e deu lugar até a uma paixão que aflorou no navio – coisa que nunca pensou que aconteceria com ela.
Enfim, não sei se todos leram até aqui, hahah. Mas, se sim, espero que você tenha entendido pelo menos um pouco de tudo o que essa série tem a oferecer. Para quem souber interpretar, Joe tem uma grande mensagem para passar a cada um de seus leitores. Eu falei bastante de Thorn porque, para mim, foi o ponto mais forte do enredo, mas todos os personagens tiveram grande importância. A presença de Brand foi vital para que Thorn se permitisse ser uma pessoa melhor e, junto com todos os outros, eles foram aprendendo e achando seu lugar no mundo.
Nem preciso falar que o trabalho da Editora Arqueiro ficou um espetáculo, né? Essa capa representa tudo o que é apresentado no enredo. Os capítulos são nomeados e não numerados e sempre tenho medo quando é assim, porque se o título não for bem elaborado, pode entregar toda a história. Já passei muito por isso, infelizmente. Mas a cada título que eu lia, ficava ainda mais ansiosa para continuar lendo. Ainda não sem bem o que fazer agora que a história acabou a não ser esperar a continuação.
* Fotos e citações no blog Psiu, vem ler!
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