declanerys 16/01/2024
Lembra que tudo pode dar errado
É o segundo livro da Ottessa Moshfegh que leio e pela segunda vez fico espantado com a forma como ela consegue criar personagens tão moralmente ambíguos ao mesmo tempo que constrói uma narrativa tão intrigante, instigante, que vai levando a gente por um caminho que nunca pensou que fosse capaz de seguir. Algo sobre o uso do fluxo de consciência tão bem colocado na sua obra ? que faz com que ela se torne tão introspectiva e interpessoal ? me deixa completamente extasiado. É um estudo de personagem, é como viver na cabeça dele, explorando cada cavidade e cada milímetro de toda perversidade, maldade, aquilo que a gente geralmente esconde debaixo do tapete. Os tais pensamentos intrusivos, que a Eileen tanto tem o tempo todo. Dizer que fico atraído pela literatura da Ottessa seria um erro; a gente geralmente se atrai pelo bonito, o colorido, aquilo que é convencionalmente atraente. Mas toda a impureza e a feiúra, o caráter quase escatológico dos devaneios da personagem principal ? tudo isso choca de início. É por isso, me atrai. E ainda a forma como ela explora uma família disfuncional, os dramas internos, tudo é muito inteligente e nada polido, é uma literatura bastante crua. Eu gostei muito, muito, muito e muito.