Rafael 06/06/2017
A psicologia cultural é a chave para a compreensão sociológica
No título, o livro de Meira Penna já parece bem sugestivo: a tentativa de descrever o modo de pensar, de certo psicologismo da população brasileira. Ir atrás das origens e tentar desvendar os meandros desta mentalidade de que revela, em grande parte, um certo consenso das características nacionais. Para o bem, ou para o mal, esse é o Brasil pintado por Penna, o nosso erudito ex-embaixador, um dos grandes pensadores que compreendeu o Brasil como poucos.
No prefácio, Roberto Campos, ex-embaixador e amigo de Meira Penna já sintetiza numa única frase a tese central do autor: “A psicologia cultural é para ele a chave da compreensão sociológica”. Então é a partir de bases psicológicas de autores como Jung, Freud, Gustave Le Bom, o qual Penna vai traçar um perfil em que revela a sociologia na prática cotidiana do brasileiro, ou seja: seus hábitos individuais e coletivos enquanto sociedade.
Penna além de ser um grande estudioso de temas ligados ao país, foi embaixador em outros: da Europa ocidental, da Ásia; esteve, portanto, muitos anos fora, de modo com que sua análise tenha mais credibilidade pela comparação real e concreta com outras nacionalidades.
A tese central em que Penna se debruça no campo psicológico é a oposição entre a dita “sociedade erótica” e a “sociedade devoradora”. Os vários tópicos do livro estão alicerçados neste conceito. A sociedade erótica tende ao personalismo, à afetividade, ao irracionalismo, enquanto a “sociedade devoradora” é mais racional, metodológica, é, assim, mais inclinada à sociedade industrial.
Segundo Penna, a população do país é mais voltada à “sociedade erótica”, mais personalista, afetiva, de matriz ibérica, de modo que o modelo nacional advindo desta mentalidade carece no avanço. O Brasil encontra obstáculos para lidar com o mundo moderno, em obedecer a letra da lei – seja no cotidiano – seja no trabalho; de pensar na vida de forma mais racionalista, que auxilie a própria população no dia a dia, ao invés do personalismo tão comum. Exemplos não faltam, como a família mais pobre que ainda continua a ter mais filhos; de resolver os problemas com o rigor do jeitinho brasileiro; de não poupar e ficar endividado, ou seja: lidar com a própria vida de modo muitas vezes irracional. Além do país carecer de um planejamento à longo prazo, em suas diversas áreas: como a educação, a saúde, a segurança. Eis o reflexo desta mentalidade.
O país, portanto, vive numa ocilação entre o mundo arcaico e o mundo moderno, somos na verdade a periferia da civilização ocidental, mesmo não querendo sê-la, mas também não criando instrumentos para mudá-la. Queremos avançar sem conhecer as nossas matrizes culturais, sobretudo, sem muito esforço para com este futuro longínquo. Olhamos o desenvolvimento em outras localidades, mas não racionalizamos os próximos passos. Assim continuaremos a ser o eterno “O país do futuro”, quiça exaltando os nossos piores defeitos.