Etimologia de Termos Psicanalíticos

Etimologia de Termos Psicanalíticos David E. Zimerman




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Cristian 30/09/2018

Bom psicanalista, ótimo professor, mal filólogo
Fiquei com um "gosto ambíguo" com relação a esse livro. Admiro o trabalho do Zimerman, é preciso dizer. Entretanto, pra quem já estudou latim e grego, algumas "opções" de derivação etimológica é de doer. Não entendo por que um autor da envergadura dele não deu mais atenção a esses "detalhes"; afinal, com a rede de conhecidos dele, poderia ter encontrado uma parceria de algum filólogo ou um linguista. O livro, no quesito a esclarecer termos psicanalíticos não é ruim, longe disso. Entretanto, ao mesmo passo que ele esclarece de maneira didática vários termos da constelação conceitual psicanalítica, o autor extrai derivações etimológicas à lá Isidóro de Sevilha.

Isidoro, bispo de Sevilha entre 600 e 636, foi um grande elo de transmissão cultural dos clássicos; porém, sua obra "Etimologias", foi responssável por fornecer supostas etimologias de modo impressionista e sem o conhecimento filológico necessário. A desculpa que damos para ele é que ele desconhecia as ferramentas filológicas de que dispomos e ainda que ele tinha uma intenção filosófica por trás. Mas, hoje, nós nos basearmos em suas etimologias é no mínimo temerário quando nos propomos uma obra de esclarecimentos de conceitos, como a que Zimerman propõe.

Por exemplo: "Despeito", para o autor, é privação (des) + peito, alma (pectus) e daí que o despeitado é alguém que ficou sem o peito provedor da mãe, surgindo sentimentos invejosos... Em várias definições, o autor, parece escolher que o "de" latino tem unicamente o sentido de privação. Despeito, do latim despectar, tem a raiz spectare que significa olhar. O "de" prefixal dá o sentido direcional de cima para baixo, isto é, despeito é o sentimento que vem acompanhado daquele costumeiro olhar de desprezo. O autor não nega o que expus, mas opta por uma interpretação algo tipo "livre-associação". Temos ainda "Mulher" com a etimologia "mulier" que viria de "mollis" significando "mole" porque as mulheres têm coração mole, são mais frágeis. Além de errada essa etimologia, demonstra uma concepção de "natureza da mulher" inaceitável atualmente. Na mesma direção, teria "fêmea" que vem do latim "femina" significando mulher, mas Isidoro diz que "femina" é "fides minus", i.e., "menos fé", porque as mulheres teriam menos fé que os homens.

Os dois exemplos que mostrei são alguns dos que encontrei, havendo outros igualmente contestáveis. Reforço que, no que tange ao trabalho de definições psicanalíticas de termos, o livro é ótimo. Minha ressalva e até mesmo crítica é quanto ao autor emendar etimologias descuidadas.
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