Antonio 01/08/2015
Eurípedes vingado
Não há dúvidas de que o dia a dia dos pesquisadores do Instituto Galilei e sua busca por desvendar o mistério do Bispo Vermelho e de sua villa piemontesa, criados por Isaias Pessotti, brindam ao leitor diversos momentos de reflexão e deleite.
Presentes em Aqueles cães malditos de Arquelau, o debate sobre a genialidade, o não paralelismo entre o caminho da ciência e o do conhecimento, a questão da hybris, ou a associação da paixão com a identificação, por um lado, e experiências sensoriais despertadas por saborosas refeições, a observação de vitrais, beijos sob a luz de uma luminária de alabastro ou o insistente ruído do sino de uma igreja, por outro, conspiram para provocar-nos uma experiência ora inquietante, ora confortadora. Arte, comentar-se-ia.
No entanto, perpassam toda a obra duas incômodas sensações: a primeira de que a literatura, nela, é apenas pretexto... de que a literatura, aqui, está a serviço de algo; e, a segunda, de que Virgílio, Eurípedes, faisões e gattinaras talvez tenham se prestado mais para uma masturbação intelectual e gastronômica do autor do que para o elogio ao erudito.
Trecho do livro:
“Não há adjetivos dignos dos pratos que Giulio e Lisa dispunham sobre a mesa. Eram dois faisões inteiros, dourados, sobre o molho de vinho branco, manteiga e cebola ralada, com o perfume suave e contido do alecrim fresco. Como Giulio tinha descrito.” (pp. 35 e 36)
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