Daniel Rolim 25/05/2017
Uma esquerda mais inteligente, mas....
Piketty é o economista da moda entre a esquerda européia, e faz jus à sua fama escrevendo com elegância, fazendo propostas que à primeira vista parecem coerentes, sendo ponderado, lúcido e didático, diferentemente da maioria irritante da sua ala.
Todavia, com a essência do seu pensamento eu não posso concordar. E talvez seja uma questão de ponto de vista, pois valorizo mais a liberdade e a prosperidade do que a igualdade (de resultados, não a de oportunidades).
Para Piketty, o que vale em última instância é uma sociedade engessada, igualada em rendimentos, com um Estado gigante, uma babá sufocante que interfere de todas as maneiras na vida de seus cidadãos (ou súditos?).
Soa contraditório ou ingênuo o seu clamor por mais direitos sociais, ao mesmo tempo em que critica ferozmente todos os governantes, de esquerda, centro ou de direita (menos os de esquerda que os outros). Ora, o autor devia saber que quanto maior o governo, mais ineficiente ele fica, e essa ineficiência acarreta perda de legitimidade dos governantes e descrença na classe política por partes dos cidadãos. É um círculo vicioso...
Ainda, mesmo concordando com sua proposta de um imposto de renda realmente progressivo (desde que não seja alto o suficiente para matar o empreendedorismo, nem baixo para fortalecer os rentistas), não consigo acreditar que um economista ache que para o cálculo de dito imposto se devam deduzir as dívidas da parte tributada. Quer dizer que temos que premiar o endividamento em detrimento da poupança e do investimento?
Talvez o que eu disse pareça arrogante e insensível, e faça pensarem que sou contra programas de transferência de rendas dos mais ricos aos mais necessitados (sou a favor, desde que não gere dependência e desmotive o trabalho),mas é pelo cansaço de digladiar sempre contra as mesmas ideias que não funcionam, as mesmas revoltas sem sentido dos jovens contra o "sistema", os mesmos sonhos impossíveis de serem realizados.
A sociedade ocidental, tirando os males que produziu, só enriqueceu e ultrapassou o resto do mundo através do comércio, da livre iniciativa, da inovação e dos freios impostos aos seus governantes. Somente a liberdade dada aos indivíduos (tendo estes as mesmas oportunidades) tira deles suas melhores qualidades, incentiva o esforço,a competição, a inventividade. Esta, somada ao livre intercâmbio de ideias, bens e serviços, gera a riqueza que temos hoje. E sem riqueza, nem o socialista mais convicto vai se levar a sério.