O complexo de Portnoy

O complexo de Portnoy Philip Roth




Resenhas - O Complexo de Portnoy


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Bookster Pedro Pacifico 20/04/2020

“O complexo de Portnoy”, de Philip Roth - Nota 7,5/10
Polêmica. A leitura de uma das obras mais conhecidas de Philip Roth deixa nítida a intenção do autor em causar um incômodo no leitor, se valendo da temática da masturbação e dos conflitos familiares como objeto central das angústias e insatisfações do personagem principal. E se isso causa um pouco de estranheza hoje em dia, é difícil imaginar o impacto que teve na sua publicação, ocorrida em 1969.

O livro é construído a partir dos pensamentos e diálogos de um bem-sucedido advogado de Nova York com o seu psicanalista. Revivendo passagens de sua infância e juventude em uma família tradicional judia, Alex Portnoy vai tentando identificar quais as origens de seus “problemas”. É uma enxurrada de reclamações do paciente sobre a relação extremamente protetiva e asfixiante com sua mãe, em paralelo com sua fase de formação sexual e de descoberta do próprio corpo… uma verdadeira fixação do personagem principal com esses temas, que fazem dele um narrador bem “chato". Além disso, os questionamentos envolvendo a religião de Alex Portnoy também aparecem com bastante frequência na leitura.

E a forma como Roth apresenta o fluxo de pensamentos do personagem é carregada de um humor ácido e satírico. A escrita não tem muito filtro e o autor não se preocupa em agradar o velho - e ultrapassado - conceito da “moral e bons costumes”. Mas, por outro lado, o comportamento de Alex Portnoy extrapola limites e se choca com machismo e racismo. •
Apesar de enfrentar temas polêmicos e tabus de forma cômica e inteligente, achei a leitura um pouco cansativa. O livro parecer ir e vir sem muito destino. Essa pode até ter sido a intenção do autor, criar uma narrativa não linear, mas para mim acabou não funcionando muito bem. Não cheguei a cogitar abandonar a leitura, apesar de arrastada, e terminei o livro com vontade de ler outras obras do autor. Até então, só havia lido “A humilhação”, que posso dizer que me agradou mais do que “O complexo de Portnoy”.

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joaoggur 06/12/2023

?Tudo que é obsceno me agrada!?, Abujamra.
??Meu caro Portnoy?, disse ela, levantando a mochila do chão, ?você não passa de um judeu que odeia a si próprio.??

Ralhe o quanto quiser; é inegável que O Complexo de Portnoy é um livro inesquecível. A grande questão é se a lembrança é positiva ou negativa.

Este é aquele tipo de livro que concluímos sem palavras. Indubitavelmente é uma obra bem escrita; os sentimentos que sentimos ao lê-la não são nada efêmeros. Phillip Roth tem a exímia habilidade de chocar o leitor, de criar situações cada vez mais intensas que, por sua vez, cada vez mais aterrorizam aqueles que o leem (a cena ?do Fígado?, ou a cena ?da lâmpada?, ou sua perda da virgindade, tal como a cena final mandam lembranças), cada vez deixando-os deixam mais enojados.

E talvez o nojo seja o ponto mais baixo da obra. E me refiro ao nojo que sentimos por Alexander Portnoy, o narrador-personagem. A perspectiva vitimista adotada nas primeiras páginas (o autoritarismo de sua mãe, as relações em um bar Judeu, - aliás, uma ?judaica autodepreciação? bem forçada. Woody Allen e Adam Sandler [ADAM SANDLER!!!] fazem um papel melhor.) é rapidamente substituída por uma completa aversão ao personagem principal (e, ouso dizer que apenas acompanhamos a história até o final pelos momentos inusitados e engraçados; um humor um pouco grego, se é que me entendem. E tenho de admitir; mesmo tendo o odiado, houve momentos em que GARGALHEI. E isso não me fez simpatizar com o supracitado). Odiei sua relação com sua namorada, Macaca (a vouyerista que come banana, me perdoem o spoiler). Odiei suas opiniões, suas ideias e crenças, e posso dizer com propriedade que, dentre tantos personagens que ?conheci? ao longo de minha pequena existência, com certeza Portnoy foi um dos que mais odiei.

Outra crítica se dá a questão estilica. A habilidade de Roth de criar conflitos suplicantes ao leitor (coisa que aplaudo; não é porque uma obra nos faz mal que deve ser automaticamente reprimida, uma ideia que repilo veementemente), cai por água a baixo quando o assunto é desenvolvido de trama. A história, sendo narrada como uma carta de Portnoy a seu psicanalista, está cheia de fluxos de consciência desnecessários (há momentos em que há diálogos ?inexistentes?, ou melhor, apenas existentes na cabeça do narrador), e não ?desnecessários? em viés de utilidade, mas sim pelo cansaço que tais momentos dão ao leitor. Tal como creio que a obsessão que Portnoy tem pela causa Judaica mais atrapalha do que dignifica a obra, - a partir do pressuposto que não nos afeiçoamos com o personagem, seus reais ?ensaios? sobre a causa judaica são praticamente extraviados do caminho de nossa análise (em suma, o fato do personagem ser babaca com mulheres, tudo e todos, de mesmo tendo ?um Q.I. de 158? ser um completo idiota, já nos faz crer em sua deficiência moral, e, partindo daí, descartando qualquer profundidade que tais pensamentos podem ter).

O tamanho de uma resenha diz muito sobre um livro. Por horas maçante, outras hilariantes; admito que meu primeiro contato com Phillip Roth não fora tão bom, - mas vai de cada um.
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Thales 25/08/2021

A grande piada de judeu
(Não recomendada para menores e tias do zap)

"O complexo de Portnoy" foi uma obra definidora da carreira do Roth. Lançada com um projeto publicitário primoroso em 1969, no bojo dos acontecimentos de 1968, causou um rebuliço tremendo por ser tudo aquilo que, em tese, representava o avanço das expressões de sexualidade e das relações humanas como um todo: nada mais do que as memórias eróticas de um sujeito libertino contadas de forma crua e objetiva.

BEM crua e BEM objetiva, afinal estamos numa sessão de psicanálise.

O autor acabou ficando muito marcado por isso, pegou a pecha de "maldito" pela crítica por um tempo, e demorou a recolocar a carreira no eixo.

E de fato talvez o grande "problema" do livro nem sejam as experiências sexuais do Alex Portnoy ou o fato de "boceta" aparecer a cada vírgula a partir da metade do texto; mal ou bem são situações com as quais fomos nos acostumando na literatura ao longo do tempo e que já são buscadas por um certo público, sobretudo masculino, que está sempre em busca de uma putaria literária. A questão é que o "Complexo" investiga e explora os motivos que fizeram Alex ser assim: a masturbação na adolescência, como e por que ele desenvolveu uma compulsão pelo autoerotismo, qual o papel dos pais - sobretudo da mãe nisso -, quais as cenas grotescas o moldaram. Fantasmas que assombram rigorosamente todo mundo, mas que preferimos deixar guardadinhos na gaveta do subconsciente e fingir que nada disso nos afeta; quando muito levamos pro consultório de um psicólogo.

Ou, justamente, de um psicanalista. Como Alex Portnoy.

E não vou mentir, tem muita coisa grotesca sim. "Sexo" com alimentos? Tem. Sêmen voando pra todo lado, inclusive na cara do Alex - e de outras pessoas? Tem. Situações rocambolescas com prostitutas? Tem. E tudo isso é contado da forma mais sincera e despudorada possível? Sim.

Mas nada disso é gratuito. É a investigação profunda de porque raios um judeu de classe média, com uma família estruturadinha, que tinha sonhos de formar a sua própria, ter filhos, acaba como um sujeito simplesmente incapaz de desenvolver qualquer vínculo significativo por sua compulsão por sexo - coisa que pra ele nem é tão significativa assim. E aí não tem jeito, tem que explorar as situações a fundo mesmo, sem rodeios.

Mas importante salientar: "O complexo de Portnoy" não tem ABSOLUTAMENTE nada de turrão, de acadêmico, psicanalítico ou o que for. Embora debata neuroses, religião, racismo e o diabo a quatro é ridiculamente engraçado; algumas passagens te fazem perder o ar de tanto rir. A linguagem é a mais simples possível e, embora seja um monólogo, a leitura simplesmente te empurra pra frente.

Livro brilhante, de um escritor brilhante. A rapaziada costuma preferir a fase "americana" do Roth, dos anos 90, ou "O teatro de Sabbath" - que parece beber na fonte do "Complexo" -, e eu tenho vontade de ler isso tudo. Mas acho muito, MUITO difícil que um livro me cative mais que esse aqui.
Carolina.Gomes 25/08/2021minha estante
?


Archie 26/08/2021minha estante
me ganhou demais com essa resenha sensacional


Thales 26/08/2021minha estante
Valeu, Archie! Esse de fato é um livraço




Bárbara Matsuda 15/07/2022

Típico humor judeu autodepreciativo a la Woody Allen, dei risada em várias partes. O personagem fica constantemente pensando em cenários catastróficos, estampamos em manchetes nos jornais.

Alex Portnoy tem anseios sexuais extremos e compulsão pelo onanismo (palavra bonita pra designar punheta kkk). Ao mesmo tempo, entram em conflito os sentimentos de repressão e vergonha.

O personagem se dá conta de como esses sintomas estão vinculado a criação que teve, com uma mãe demasiadamente preocupada e exigente, um pai submisso vendedor de seguros com prisão de ventre + suas raízes judaicas que acabam refletindo nele em um lugar de inadequação, autocobrança e muita culpa.

O livro é escrito como se ele estivesse fazendo as confissões a um terapeuta, então caminha em livres associações. Várias ligas com as ideias freudianas, como o Complexo de Édipo e o medo da castração. (less)
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Lisiane.Dutra 05/01/2021

Divertido
O narrador está em uma sessão de análise contando sua vida em associação livre. O final é sensacional!
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Phelipe Guilherme Maciel 23/05/2018

Devastado com a morte de Philip Roth, decido falar sobre o seu livro que mais me mudou.
Complexo de Portnoy foi o primeiro livro que li de Philip Roth. À Época, não fiz resenha sobre ele. O principal motivo é que por trás de seu ambiente sarcástico, esse livro dá vários socos no estômago de quem o lê, e é muito difícil de digerir. Hoje, sabendo do falecimento de Philip Roth, me senti na obrigação de resenhar um de seus livros que mudou minha vida e minha forma de ler.
Em Complexo de Portnoy, lançado em 1969, elevou Roth à categoria de grande escritor, pois o livro passou de forma explícita temas muito difíceis de serem abordados e considerados tabu, principalmente a masturbação, os relacionamentos sem compromissos, além de falar muito sobre a situação da comunidade judaica nos EUA. A mensagem que ele quis passar ainda é muito atual. O livro se passa como se fosse uma espécie de várias sessões psicanalíticas.

Em toda obra de Roth, a questão judaica é muito forte. A tentativa de adaptação de um local onde ele não se sente pertencente. Sempre veremos homens judeus americanos, que vivem uma cultura judaica muito forte, seja influenciado pela comunidade ou pelos pais e avós, e se deparam com um mundo totalmente diferente, sem saber onde se encaixar, como se pertencer.
Nesse livro, a tentativa de se encaixar no mundo, Alexander Portnoy utiliza-se da questão sexual. Ele gostava principalmente de se relacionar com mulheres não judias, para se sentir como um não judeu.
A cultura costumeira naquele tempo era que o judeu sempre se apresentava como pessoas bem sucedidas, bem definidas, onde tudo está dando certo nesse novo mundo pós horror do holocausto. Roth sempre caminhou no fluxo inverso, mostrando que não: Os judeus tinham problemas, o antissemitismo era real, os judeus não conseguiam se definir no novo mundo que estavam.
Devemos esperar muitas cenas escatológicas no livro, como por exemplo, o rapaz se masturbando com a comida da família, passando horas no banheiro se masturbando, além de muitos problemas familiares.
O livro é escrito por um narrador não muito confiável, então devemos ter cuidado com algumas informações jogadas no livro.
Esse jovem masturbador se transforma num adulto devasso. Nessa nova parte do livro, ele já trabalhando, e tentando ter uma vida normal, ele apresenta seu lado desesperado de tentar casar e ter uma vida normal com toda mulher que conhece.
O texto é bastante verborrágico, repetitivo, e apresenta um personagem detestável. O pior ser humano que Roth conseguiu imaginar, nas palavras dele próprio. O livro praticamente não tem diálogos, é sempre ele contando sua vida ao seu psiquiatra, ou sua mente. O livro é realmente como se você estivesse vendo um ser humano liberando todas suas feras, todos seus medos, todas suas angústias, por piores que fossem, sem esperar qualquer tipo de aprovação da parte de quem lê. A pior parte disso tudo, é que se você se despir e olhar no espelho, e tentar verificar por trás do seu corpo, na sua alma, verá que não é de forma nenhuma tão diferente assim de Portnoy. Por isso foi tão perturbador.

A partir desse livro sua obra começou a ser pormenorizadamente estudada, e ele se tornou o grande escritor que conhecemos hoje. O livro é tão aberto, tão pevertido, tão descompromissado com o humor de quem lê, que se torna um grande petardo na rocha do conservadorismo. Ainda mais nos anos 60, onde a liberação sexual, a liberação de costumes, a era hippie, ainda estavam amadurecendo.

Se você nunca leu Philip Roth, este é um bom momento para começar.
Luiz Miranda 23/05/2018minha estante
Se bobear é o maior escritor americano da história


Phelipe Guilherme Maciel 23/05/2018minha estante
Com certeza Israel. A competição é árdua, mas eu colocaria ele fácil fácil nesse confronto pelo título. Roth fez críticas profundas em seus livros e sempre foi muito coerente. Uma injustiça ter partido sem o Nobel. Assim como Umberto Eco, Jorge Amado e tantos outros gênios preteridos...


Márcio_MX 23/05/2018minha estante
Pois para mim "A Marca Humana" ainda é o melhor de todos seguido de "Pastoral Americana".
Marca Humana é foda!


Phelipe Guilherme Maciel 23/05/2018minha estante
Marcio, Tenho ainda 3 livros em casa do Roth aguardando leitura: "A Marca Humana", "O Professor do Desejo" e "A Humilhação"... Pastoral Americana eu já li excertos, preciso ler completo. Pela sua indicação, então lerei primeiro o "A Marca Humana". :D


Márcio_MX 23/05/2018minha estante
Phelipe, não vai se arrepender é sensacional. Vários temas abordados naquela forma narrativa crua, verdadeira e original de Roth. Além das surpresas e reviravoltas na história.


Craotchky 23/05/2018minha estante
Tentei ler, certa vez, O professor do desejo e abandonei, talvez não fosse o momento. Depois dessa resenha vou procurar dar mais uma chance, coisa que reluto em fazer. Nunca dei segunda chance para Cornwell, Bradbury e Sidney Sheldon, Neil Gaiman...


Phelipe Guilherme Maciel 23/05/2018minha estante
Filipe, dessa sua lista, dê uma segunda chance ao Neil Gaiman e ao Roth. Bradbury está na minha lista pessoal de urgências para ser lido, Cornwell eu não tive tanto interesse de ler ainda, apesar de ser assediado com a quantidade de resenhas e atualizações dos colegas de seus livros, e o Sidney Sheldon, bem... Eu dei várias chances, li uns 4 ou 4 livros, e decidi que ele é só um escritor OK, mas de muito sucesso, na minha humilde opinião.


Márcio_MX 23/05/2018minha estante
Sidney Sheldon foi muito legal em minha adolescência. Pelos livros e pelo seriado Jeannie é um Gênio. Hoje não teria paciência para ele.

Neil Gaiman só vale por Sandman, seus livros são só ok.

Bradbury é muito bom! Têm que gostar de ficção científica, mas ele coloca uma certa carga de psicologia também. Lembrando que foi um dos precursores no tema, então tem se colocar no tempo dele.

Cornwell, gostaria de ler, porém tem que ter tempo para suas séries infinitas e tempo é algo que não tenho agora, rsrsrs.


Phelipe Guilherme Maciel 23/05/2018minha estante
É isso mesmo, Márcio. Eu acho que deve ser legal ler Cornwell... Ai você vê que tudo que ele escreve é em formato de trilogias (ou mais), e com os universos se interligando... Ai cansa antes de começar. haha

Concordo com suas observações todas.


Márcio_MX 23/05/2018minha estante
Apenas um complemento sobre Bradbury: "...mas ele coloca uma certa carga de psicologia também". Filosófica principalmente.


Luiz Miranda 23/05/2018minha estante
Do Cornwell eu li o primeiro da trilogia Artur. Olha, é um livro muito bom, você percebe claramente uma qualidade acima da média dos best sellers, mas nem por isso eu vou me forçar a ler as dezenas de livros dele.


Marcelo Caniato 03/08/2018minha estante
Também foi o primeiro livro que li do Philip Roth. Gostei do livro, principalmente da forma como o autor te coloca na posição do psicanalista, embora tenha achado realmente a segunda metade um pouco cansativa.


Lindenberg 17/03/2020minha estante
Vou ler. ;)




Fernanda.Navarro 27/06/2021

Interessante
O estilo da escrita do autor foi uma experiência diferente. É um livro pesado, bem doido. Não foi da minhas melhores leituras porque demorei um pouco para engatar. Mesmo assim recomendo pra pessoas que gostam de livros mais explícitos.
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José Amorim 10/06/2020

Polêmico, sagaz, subversivo
Se você não gosta de se chocar, não deveria ler esse livro. É um livro que trata de basicamente um monólogo, em que o narrador fala com seu terapeuta sobre tudo o que o perturba. Na condição de judeu, ele faz críticas ferrenhas à sua religião, às relações com seus pais, à sociedade hipócrita que o irrita constantemente, às mulheres com que ele se relacionou.
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Paty 08/12/2014

Há bastante tempo não lia algo tão intrinsecamente divertido e bom ao mesmo tempo. é um exemplo do mais refinado senso de humor. O ritmo da história é perfeito, e a habilidade de Roth para contá-la como se realmente existisse um Alex Portnoy e ele estivesse abrindo seu coração é desconcertante de tão boa.
Leiam.
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Rick-a-book 14/08/2011

O melhor caso que nem Freud resolveria

1969. Quem diria que esta bíblia da mentalidade judaica, acrescida de uma potente dose de sexualidade, beirando a pornografia, poderia ter sido composta em fins dos anos 60. A verdade é que, o livro é tão atual e trata de temas tão cotidianos de uma forma tão vívida que passa a impressão de que foi escrito na noite de ontem.

Alexander Portnoy, o herói retratado, é um bem-sucedido advogado da cidade de Nova Yorque sentado o divã de seu analista, contando sua história. Todos seus temores, experiências dignas de serem relatadas e problemas ditos sem solução nos são expostos em duzentas e cinqüentas páginas do melhor e mais efetivo bom humor.

Portnoy vive numa eterna contradição consigo mesmo. Possui fortes impulsos étnicos – amor e orgulho judeu –, desejos sexuais extremos que surgem de maneira pervertida, mas que fazem com que ele desenvolva um forte sentimento de culpa. Seu caráter devasso faz dele uma peça sem utilidade num ambiente de repressão em alta escala – os estados unidos do auge da revolução social e sexual – um inválido numa terra de gente que precisa parecer sadia de corpo e alma.

A narração superfluida de Roth nos embala, nos comove e, principalmente, nos faz rir com o monólogo lamentoso e hilário do personagem principal, com suas desventuras em sua vida cheia de acontecimentos, encontros e experiências que ele mesmo falha em perceber que teve.

A obra fala de um advogado judeu americano dos anos 60. Muito bem. Porém, após a leitura desta obra olhe-se no espelho e veja em si mesmo, cobrindo seu rosto como uma máscara, a face de Portnoy. Afinal de contas, não somos assim tão diferentes.

Altamente recomendado.
Filipe 14/08/2011minha estante
Portnoy rules. Bela resenha!




AleixoItalo 28/11/2020

Em Pastoral Americana vemos como Roth implode uma típica família norteamericana perfeita, afundada em suas próprias expectativas. Algo semelhante ocorre em O Complexo de Portnoy, onde o objeto de estudo é um típico homem bem sucedido, escravo de seus traumas e perversões.

A trama acompanha Alexander Portnoy, de origem judaica, que vai de uma típica criança prodígio com futuro promissor até uma carreira bem sucedida, no divã de seu analista reclamando e botando pra fora todo seu ódio contra o mundo.

Machismo, erotismo e um ódio declarado contra os modelos ideais da sociedade são temas recorrentes em seus livros. Aqui Portnoy verte toda sua fúria contra a cultura judaica na qual foi criado, sua incapacidade de relacionar com não judeus (as shikses especificamente), suas perversões e sua agonia na incapacidade de ser uma criança normal.

Talvez a mensagem principal é mostrar como eventos aparentemente obsoletos do passado podem marcar para sempre a vida de uma pessoa. Fanatismo religioso, hipocrisia, preconceito e a superproteção da família (em especial sua mãe) marcam para sempre o que viria a ser Portnoy.

Mais do que isso, Portnoy escreve sobre o mundo masculino, não de uma maneira nobre, mas de modo atroz, sobre como a luxúria pode nos condenar e corroer por dentro. Sexualidade e desejo são forças poderosas no desenvolvimento humano e muitas vezes nos tornamos escravos de nossos instintos.

Polêmica e com fama de intragável, a literatura de Roth não é para acalentar e sim gerar reflexão. Roth escancara seus personagens para além da imagem perfeita que o mundo exige deles e exibe o espírito humano em sua mais crua amostra.
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Luiz.Goulart 07/09/2021

Os judeus de Roth pedem passagem
Philip Roth foi um dos escritores mais prestigiados no mundo, o único americano em vida a ter suas obras completas publicadas pela Library of America, instituição que objetiva preservar a herança cultural americana. Oito dos seus livros foram adaptados para o cinema e o número de prêmios é respeitável, só tendo lhe faltado o Nobel, o que sempre motivou críticas unânimes à academia sueca.

O Complexo de Portnoy é a terceira obra de Roth e quando do seu lançamento, em 1969, foi uma bomba em termos de repercussão e polêmica. O livro levou o autor ao patamar dos grandes escritores e deixou-o milionário. Em 1972 o livro foi adaptado para o cinema

Toda a narrativa do livro é uma grande sessão de terapia do judeu americano Alexander Portnoy, — todos os protagonistas dos livros de Roth são judeus, como ele, espécies de alteregos — e aqui o narrador expõe ao analista suas pulsões sexuais incontroláveis e as obsessões com as quais não sabe lidar e que tenta, sem sucesso, reprimir.

Ao mesmo tempo o livro é obsceno e divertido e Portnoy tornou-se símbolo de uma cultura, um feito e tanto para um autor que ainda escreveria, com grande sucesso, dezenas de livros depois deste.

Quase meio século após seu lançamento, O Complexo de Portnoy mantém sua força, mesmo não chocando tanto como nos anos 70 e 80, quando a contracultura e a luta pelos direitos civis eram mais vibrantes.

Portnoy, o atormentado pelo seu forte Complexo de Édipo e culpa, não terá facilidade para se livrar das suas neuroses e da fortíssima influência da mãe judia — mãe judia é um clássico: "Ela estava tão profundamente entranhada em minha consciência que, no primeiro ano na escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram minha mãe disfarçada. Assim que tocava o sinal ao final das aulas, eu voltava correndo para casa, na esperança de chegar ao apartamento em que morávamos antes que ela tivesse tempo de se transformar. Invariavelmente ela já estava na cozinha, preparando leite com biscoitos para mim. No entanto, em vez de me livrar dessas ilusões, essa proeza só fazia crescer minha admiração pelos poderes dela”.

Com linguagem vulgar e narrativa sem cronologia, quase fluxo de pensamento, já que se trata de uma grande sessão catártica com um terapeuta, Roth não economiza nas tintas e percebemos um Portnoy repleto de autoironia, inteligência e sagacidade. Em certas passagens, como já foi relatado por vários leitores, fui tomado por gargalhadas. Despudorado e engraçado, esse livro conquista. Não pede licença nem perdoa.

Leia-o com deleite e sem culpa. Deixe toda culpa para o pobre Portnoy, pois ele já a tem de sobra.



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