Phelipe Guilherme Maciel 23/05/2018Devastado com a morte de Philip Roth, decido falar sobre o seu livro que mais me mudou.Complexo de Portnoy foi o primeiro livro que li de Philip Roth. À Época, não fiz resenha sobre ele. O principal motivo é que por trás de seu ambiente sarcástico, esse livro dá vários socos no estômago de quem o lê, e é muito difícil de digerir. Hoje, sabendo do falecimento de Philip Roth, me senti na obrigação de resenhar um de seus livros que mudou minha vida e minha forma de ler.
Em Complexo de Portnoy, lançado em 1969, elevou Roth à categoria de grande escritor, pois o livro passou de forma explícita temas muito difíceis de serem abordados e considerados tabu, principalmente a masturbação, os relacionamentos sem compromissos, além de falar muito sobre a situação da comunidade judaica nos EUA. A mensagem que ele quis passar ainda é muito atual. O livro se passa como se fosse uma espécie de várias sessões psicanalíticas.
Em toda obra de Roth, a questão judaica é muito forte. A tentativa de adaptação de um local onde ele não se sente pertencente. Sempre veremos homens judeus americanos, que vivem uma cultura judaica muito forte, seja influenciado pela comunidade ou pelos pais e avós, e se deparam com um mundo totalmente diferente, sem saber onde se encaixar, como se pertencer.
Nesse livro, a tentativa de se encaixar no mundo, Alexander Portnoy utiliza-se da questão sexual. Ele gostava principalmente de se relacionar com mulheres não judias, para se sentir como um não judeu.
A cultura costumeira naquele tempo era que o judeu sempre se apresentava como pessoas bem sucedidas, bem definidas, onde tudo está dando certo nesse novo mundo pós horror do holocausto. Roth sempre caminhou no fluxo inverso, mostrando que não: Os judeus tinham problemas, o antissemitismo era real, os judeus não conseguiam se definir no novo mundo que estavam.
Devemos esperar muitas cenas escatológicas no livro, como por exemplo, o rapaz se masturbando com a comida da família, passando horas no banheiro se masturbando, além de muitos problemas familiares.
O livro é escrito por um narrador não muito confiável, então devemos ter cuidado com algumas informações jogadas no livro.
Esse jovem masturbador se transforma num adulto devasso. Nessa nova parte do livro, ele já trabalhando, e tentando ter uma vida normal, ele apresenta seu lado desesperado de tentar casar e ter uma vida normal com toda mulher que conhece.
O texto é bastante verborrágico, repetitivo, e apresenta um personagem detestável. O pior ser humano que Roth conseguiu imaginar, nas palavras dele próprio. O livro praticamente não tem diálogos, é sempre ele contando sua vida ao seu psiquiatra, ou sua mente. O livro é realmente como se você estivesse vendo um ser humano liberando todas suas feras, todos seus medos, todas suas angústias, por piores que fossem, sem esperar qualquer tipo de aprovação da parte de quem lê. A pior parte disso tudo, é que se você se despir e olhar no espelho, e tentar verificar por trás do seu corpo, na sua alma, verá que não é de forma nenhuma tão diferente assim de Portnoy. Por isso foi tão perturbador.
A partir desse livro sua obra começou a ser pormenorizadamente estudada, e ele se tornou o grande escritor que conhecemos hoje. O livro é tão aberto, tão pevertido, tão descompromissado com o humor de quem lê, que se torna um grande petardo na rocha do conservadorismo. Ainda mais nos anos 60, onde a liberação sexual, a liberação de costumes, a era hippie, ainda estavam amadurecendo.
Se você nunca leu Philip Roth, este é um bom momento para começar.