Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018
Obra-Prima Da Poesia Brasileira
Castro Alves (1847-1871) foi um poeta de seu tempo. Influenciado pela atmosfera libertária que empolgava os jovens intelectuais durante a segunda metade do século XIX, ele abraçou a causa abolicionista ainda adolescente.
Aos 21 anos, em 1868, escreveu aquela que seria sua obra-prima, o poema " O Navio Negreiro". Nessa época, já vigorava a Lei Euzebio Queiroz, promulgada em 1850, que proibia o comércio de escravos. Infelizmente, ela não era obedecida e continuavam desembarcando inúmeros navios negreiros em nossa costa.
Quanto ao poema, ele está dividido em seis partes e apresenta um eu lírico não identificado que, sobrevoando os céus, louva a beleza em alto-mar, enquanto observa uma embarcação. Ao se aproximar, descobre que é um navio negreiro e dali em diante, os versos mudam de tom.
Horrorizado, o eu-lírico descreve um espetáculo dantesco que espelha fome, miséria, doenças e tortura. Revoltado, suplica a intervenção divina ou da própria natureza para que essa crueldade tenha fim, remetendo a importância dos povos africanos, reduzidos a mais vil condição humana.
Finalmente, Castro Alves cobra do país a responsabilidade pela situação e conclama os heróis da conquista do Novo Mundo para que impeçam que essa tragédia continue.
Infelizmente esses versos sesquicentenários continuam atuais. Basta observar os barcos atolados de refugiados que cortam os mares, carregando miséria, desencanto e um resto de esperança.
Leitura fundamental, merece uma constelação de estrelas.