The Traitor

The Traitor's Kiss Erin Beaty




Resenhas - The Traitor's Kiss


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Lauraa Machado 17/11/2018

Machista, misógino e mal feito
Eu não esperava muito desse livro, é verdade. Não vou fingir que fiquei realmente decepcionada, já que esperava que ele não fosse grande coisa, mas fiquei abismada com a quantidade de misoginia e machismo claros e escancarados do começo ao fim, então, senão decepcionada, estou pelo menos surpresa pelo tipo de coisa que apareceu aqui.

O que mais me fez ficar curiosa para ler esse livro foi terem falado que a protagonista tem a língua afiada. Eu amo protagonistas assim. Sage aqui não é assim. Ela é grossa, arrogante e condescendente, isso sim. E em nenhum momento ela cresce e se desenvolve. Além disso, ela passa o livro inteiro aparentemente querendo uma medalha por saber subir em árvores e gostar de vestir calças. Ela claramente acha que isso a faz muito melhor do que todas as outras garotas do universo, ainda que não tenha parado para conversar com nenhuma direito para realmente saber do que elas gostam.

A quantidade de veneno e ódio que ela gasta pensando sobre as garotas para quem ela teoricamente trabalha como casamenteira só deixa tudo ainda mais irônico quando ela as chama de cobras. Eu achava que seria uma história sobre uma garota que não quer casar, mas que quer juntar as pessoas (estilo Emma, da Jane Austen, aquela obra prima maravilhosa), mas isso não fez a menor parte da história e as garotas parecem ter sido colocadas ali só para Sage se comparar e se achar superior, mesmo sem falar com elas.

Eu tinha visto algumas pessoas falando isso da protagonista antes de ler, mas não é só ela. Os próprios soldados que as escortam até a capital sempre pensavam nas garotas como "víboras" ou "pavões" (sim, usaram essas duas palavras), quando nenhum nem tinha parado para falar com elas. Não tem nada que eu odeie mais no mundo do que garotas sendo rebaixadas e tratadas como fúteis pelo simples fato de serem garotas. Como quase foi o caso da Sage, muitas delas provavelmente estavam ali por não terem outra opção. Muitas poderiam ter calças embaixo do vestido, como a Sage adorava usar. Mas ninguém lhes dava a chance de abrir a boca e ter alguma opinião antes de julgá-las.

O jeito mesquinho e odioso da autora de descrever as garotas estava em todos os pontos de vista, fosse da casamenteira, do vilão, da protagonista ou dos soldados - e que tosco que era ver os soldados tão preocupados com o fato das outras garotas usarem esmalte e maquiagem. Que raiva, sério! Se fosse só isso que tivesse de machismo, eu daria duas estrelas. Mas teve outra coisa que me forçou a abaixar a nota ainda mais.

Em mais de uma cena, existem personagens masculinos ameaçando estupro como se fosse algo normal. Sim, a protagonista os considerou "homens maus", mas em nenhum momento ficou revoltada como a situação merecia. E isso nunca foi abordado, só passado por cima. Um personagem fala, "Você tem sorte de eu não estar afim [de te estuprar], mas quem sabe eu mude de ideia." Era um cara teoricamente mau, mas a casualidade com que a autora lidou com a possibilidade do estupro nessa e em outras cenas para mim foi assustadora.

Outra coisa que fez ser impossível que eu gostasse minimamente desse livro foi que a autora achou mega aceitável e nem um pouco merecedor de explicações o fato de uma garota de quinze anos estar se envolvendo com um cara de vinte e um. A própria protagonista tem 16 e também se envolve com um de 21. Isso para mim é inaceitável, ainda mais quando em nenhum momento alguém parou para pensar e questionar se a diferença de idade não poderia ser algo ruim. Ridículo isso, honestamente.

Se o resto do livro fosse okay e tivesse conseguido pelo menos me divertido, talvez eu tivesse dado duas estrelas até, mas a história é pobre, mal construída e a narrativa é bem ruim. Tem um único mistério no livro só, mas eu o descobri logo no primeiro capítulo em que ele se apresenta e é bem óbvio mesmo, só vai enganar quem ainda não tiver muita experiência pelos livros. Todos os outros "mistérios" que poderiam existir foram extinguidos pela decisão sem pé nem cabeça da autora de mostrar milhares de pontos de vista para a gente nunca ser enganado por nada. Devo dizer que não tem a menor graça ficar vendo um personagem sofrer por algo que eu sei que não é verdade. Seria bem melhor sofrer com ele, ser surpreendida com ele, respirar aliviada com ele.

Como falei, a escrita é bem ruim, mas por outras coisas também. A personalidade arrogante e mesquinha da Sage desaparece do nada, ela é a garota não bonita que todos os homens acham linda e querem para eles, enquanto as garotas passam longe dela (revirando os olhos aqui) e os outros personagens são extremamente superficiais, caricatos até demais (a megera que é sempre A desagradável, a boazinha que é sempre a única a ser minimamente gentil, o vilão que faz maldade só para ser mau). Outra coisa que me incomodou demais foi que os personagens ficam repetindo coisas, explicando para si mesmos pela narração cenas que se passaram pelo livro, como se a gente tivesse esquecido o que aconteceu no capítulo anterior. Aliás, os capítulos são tão pequenos, que ilustraram literalmente como a autora não queria trabalhar nada, só jogar as informações. Tudo vai acontecendo tão fácil, tão rápido, pulando desenvolvimento, que nada realmente convence.

Os conhecimentos políticos e geográficos da autora também deixaram a desejar. O país é tão grande, que os personagens demoram um dia para cruzar um centímetro da escala no mapa, mas é tão vazio que um exército de 130 homens os assustam (essa quantia é tão ridícula para um exército, meu deus). Além disso, o conflito com o país vizinho não faz o menor sentido, a não ser que só tenha crianças mesmo comandando o país deles. No mundo real e dos adultos, países aproveitam fraquezas de seus adversários, principalmente aqueles com os quais dividem uma fronteira, para comprar sua aliança. Aqui, ninguém ainda ouviu falar de empréstimo e diplomacia.

Para não dizer que tudo é péssimo, vou falar que o romance até que é okay, mas nada marcante, e é difícil me importar com ele quando a protagonista é uma péssima pessoa.

Esse livro me lembrou de outros três. Ele me lembrou de The Queen's Rising, que é péssimo também, me lembrou de The Kiss of Deception, que é bem ruim, e me lembrou de A Maldição do Vencedor, que é ótimo, romântico e apaixonante, seguido de um livro com espionagem e tensão de verdade. Fizeram propaganda desse daqui falando que era uma junção de "Jane Austen com espionagem", e ele não tem nada parecido com as histórias da Jane Austen nem superficialmente e a espionagem dele é feita de qualquer jeito, sem qualquer tensão de verdade. Além disso, tiveram a cara de pau de falar que era inspirado na Mulan, mas só se a autora nunca assistiu Mulan, porque não tem nada aqui que chega perto de se parecer.

Esse é mais um na lista de livros decepcionantes, tóxicos e mal feitos que as editoras do Brasil insistem em publicar com propaganda enganosa e investir em divulgação (ou seja, uma imagem enorme da capa na bienal) em vez de focar em livros muito melhores. Parece até que eles nem leram o livro e só vão pela quantidade que vendeu ou pela sinopse.

E agora eu sei exatamente o que vou ler em seguida: um livro feito de piratas mulheres diferentes, que são parte de uma irmandade incrível. Preciso de alguma coisa para lavar minha alma desse livro machista e mesquinho que acabei de ler.
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