@li.varal 05/03/2022
Arrastado no início, mas vale a pena
Os Maias: episódios da vida romântica
#EcaDeQueiros
?01.01.2022 a 04.03.2022
?17h35min, 687 p.
@novafronteira
Gostei muito desse clássico da literatura portuguesa, considerado a obra-prima de Eça de Queirós. São quase 700 páginas, então é uma leitura que exige certo fôlego. Não fiquei tão atraído pelo livro durante boa parte da obra. Talvez lá pela página 400 que deu uma deslanchada e aí fiquei realmente conectado, principalmente ao estilo crítico e ácido de Queirós. Além das tramas principais, entendo que a ideia de Eça de Queirós era retratar a sociedade portuguesa do século XIX e por isso as muitas descrições detalhadas de atividades cotidianas, que chegam a ser cansativas. Mas fiquei muito interessado na comparação com o Brasil; aquele Portugal retratado pelo livro tem muito a ver com a nossa realidade, essa sensação de descrença nas pessoas, na dificuldade de evoluir. São muitas personagens e histórias em paralelo. Destaco João da Ega e Afonso da Maia; e a trama principal envolvendo Carlos Eduardo da Maia. A reflexão final sobre o sentido da existência também me pegou, com a avaliação que eles fazem de tudo o que viveram.
"E desde que a água abundava, a cascatazinha era deliciosa, dentro do nicho de conchas, com os seus três pedregulhos arranjados em despenhadeiro bucólico, melancolizando aquele fundo de quintal soalheiro com um pranto de náiade doméstica, esfiado gota a gota na bacia de mármore" (14)
.
.
"Mas tinha nas veias o veneno do diletantismo" (91)
.
.
"Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos de alfândega; e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas..." (109).
.
.
"Isto é um país impossível" (216)
.
.
"A vida é feita de desapontamentos" (230)
.
.
"A gente, Craft, nunca sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau" (332)
.
.
"A gente queixa-se sempre do seu país; é hábito humano" (666)
.
.
"Não é a cidade, é a gente. Uma gente feiíssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!..." (670)
.
.
"O que ainda tornava a vida tolerável, era de vez em quando uma boa risada " (673)
.
.
"Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: 'Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim.' E nunca se é assim; é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente" (685)
.
.
"Se me dissessem que ali embaixo estava uma fortuna como a dos Rothschilds ou a coroa imperial de Carlos V, à minha espera, para serem minhas se eu para lá corresse, eu não apressava o passo... Não! Não saía deste passinho lento, prudente, correto, seguro, que é o único que se deve ter na vida" (686)