spoiler visualizar@Caroline 25/04/2024
O Fantasma
"Os fantasmas só existem se você os deixa existir."
Esse foi, até o momento, o mais surpreendente da coleção Harry Hole. O Fantasma é o 9º livro dessa saga que nos traz o inspetor Hole da Divisão de Homicídios de Oslo, Noruega. Porém, foi o mais diferente de todos. O mais "pessoal".
A narrativa, a estrutura dos parágrafos e capítulos manteve-se a mesma, digna da meticulosidade de Jo Nesbo, porém, nesse livro, temos um curso muito mais pessoal nas histórias. Sim, histórias. Nesbo, em sua escrita única, nos coloca no ponto de vista de várias personagens.
"Ele estava limpo fazia três anos e não tinha a menor intenção de recomeçar."
Em O Fantasma, temos Hole envolvido intimamente na história. Ele, que havia desaparecido do mapa e se mudado para Hong Kong, finalmente controlou seu vício no álcool e estava vivendo como cobrador de dívidas para um cara de apostas em corrida de cavalos. Longe de violência. Uma vida sendo sobrevivida. Mas estava indo tudo bem.
Até que ele soube que Oleg, o garotinho introvertido que havia se conectado com ele de forma avassaladora. Oleg, que o chamava de pai. Oleg, o menino que Harry amava incondicionalmente, assim como amava Rakel, sua mãe. A família de Harry. Mas que Harry havia fugido, depois do último caso após o Boneco de Neve, com medo de seus próprios fantasmas, sentindo-se um kamikaze. Ele não queria arrastá-los para a escuridão.
Oleg, que parecia ser um garoto amável, gentil e incapaz de ser tocado pelo mal. Ou de fazer o mal. Mas, com sua ingenuidade e raiva reprimida, se envolveu com um garoto errado. Fez uma amizade errada. Drogas. Tudo começou a desandar. Até que aconteceu.
Um assassinato a sangue frio.
Hole imediatamente retornou a Oslo. Teve que reencontrar seus fantasmas. Ele já não possuía mais os recursos de um policial, pois simplesmente havia ido embora. Com uma narrativa muito pessoal, Nesbo nos conduz para um thriller digno de ser considerado uma obra literária.
"- Rakel? Rakel? Merda! ?
- Algum problema, Sr. Hole?
- Ela desligou. Isso é o suficiente?"
Particularmente, achei o livro com uma vibe bem estilo Breaking Bad. E tudo foi, de certa forma, bem diferente dos demais livros. Como se Nesbo quisesse testar um novo estilo. Mas, ainda sim, com suas características maravilhosamente marcantes. Acredito que isso se deva também ao fato da pessoalidade do enredo em si, em ter Hole, Oleg e Rakel praticamente no centro da história.
Teve duas situações "curiosas", por assim dizer. A primeira é que, na primeira vez que Cato foi mencionado, sabia que era ele. Que ele estava conectado. Mas o bom e velho Nesbo nos fez duvidar de todos o tempo inteiro, e mudarmos de suspeitos do começo ao fim. A segunda situação foi a da água no porão. Pela primeira vez nessa coleção inteira, achei uma cena um pouco forçada demais. Tudo bem que Nesbo lidou com maestria na situação, ao desenvolver a cena, porém, foi algo tão mirabolante e parece que rápido demais, que houve um furo.
E no final, depois de nos prendermos dentro da história, de duvidar de todos, de achar que Oleg ainda era um menino bom, apenas perdido. De acreditar que ele e Rakel iriam finalmente ficar juntos, então acontece.
Oleg e o assassinato. Ele atirou.
Oleg e o assassinato. Ele atirou.
Um spoiler duplo.
"E esse foi o último pensamento de Harry Hole. Que finalmente, finalmente, estava livre."