Lucas1429 15/01/2024Debalde, uma bela obraHerculano é um grande intelectual português, tendo obras que versam da literatura à história.
Com Euríco, o Presbítero, ele inaugura o romance histórico em terras lusitanas.
Sobre a história, resumidamente, e sem spoilers, retrata a vida de Eurico, que renega à vida de fidalgo, se assim podemos dizer, para a vida monástica após uma decepção amorosa. Enquanto presbítero, acompanha a invasão muçulmana à Península Ibérica. Espanhol, do sangue quente - ou caliente -, logo veste a armadura e passa a combater. Entre os combates pela sua terra, reencontra o amor que o passado lhe condenou a não viver. E assim, entre a cruz e a espada, literalmente, Eurico se encontra.
A obra traz várias reflexões. Reflexões sobre nacionalidade, algo inclusive um pouco forçado por Herculano, mas que é fruto de seu tempo. Não há como uma obra que se passa em plena invasão árabe discorrer sobre uma Espanha e um caráter nacionalista, posto que era uma discussão inexistente no período. Ainda assim, é perdoável, pois Herculano vivia uma época em que o nacionalismo ganhava certa força no pensamento cotidiano. Traz também reflexões sobre amores, coisa pouco discutida no período do medievo, posto que os casamentos eram arranjados - vigorava o interesse e não o amor. Mas, nessa última questão, pouco há o que se criticar, uma vez que é um clichê em diversas obras.
O vocabulário de Herculano é primoroso, com construções narrativas belas e cheias de metáforas muito bem colocadas. Me senti um analfabeto com meu vocabulário ao vê-lo escrever, muito embora haja, por parte do autor, um carinho gigantesco pela palavra DEBALDE, que eu li umas 8 vezes no livro.
Não é um livro para iniciantes, posto a árdua tarefa da compreensão de seu vocabulário oitocentista e de suas metáforas. Cabe para leitores já acostumados com livros um pouco mais difíceis e que desejam se aventurar em episódios históricos vistos por olhos postos nos anos 1800... Apesar de curso, acaba sendo denso por esta dificuldade no vernáculo.
Uma vez superada a barreira da língua, é uma obra excelente se colocada em retrospectiva à sua época, mas que, sob meus olhos, não agradou tanto, pois sou privilegiado de viver em uma época com efusão de boas narrativas de romance histórico, contidos, por exemplo, em Bernard Cornwell. Ainda assim, vale o desafio e a leitura.