Rafael 01/10/2022
Injustiçado
O que faz uma história mudar de marcha? O desenvolvimento de personagens e set-ups para o futuro precisa se tornar um vale na montanha de uma na narrativa?
Coração Invernal, em tradução livre, pois ainda não há versão no Brasil, o nono (nossa, nem parece que foram tantos assim) livro da Roda do Tempo, faz parte do conhecido slog pelos fãs da série, onde o autor parece dar uma parada brusca no movimento até então frenético da história.
O segundo volume do tenebroso slog, tem visivelmente duas partes. A primeira é arrastada, com uma grande dificuldade para pegar no tranco. A segunda é muito mais ágil e fácil de ler, trazendo peso aos personagens e a trama, fazendo Jordan encontrar novos momentos de ápice em sua escrita, não vistos desde Senhor do Caos, seu sexto livro.
Apesar de serem diferentes, ambas as partes funcionam basicamente com a mesma estrutura. Setups para o futuro, em novos livros. Há muito desenvolvimento em Coração do Inverno, mas nada de muito conclusivo, como o fechamento de um grande arco. O que temos, no entanto, é um final arrebatador, mas ainda extremamente previsível. Não que haja algo de errado nessa previsibilidade. É bom quando o plano dá certo, e é justamente isso que causa a implosão de tudo que nos foi apresentado até então, que joga expectativas enormes para os que virá em seguida.
Ainda assim, o peso da apatia das primeiras 200 páginas é grande demais para não ser perceptível. Os setups e desenvolvimentos apresentados ali chegam a ser sofríveis, como se fossem uma obrigação, como o caso de Perrin.
O aparente desinteresse de Jordan por Perrin, um dos personagens mais queridos pelos fãs da série nos primeiros livros, é ao mesmo tempo estranho e frustrante. Estranho, pois de uma hora para outra, um dos seus personagens mais bem escritos não é mais interessante de se ler, e frustrante, pois o autor nem mesmo parece se importar com isso. Aqui, nem ao menos vemos um desfecho para o plot que nos apresentado, ficando novamente, para outro livro, fazendo parecer que seus capítulos foram colocados aqui só para dar mais volume, já que os fãs poderiam achar estranho se Perrin não aparecesse novamente.
A sensação que passa ao se ler Coração Invernal é de que se ele fosse acrescentado ao volume anterior, com o corte de umas boas partes, poderíamos ter um livro nos moldes dos que eram os primeiros volumes da série. Mas ainda vale a pena, no final. Nós que já chegamos até aqui, não vamos desistir por causa do dito pior livro da série que se aproxima. O apego pelos personagens é como os raios de sol de primavera, depois de um inverno excessivamente gelado, e nos faz continuar em frente.