Marcio.Araujo 05/07/2021
Leitura concluída.
Em "d. Leopoldina, a história não contada" Paulo Rezzutti nos conta a história da nossa primeira e mais amada imperatriz. Sendo filha de Francisco I, imperador da Áustria, d. Leopoldina pertencia a casa de Habsburgo, como tal, teve uma instrução de excelência, aprendendo não só ciências (pelo que era apaixonada) mas também línguas estrangeiras, noções de política, caridade e principalmente: senso de dever e as responsabilidades de um monarca. Essa educação, típica dos Habsburgo, será constantemente lembrada por todo o livro.
Rezzutti trata também sobre o maior adversário dos Habsburgo na época de Leopoldina: Napoleão Bonaparte. O qual tendo feito os austríacos amargar diversas derrotas, não lhes deixou alternativa, senão fazer aliança com o inimigo, para isso, o imperador austríaco teve que entregar a contragosto a irmã de Leopoldina, Maria Luísa, para se casar com o governante francês. É com essa irmã que Leopoldina irá trocar cartas por toda a sua vida, cartas essas que são frequentemente citadas no livro.
Com a derrota de Napoleão, reis de toda a Europa se reúnem em Viena para decidir os rumos do velho continente e tentar restaurar a antiga ordem. Evento esse que, ocorrido na capital austríaca, teve Lepoldina como uma das anfitriãs. É nesse contexto que se iniciam as negociações para o casamento de Leopoldina com o príncipe d. Pedro, herdeiro do trono português. Para Portugal a aliança diminuiria a dependência em relação à Inglaterra, já para o Império Austríaco, enfraquecido pelas guerras, era a oportunidade de abrir o Brasil para o comércio com os austríacos e de ter um aliado da Santa Aliança no continente americano, já que a corte portuguesa ainda estava no Brasil.
Concluída a negociação, a arquiduquesa austríaca casou-se por procuração com o príncipe português. Porém Leopoldina teve que aguentar uma longa espera em Livorno, onde embarcaria para o Brasil, já que a esquadra portuguesa, que faria o transporte, demorou muito a chegar devido a uma reforma no navio que traria a nova princesa dos portugueses.
Chegando ao Brasil, a princesa foi recebida com festas, porém teve dificuldade em se adaptar a nova corte, já que era bem diferente da austríaca e com menor valorização do intelecto. Porém, tinha no rei d. João VI, um alento, já que este fizera de tudo para agradá-la, inclusive após a independência.
Entretanto, em razão da revolução liberal do Porto, d João VI se vê obrigado a voltar para Portugal, porém deixa o marido de Leopoldina como regente do Brasil, é nesse momento em que toda a inteligência de d. Leopoldina começa a ganhar destaque, pois o parlamento português (também chamado de Cortes de Lisboa), o qual tomou o poder com a revolução, era hostil tanto ao rei, quanto ao seu filho que ficara no Brasil. Entretanto essa antipatia não era recíproca, d. Pedro simpatizava e muito com a revolução do Porto, chegou ao ponto de jurar a constituição portuguesa, antes mesmo dela ser escrita! Foi Leopoldina e não d. Pedro, quem primero percebeu que os rumos que as coisas estavam tomando trariam sérias consequencias para o Brasil.
As Cortes de Lisboa revogaram vários atos de d. João VI no Brasil e pretendiam rebaixar o Brasil novamente ao status de colônia. Segundo Rezzutti, a princípio e contra os conselhos de Leopoldina, d. Pedro estava realmente disposto a obedecer as ordens vindas das Cortes, mesmo as mais absurdas, entretanto a falta de tato das Cortes, bem como dos soldados portugueses posicionados no Rio, foi progressivamente favorecendo a posição de d. Leopoldina e de brasileiros favoráveis a emancipação, os quais foram mudando a opinião do príncipe português. D. Leopoldina tinha papel ativo na administração do Brasil e estava como regente quando presidiu a reunião do Conselho de Estado, que recomendava a declaração de independência, decisão que foi enviada para ratificação de d. Pedro, o qual estava em viagem.
Foi nessa viagem que o príncipe português proclamou a independência e que conheceu um personagem que mudaria a vida de Leopoldina para sempre: Domitila do Amaral, a futura marquesa de Santos. Com ela d. Pedro teve um caso que foi ficando cada vez mais escancarado, lhe favorecendo e a sua família de diversas maneiras. Para Rezzutti a frieza com que Leopoldina tratou o assunto, longe de revelar passividade por parte da imperatriz, era motivada por uma visão mais ampla que a do imperador, d. Leopoldina sabia que tinha que proteger a imagem da Coroa perante o povo e que brigas recorrentes, bem como escândalos enfraqueceriam a monarquia. Sua tática, segundo o autor, foi politicamente bem sucedida, já que os sucessivos erros de d. Pedro, inclusive o seu caso com a marquesa de Santos, foram lhe custando a popularidade, enquanto a da imperatriz só aumentava, há inclusive alguns relatos de que revoltas militares só não ocorreram contra d. Pedro por respeito à Leopoldina e não a ele.
As constantes humilhações a levaram a um quadro de profunda melancolia, a qual se não lhe causou uma doença, certamente a agravou. D. Leopoldina estava grávida quando adoeceu e seu estado de saúde foi ficando cada vez mais grave, para desespero da população carioca, a qual acompanhava pelos jornais a evolução da doença e fazia grandes manifestações religiosas pedindo pela recuperação da imperatriz, entretanto em 11 de dezembro de 1826 d. Leopoldina faleceu no Rio de Janeiro, enquanto d. Pedro estava no Sul resolvendo assuntos referentes a guerra da Cisplatina. Sua morte causou grande comoção, a qual foi atestada por vários estrangeiros residentes no país, seu sepultamento foi acompanhado por uma grande multidão e mesmo mais de 80 anos após a sua morte, já no período republicano formou-se nova multidão para acompanhar a transferência do seu corpo do convento da ajuda, onde fora sepultado inicialmente, para o convento de Santo Antônio.
Recomendo muito a leitura, ele cita várias cartas e documentos, bem como foge do estereótipos de passividade e de apatia formados em torno da imperatriz, bem como levanta dúvidas sobre alguns documentos normalmente aceitos sem muita contestação.