Lady Zulis 28/02/2024
"É que o senhor é o meu próprio nariz!"
Primeira obra que leio do universo gogoliano, depois de tanto encontrar nas menções de Dostoiévski, em que, nunca escondeu seu fascínio e admiração pelo seu precursor. Confesso que, numa primeira instância, senti que uma das obras de Salvador Dalí estava sendo descrita, devido ao aspecto surreal, cômico e um pouco bizarro.
Nikolai Gógol é considerado como um dos fundadores da literatura russa, e, a meu ver, não é por menos. Em 'O Nariz', uma narrativa curta, cômica e satírica, apresenta inúmeras críticas à São Petersburgo e sua eterna busca pela perfeição ? não muito diferente da nossa sociedade atual ?, sua gestão voltada para infinitos cargos públicos, as características fúteis e alienação dos personagens, pois, o primeiro pensamento do protagonista ao acordar sem nariz, é como iria se apresentar perante a sociedade sem algo completamente indispensável a sua aparência, e não a questionar o absurdo e irreal daquela situação.
"Gógol escreve com a maestria do cômico e com a destreza do dramático, mas é justamente o riso que leva o leitor ao entorpecimento, nesse confronto com uma escrita nada sútil, que a cada linha penaliza o personagem e busca ainda mais seu rebaixamento social."