Sidney.Prando 18/07/2021
A POESIA EM PROSA
O livro é contado em duas vozes, uma delas a de alguém que acaba de morrer. Separados pela perda repentina, dois amigos (ou eu diria casal?), conversam consigo mesmos sobre si, sobre o parceiro, sobre suas vidas antes e após a morte de um deles. Logo, os temas centrais são: a culpa, o luto e o amor.
A linguagem da Inês é apaixonante. Toda a poesia que ela usa e desusa nas descrições encanta a cada linha e dialogo.
Para mim, há muitas coisas que me encantaram, então decidi numerar algumas delas para vocês (“ela” e “ele” são os personagens):
1. Durante uma das falas ela recorre a morte, e a noção dessa como algo inevitável, como algo que a fazia sentir mais apreço pela vida, que a motivava a viver com mais intensidade e dedicação (nesse trecho eu me lembrei que Nietzsche leva em sua filosofia o mesmo sentimento perante a morte, “Amor Fati”).
2. Ele é completamente avesso ao deus dela, "olha que sou capaz de acabar contigo" (rachei).
3. A concepção deles sobre o amor é algo que me cativou, digo, não era amor sexual, como eles bem explicam, e sim uma atração mental, cotidiana, intelectual. Era como se ambos se preenchessem na mesma medida que se esvaziavam (me lembrou muito a relação do Sartre e a Beauvoir, até na influência acadêmica e nos trabalhos políticos dela).
5- Teve a cena que eles estavam de mãos dadas no cinema, ela com a cabeça no ombro dele, quando “ambos se apaixonaram”, de forma não física. "nós não atravessaríamos o traiçoeiro rio do sexo". Essa perspectiva é reforçada por ele no final, quando coloca a relação física como algo que desgasta o amor.
6- Quando o trabalho dela na política começa a se condensar, ele sente suas mudanças. Teve uma parte que ele ressalta que o trabalho os afastaram (ela justifica alguns capitulos afrente esse afastamento). Para mim, foram as pequenas coisas que os aproximaram, e as mesmas os distanciaram, como quando ele descobriu que os presentes que ele deu para ela foram parar junto as gavetas de trabalho (como a carta da Virginia Wolf ou o disco de vinil), até os recados ela mandava as secretarias repassarem a ele quando telefonava atrás dela.
7- Teve cenas bem delicadas como, por exemplo, as vezes que ele ligou para a casa dela após a morte, só para ouvir a voz dela no telefone já que ele a estava esquecendo. Até que um dia não tem mais recado gravado e por fim, esquece também o som do riso dela.
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