Biia Rozante | @atitudeliteraria 07/06/2017Me surpreendeu.Joey é viciada em trabalho, ou melhor, dizendo, ela vive o trabalho, após passar por um relacionamento secreto, que terminou deixando mágoas, optou por focar sua vida única e exclusivamente para aquilo que nasceu para fazer, ou seja, trabalhar. Uma mulher inteligente, elegante, porém solitária, inconscientemente tem por hábito afastar todos a sua volta, foi assim com sua melhor amiga e pai. A única que ainda permanece firme ao seu lado é sua cachorrinha Tink, um ser especial e fofo. Por ter um coração generoso algumas pessoas acabam por abusar de sua boa vontade e ideias, porém toda dedicação está para ser recompensada, Joey poderá liderar um projeto muito importante, não apenas pelo seu valor, mas pelo contexto histórico: Reformar Stanway House, casa na qual o autor J. M. Barrie escreveu uma de suas histórias preferidas – PETER PAN.
Munida de toda determinação e animação, Joey junto com Tink embarcam para Inglaterra e além das paisagens maravilhosas ela encontra moradores locais nada felizes com a restauração. Problemas a vista? Talvez, pois Joey também contará com o privilégio de conhecer um grupo de amigas nada convencional, que tornará sua aceitação e adaptação mais tranquila.
Joey me conquistou logo de cara. Ao longo de cada capítulo somos capazes de acompanhar o desabrochar de uma mulher que vivia enclausurada em si mesma, após tantos altos e baixos, entrega a sua profissão, poder estar à frente de um projeto tão importante a enche de orgulho e fascínio, portanto passa a se dedicar mais e mais, lendo livros relacionados a J. M. Barrie, buscando de alguma forma tornar a restauração da casa, mais que um mero empreendimento. Porém, estar na Inglaterra, em um lugar tão diferente de seu habitat, com pessoas que não a enxergam com bons olhos, faz com que ela sofra um choque cultural, que passe a enxergar o lugar e seus habitantes de uma maneira diferente. Como mencionei anteriormente Joey se afastou de sua melhor amiga, não que elas não se falem com frequência, mas com o passar dos anos e falta de tempo para se encontrarem fez com que ambas perdessem momentos importantes uma para a outra e consequentemente que se tornassem estranhas, mas quando se dão conta disto um novo impasse surge, será que compensa recomeçar, ou é melhor seguir cada uma com a sua vida?
“(...) Mas se você se fechar diante de qualquer gesto bem-intencionado e de qualquer agrado inocente, vai espantar algo verdadeiro.”
Em meio a tanta coisa que absorve sua mente, problemas pessoais, profissionais, sua válvula de escape se torna correr em meio às trilhas perto de sua casa e é em meio a um destes momentos que ela se depara com a Sociedade J. M. Barrie – senhoras que se juntam para nadar todos os dias, seja inverno ou verão -, e depois deste encontro nada mais será como antes.
“Joey sentia-se em união com a água, com a brisa, com o céu e o dia, com sua vida e com tudo da vida. Tudo o que via — pássaros, árvores, o sol, o mato — de repente pareceu mais vivo, mais definido, renovado.”
Eu busquei uma maneira de incluir o romance da trama na minha resenha, mas nada em que pensei me fez adicioná-lo de maneira gradual, então vai de supetão mesmo. Não poderia ter sido mais bem colocado, é natural, real, leve e ainda assim intenso, uma troca, onde ambos vão aprender e ensinar. Uma libertação e cura. Ele não é o foco da obra, paira em segundo plano, mas quando começamos a sondar as possibilidades não paramos mais e sem que notemos já estamos com torcida organizada pela felicidade do casal. O que não significa que irá acontecer.
“(...) A liberdade pode ser solitária. A gente paga um preço alto para conservar a própria independência.”
SOCIEDADE J. M. BARRIE me surpreendeu totalmente. Quando li o título e logo após a sinopse pensei que encontraria algo totalmente diferente, talvez até um pouco de fantasia e releitura de Peter Pan, porém o que encontrei verdadeiramente foi uma bela homenagem da autora, homenagem essa feita de maneira muito sutil, nos pequenos detalhes, fato esse que abrilhantou ainda mais o enredo. E apesar de toda simplicidade da narrativa, da maneira despretensiosa e cotidiana que a autora usou para desenvolver à obra, a mesma não poderia ser mais reflexiva, marcante e encantadora.
“— Estar vivo significa se machucar — respondeu Joey. — Não existe meio-termo.”
Barbara J. Zitwer foi sagaz na construção de seu enredo. Usando elementos simples, cenários bem explorados, ela realmente foi capaz de nos transportar para dentro da história e fazer com que nos identificássemos com seus personagens. E isso não inclui apenas a nossa protagonista, já que pra mim todos os personagens apresentados se destacaram.
Falar das senhoras da Sociedade J. M. Barrie é um privilégio, queria ter a chance de conhecer seres tão intrigantes e incríveis assim em minha vida real, onde vitalidade transpira a cada poro, mulheres guerreiras, cheias de energia, histórias para contar, ensinamentos a compartilhar e uma fonte infinita de inspiração para jorrar. Apaixonante!
Mesmo que fique aqui falando e falando, ainda assim algo será deixado de lado, o que quero dizer a vocês caros leitores, é que a obra realmente é linda e conquistou meu coração. Tratando sobre recomeços, conceitos de amizade, companheirismo, parceria e amor, Sociedade J. M. Barrie se tornou uma leitura indispensável para todos aqueles que buscam por reflexão, entretenimento, leveza e um pouquinho de realidade em meio à fantasia da terra do nunca. O que me lembra de outro ponto que aprendi aqui: A juventude está dentro de cada um de nós, descubra a fonte da sua.
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