Pablo 02/08/2019Esta reunião de oito contos escritos por Lygia Fagundes Telles em épocas e circunstâncias diversas atesta não apenas a excelência da prosa da autora mas também a sua condição de notável "pesquisadora de almas", conforme a definiu o crítico Nogueira Moutinho. Os protagonistas destas histórias encontram-se, em geral, numa relação crítica com as pessoas e ambientes que os cercam - e também consigo próprios. Secretos podres familiares, desenganos amorosos, vocações frustradas, o desejo extraviado, nada é confortável nessas narrativas descontínuas, que alternam descrição objetiva, discurso indireto livre e fluxo de consciência.
Essa foi a primeira vez que li algo da Lygia, e desde o início já foi uma experiência avassaladora. O livro possui oito contos, todos com histórias, narrativas e personagens bem diferentes entre si. Mas, ao mesmo tempo, todos têm a mesma identidade, que reside em personagens vivendo em situações, relacionamentos ou ambientes que são extremamente hostis, insalubres e desconfortáveis. Por si só, essa temática já gera bastante interesse, mas o que realmente cativa e deixa tudo mais interessante é o domínio que a autora tem da escrita. Alternando o estilo de narrativa entre os contos, ora até com narrações pouco convencionais, a autora traz um quê de novidade em cada nova história, ao mesmo tempo que também consegue manter um padrão de escrita bem característico.
A estrutura da bolha de sabão é um livro sensacional, com ênfase na escrita (não vou parar de repetir isso) e com histórias curtas e cativantes. Meus três contos favoritos são: O espartilho, A Confissão de Leontina e Gaby.