Carous 25/10/2020Minha vontade de ler este livro surgiu na primeira vez que ouvir falar dele, na Bienal do Rio de Janeiro 2017. Peguei uma amostra do primeiro capítulo para ler e adorei.
É a história de três irmãos biológicos que se reencontram anos depois e juntos buscam informações sobre os pais biológicos e seus motivos para os darem para adoção.
Cada um foi adotado numa idade e circunstância diferente e isso vai permear suas personalidades.
Li apreensiva porque poderia ser um livro excelente ou eu estaria expondo meus olhos a uma radiação altíssima, mas tudo deu certo no final. Tanto para mim quanto para Maya, Grace e Joaquin.
O livro fala sobre adoção sob a ótica das crianças adotadas. Ao mesmo tempo que trata disso com delicadeza e responsabilidade, a história é o terror dos pais adotivos já que pinta um cenário em que seus filhos nunca se sentem seus de verdade e em algum momento na sua vão à procura de sua origem de sangue.
Espero que os pais adotivos - se algum se interessar em ler o livro - saibam que isso não é necessariamente verdade, mas a autora precisava de um enredo e um toque de drama porque sem ele não haveria história.
E que os filhos adotivos tenham em mente que nem tudo são rosas: alguns pais biológicos são simplesmente horríveis porque são, na raiz, pessoas horríveis - e algumas famílias adotivas também, mas a culpa não é do menor (mas isso eu tenho certeza de que eles sabem, estou ensinando o padre a rezar missa).
O sistema de adoção é bem mais complexo do que apresentado aqui, mas acredito que os profissionais tenham boa intenção de dar um lar decente a bebês, crianças e adolescentes.
Mas o que eu sei? Não fiz parte do sistema e estou falando por alto o que acho que é.
Eu me surpreendi pelos caminhos que o livro tomou, tem menos drama do que antecipei. E foi um alívio ver que não precisaria me preocupar com Joaquin; sim, ele é o que teve a vida mais dura e os traumas mais complicados. Tem tendência à autossabotagem, mas não a ponto de me dar nos nervos e eu querer chacoalhá-lo para ele cair em si. Para logo depois me lembrar que preciso ter mais paciência. É instinto de preservação dele. E super coerente com o personagem.
Os pais de todos os três adolescentes são ok, mas, sabe, cumprem papéis secundários. Giram em torno dos protagonistas. Não aparecem e não há informação relevante a não ser que afete a vida do trio central.
Um comentário que se estende a todos os personagens com quem o trio interage.
Mas são amorosos e compreensíveis, como pais - adultos - deveriam ser.
Nem cogitei que haveria personagens POCs ou LGBTQs, embora seja o mais sensato. Fiquei surpresa pela Robin escrever um personagem latino e vez ou outra trazer os receios de Joaquin atrelados a isso. Embora tenha certeza de que Joaquin é um personagem branco * E* latino. Mas estadunidenses e europeus brancos não conseguem colocar na cabeça que podemos ser os dois. Escrevi de vez ou outra porque era assim que o assunto foi tratado aqui - não muito aprofundando, mas mencionado por alto -. Espero que a autora tenha feito uma pesquisa ou usado leitor sensível, mas duvido.
Gostei da Maya ser lésbica, mas, francamente, poderia haver mais personagens não héteros na história. Ao menos ela tentou e hoje em dia tenho que me dar satisfeita por isso.
A relação entre os irmãos tem seus altos e baixos, com algumas anfractuosidades no meio do caminho, mas o objetivo deles é alcancado sem percalços.
Tudo dá certo no final e termina bem.
Gostei muito do texto da Robin, com certeza contribuiu para ser uma leitura rápida e prazerosa.