Minha Velha Estante 10/05/2018Resenha da Adriana Medeiros"Você tinha um namorado, Win Tillman. Você o amava. Por mais de um ano. Ele morreu. É sofrimento demais. Se esse feitiço funcionar, você não vai mais se lembrar dele."
Quem me acompanha já sabe que vivo me apaixonando por capas, não é? Mas com A garota que não queria lembrar a paixão foi mais avassaladora: além de ter me apaixonado pela capa, morri de amores também pelo título. Identificação, será?
Não bastasse a paixão inicial, ainda temos bruxas no enredo! Opa! Tem que ser bom!
E é!
Ari, ou Ariadne Madrigal, é a garota que não queria lembrar da morte do seu namorado. E, para isso, recorre a uma hekamista, um tipo de bruxa que coloca os seus feitiços em alimentos.
Então vamos às explicações: as hekamistas atuam meio que na clandestinidade, apesar de quase todo mundo já ter recorrido a uma delas alguma vez na vida. Nem que tenha sido para fazer um feitiço de beleza. E cobram caro, viu? Não vá se animando, não! O feitiço de Ari lhe custa a bobagem de 5 mil dólares!!!
"- Trocado. Perdido e ganhado. Preço pago."
Fiquei me perguntando porque Ari não queria lembrar do Win. Imagino que a morte de um namorado amado não seja fácil de suportar, mas daí a você também esquecer tudinho que viveu com ele... Julguei sim, achei que ela fosse uma menina fraca e quase desisti da leitura por conta disso. Ainda bem que sou insistente!
Ari ‘come’ o feitiço e se prepara para a mudança. Ela e a tia Jess estão indo para Manhattan, Ari foi convidada para ser a primeira bailarina do balé de lá e está ansiosíssima para começar uma nova vida. Mesmo que isso signifique estar longe de suas melhores amigas Diana e Kay.
Mas como tudo na vida tem um preço, com os feitiços não seria diferente. Ari não se lembra de Win e não tem coragem de contar o que fez para os amigos, vai ao enterro dele e finge sofrer por medo do julgamento deles. Como se isso não bastasse, ela descobre que se tornou um ogro, um poste, um verdadeiro quiabo duro e não consegue mais dançar, até andar sem cair ou tropeçar virou uma tarefa difícil!
"... Mas o passado não é apenas isso - é o que nos constitui a cada segundo dos nossos dias."
Mas não para por aí. Kay, por insegurança e medo de perder as amigas Ari e Diana, encomenda dois feitiços: um para ficar bonita e outro de amarração, o que significa que as meninas não podem ficar a uma distância muito longa, tipo morar em outra cidade, nem ficar sem falar com ela por mais de três dias. E não podem mesmo pois o feitiço dá um jeito de impedir essa distância, mesmo que possa causar algum risco para elas.
Win é o namorado fofo e apaixonado, um doce, educado, sempre acha que Ari é fantástica e ele não merece ela. Visivelmente deprimido em suas falas, dá vontade de colocar ele no colo. Ari e Markos, seu melhor amigo, é o que fazem a vida dele um pouco melhor.
"Aquilo era muito parecido com um buraco. Ou mais com um poço, talvez:escuro e claustrofóbico, nas paredes as marcas de unhas que outros prisioneiros tinham deixado em suas tentativas de fuga. Eu olhava para o alto e via uma fresta de luz, mas então piscava e a escuridão me tragava de novo. "
"O mundo pertencia às pessoas felizes, às almas despreocupadas. Eu não tinha inveja delas. Só queria sair do caminho."
A história é narrada por Ari, Win, Kay e Markos, alternando passado e presente. Aí vamos juntando peças e montando um complexo quebra-cabeças que vai nos revelando as verdades dessa intrigada história.
Mas ainda temos grandes personagens, como Cal, irmão de Markos, a hekamista e sua filha Echo, que ajuda a mudar o rumo dessa história, e Diana, acredito a verdadeira amiga de Ari.
Mentiras e segredos são o que dão o norte dessa história, tendo a magia hekamista e suas implicações como pano de fundo, aliada a todos os problemas inerentes a vida adolescente, tais como o encontro e a perda do amor verdadeiro, dilemas de família, amizade verdadeira, auto estima, depressão, mudanças, destino, futuro...
"Não dava para contar com eles na hora do aperto. Os feitiços sempre achavam uma forma de nos enganar, de usar nossas fraquezas contra nós, de criar a pior solução possível para o nosso problema. Pareciam inofensivos - mas, enfim, as tábuas e as chamas também. Punhos e martelos. Palavras e beijos."
De maneira cativante, Maggie Lehrman, vai nos apresentando seus complexos personagens, dentro de uma trama cheia de suspense que te diz o tempo inteiro que tem mais alguma coisa que você ainda não sabe ou ainda não percebeu. E reviravoltas ansiosamente aguardadas. Ou seja, fórmula perfeita para você surtar e só parar de ler quando descobrir tudo o que não estão te dizendo.
Um livro para divertir, mas também para refletir. Sem julgar, apenas tentando entender a dor de cada um. E confirmando que não há atalhos fáceis na vida.
"O que vou fazer?
Quem vou ser?
Vou ser como o Markos, uma cretina com coração de ouro - ou pelo menos de prata?
Vou ser desesperada, mas audaciosa, como Kay?
Aberta e sincera, como diana?
Vou me empenhar em fazer alguma coisa boa?
Tenho apenas o resto da vida para descobrir. Está na hora de começar."
site:
http://www.minhavelhaestante.com.br/2017/05/leitura-da-drica-garota-que-nao-queria.html