Renata (@renatac.arruda) 24/03/2019
"Chega o ano de 1976, trazendo uma eleição junto com ele. O cara que traz armas pra favela deixou bem claro que de jeito nenhum aquele governo socialista podia vencer de novo. Eles fariam chover fogo do inferno se isso acontecesse".
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A tentativa de assassinato de Bob Marley, artista que saiu da favela, começou a fazer sucesso fora do país e estava se tornando uma figura revolucionária, em pleno ano de eleição. Um partido político ligado a Cuba, que estava incomodando os EUA, e uma articulação da CIA para fazer com que o candidato do partido conservador chegasse ao poder. Gangues lideradas por narcotraficantes, associados aos partidos, que recebem armamento pesado de políticos e promovem terror nas comunidades carentes, onde a vida, principalmente de crianças, não vale nada. Este era o clima da guerra política na Jamaica entre as décadas de 60 e 90, não muito diferente do clima em que se vive em 2019 num Rio de Janeiro tomado por milícias, violência policial, tráfico de drogas, execuções, corrupção e falência do estado.
Ter começado a leitura na mesma época em que completou um ano do assassinato da Marielle Franco, vereadora em quem votei e acompanhava, enquanto novas informações sobre as investigações, com a revelação dos assassinos, vieram à tona, fez com que o romance de Marlon James ganhasse um peso e uma relevância que poderiam ter se perdido caso eu tivesse lido em outro momento.
O livro é uma saga exaustiva sobre a tensão política na Jamaica em plena Guerra Fria, a partir do atentado contra Bob Marley. Com mais de 70 personagens, vários narradores e um apurado trabalho de pesquisa, Marlon James construiu um romance de muitas vozes, algumas vezes contraditórias, que contam suas histórias como se estivessem dando depoimentos ao leitor. As falas são todas marcadas pela oralidade e pelo fluxo de consciência, em um virtuoso trabalho de linguagem do autor.
É um livro impressionante, que exige muita paciência e fôlego do leitor. Mas vale a pena, principalmente para entender como a paz atrapalha os interesses de certos agentes políticos, que se beneficiam do caos.
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