Desireé (@UpLiterario) 20/04/2020Mais que uma história de pai e filha. (@Upliterario)Adua fugiu da Somália para viver seu sonho. Ela queria ser uma estrela, deixar sua vida de regras e horrores, ser livre. Mas a Itália lhe mostrou que, muitas vezes, sonhos e pesadelos se confundem em uma teia de lutas e solidão.
.
“Cada um tem seu caminho a trilhar, os abismos aonde cair.”
.
Zoppe tem um passado sombrio, marcado por guerras, batalhas, servidão e uma paixão avassaladora que quase o levou à ruína. Enquanto as memórias e histórias de pai e filha se entrelaçam entre os sermões de Zoppe à Adua, o leitor revive os momentos históricos de um passado colonial, racista, dolorido, sangrento e de muita miséria.
.
“O pai e sua garotinha...
Eram tão lindos juntos, alegres pelas ruas de Prati.
Há meses que os via de mãos dadas. [...] Eles o olhavam e ele os olhava. Sem aquela curiosidade maligna dos brancos, aquelas mãos famintas dentro dos seus cabelos enrolados, aqueles comentários venenosos sobre a cor de sua pele. O pai e a garotinha olhavam-no com olhos humanos.”
.
Impossível não se sensibilizar com a escrita árdua e verdadeira de Igiaba Scego e com a narrativa ali retratada. Os horrores das vidas de Adua e Zoppe, sejam na Somália ou na Itália, deixam claro as marcas de regimes autoritários na pele e na alma de seus cidadãos. Dores, sofrimentos físicos, punições e a solidão causados, muitas vezes, por causa da cor de suas peles; seres humanos tratados como pedaços de carne, sem alma ou sentimentos.
.
“A palavra ‘pai’ me aterroriza. Mas é a única que ainda sabe me fazer respirar.”
.
Recomendo muito! Leitura obrigatória.
site:
www.instagram.com/upliterario