Lívia 10/01/2022
MLV 2022 - 1ª missão
Dahlia 16 é uma estudante do Departamento de Força de Trabalho e faz parte do setor de agricultura. Tudo que ela faz é o já pré-estabelecido pela Administração e não há motivos para perguntas. Pelo menos até então...
Nessa versão distópica temos um mundo dividido em cidades isoladas. Não é possível sair de uma para outra. É claro que há acordos diplomáticos entre os "chefões" e todo mundo sabe que há portões, o que os leva a presumir que há algo além deles, mas ninguém realmente se dá ao trabalho de pensar a respeito. Todos estão ocupados fazendo suas tarefas e almejando se formar no ano 18 para ir trabalhar em um nível mais alto.
Nesse futuro as pessoas são concebidas em laboratórios e toda a concepção natural da coisa é descrito como sujo, obsoleto e perigoso, uma vez que a gestação biologicamente natural é passível de doenças congênitas, abortos etc. Assim, as pessoas são criadas em laboratórios especificamente para um fim e em grandes quantidades através de clonagem.
"Fomos feitos pelos geneticistas – cientistas do Departamento de Especialistas, que sabem como montar o DNA humano como um pedreiro monta prédios, juntando cuidadosamente os componentes necessários até que o resultado tenha a forma e a função desejadas."
Existem 5 mil garotas idênticas à Dahlia 16 e todas foram criadas para a seção de agricultura hidropônica. E assim a vida segue na cidade, pessoas sendo fabricadas em "remersas" para servir ao bem maior: o pleno funcionamento da cidade.
Dahlia 16 estava certa de seu destino e gostava dele, até que fica presa no elevador com Trigger 17, um cadete do Departamento das Forças Especiais, encarregado da segurança. Pessoas de departamentos são proibidas de conversar, exceto o estritamente necessário. Mas durante o tempo que os dois permanecem presos com as câmeras desligadas eles não apenas conversam, mas selam seu destino para sempre.
Toda vez que um grupo de pessoas é fabricado entende-se que são todas perfeitas para determinada função, e se, por acaso, for encontrado algum defeito em pelo menos uma dessas pessoas, todo o "lote" deve ser recolhido, ou seja, submetido à eutanásia. Basicamente a sociedade se sustenta na perfeição, e se seu genoma não atende esse critério, deve ser exterminado para não prejudicar aqueles que atendem.
Descobrimos que Dahlia 16 é "defeituosa" e ela e Trigger 17 embarcam em uma corrida frenética para fugirem da cidade sem ser pegos. Nesse meio, vemos que nem tudo que Dahlia 16 acreditava era real. Além da cidade em que vive, existe um mundo completamente diferente do seu. Um mundo em que existem famílias, indivíduos únicos e não lotes de cinco mil pessoas com o mesmo rosto e aptidões.
O final do livro abre brechas para pensar em muita coisa, já que no começo imaginamos que o mundo inteiro é do jeito da cidade de Dahlia, mas agora descobrimos que não. Quando Dahlia e Trigger enfim conseguem fugir da cidade e vão para outra (onde pretendem escapar para floresta), eles veem que enquanto existem pessoas se divertindo em festas de aniversários (Dahlia nem mesmo entende o conceito de festa), há colegas trabalhando nas ruas de madrugada, limpando vitrines e gramados, o que nos faz acreditar que a cidade de Dahlia na verdade tem sido um grande criatório de funcionários, pessoas criadas geneticamente apenas para um propósito: servir para a elite, e não servir para o bem comum como a protagonista imaginava.
Enfim, eu já imaginava que ia gostar antes mesmo de ler. Adoro livros com essa pegada distópica e misturando com romance vira um prato cheio, A história em si é bacana e o desenvolvimento também. O final te faz querer saber mais e te instiga a pensar e procurar sentido nas grandes revelações. Eu só não aprovei 100% a escrita da autora; não sei explicar a sensação que tive, mas é como se fosse muito direta e "seca", e apesar de entender que a cabeça da protagonista estava cheia de dúvidas, tinha momentos que era um parágrafo inteiro só com a Dahlia se perguntando umas 30 coisas e nada de respostas. Eu estava muito curiosa em saber mais do mundo em que ela vive, as coisas que ela já conhecia, mas eu tive a impressão de receber poucas dessas informações. Minha única ressalva foi essa, de resto muito bom!! Já quero a continuação :)