Regurgitofagia

Regurgitofagia Michel Melamed




Resenhas - Regurgitofagia


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Michele 04/04/2022

"Antes de mais nada, tudo."
É assim que se inicia a obra genial de Michel Melamed.
Literatura, poesia, colagens sonoras, ficção, não-ficção, áudio visual, ditadura civil-militar, Brasil, sensacionalismo, tropicalismo, antropofagia e muito mais - o nada e tudo de Michel, que cabe dentro de nós.
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Laura Brand 18/08/2017

Nostalgia Cinza
Regurgitofagia é um livro todo diferente, todo ousado, todo novo, todo inusitado. Uma das coisas que mais gosto na leitura de um livro é a experiência literária que ele me oferece. Gosto de explorar os livros que tenho em mãos como se estivesse explorando um mundo novo, porque é exatamente isso que eles trazem nas suas páginas. Regurgitofagia propõe exatamente isso: uma experiência completa.
Para os que buscam um livro pra sair da zona de conforto, para refletir e para se aventurar, trago aqui uma boa pedida.
Regurgitofagia é um livro extremamente visual. Seja por conta dos poemas datilografados nas páginas pares ou pelas brincadeiras estéticas com a poesia e os textos nas páginas ímpares, todo o livro procura proporcionar uma experiência para o leitor que o tem. Algumas imagens do espetáculo que dá voz ao livro são distribuídas ao longo das páginas quebrando a leitura duas vezes e ilustrando a intensidade que parece pingar das folhas. Além disso, outros aspectos também contribuem para que Regurgitofagia seja mais que um livro comum. No começo do livro o autor propõe alguns exercícios interativos de escrita para o leitor entender melhor a mensagem e interagir mais com livro.
O livro inteiro é escrito em várias línguas além do português. Até mesmo a tradução de suas palavras é feita de forma única e particular. As páginas ímpares contêm os seus textos em português e são o cenário para a maior parte dos poemas “desenhados”, ou seja, dos poemas distribuídos na página de acordo com o objetivo estético do autor. Nas páginas pares temos as mesmas palavras traduzidas simultaneamente para o inglês e para o francês em forma de texto datilografado e sem uma distribuição elaborada pela página, pelo contrário, são concentrados no canto superior com um tamanho menor e cada frase é divida por barras (/) ao invés de parágrafos. Ao final, bem quando o leitor parece se acostumar com a forma com que corre o livro, o autor escreve alguns poucos textos em alemão quebrando qualquer padrão que ele havia estabelecido previamente.
É um livro excepcionalmente fácil de ler por conta dos poemas, ilustrações e por conta da própria diagramação. Além disso, a escrita de Michel Melamed contribui com esse fator porque, em diversas partes de sua poesia ele abre mão dos pontos, das vírgulas, parágrafos e pausas. Ou seja, o ritmo de leitura fica mais acelerado e intenso à medida em que as palavras começam a corre desenfreadas pelas páginas. 
Particularmente não consegui entender um esquema lógico por trás da coletânea de poemas e textos do autor, mas talvez tenha sido essa a proposta do livro. Um caos organizado, um amontoado de pensamentos, sentimentos e críticas que, ao serem colocados juntos, criam um sentido próprio. 
Um ponto negativo é que a escrita do autor não é tão facilmente digerida pelo leitor comum. Não é aquele livro gostosinho de ler, aquele que você indica para qualquer um. É preciso gostar de tentar decifrar o sentido por trás daquelas palavras, gostar de refletir a respeito do texto que tem em mãos, gostar de ler e reler a mesma frase várias vezes para absorver mais perfeitamente aquilo que o autor está dizendo. Por conta disso a leitura pode não agradar a todos e acabar se tornando um pouco tediosa, mas isso vai variar de acordo com o perfil de quem lê a obra.
Parece um livro de vanguarda, vem querendo quebrar paradigmas e cuspir ideias. É uma urgência constante que tenta acompanhar o ritmo frenético do mundo de hoje e, ao mesmo tempo, trazer o leitor para o aqui e o agora por meio das palavras. Outro aspecto peculiar do autor é o seu modo de brincar com palavras, dar significados novos àquelas que já conhecemos e inventar novas de acordo com a mensagem que ele busca passar. Michel Melamed mostra sua competência em tirar sensações de frases que jamais imaginaríamos juntas.
Regurgitofagia é uma daquelas brincadeiras com fundo de verdade. "Regurgitar: expelir, fazer sair, o que em uma cavidade está em excesso, principalmente no estômago. Fagia: comer." O autor faz uma crítica ao consumo excessivo de estereótipos e produtos que, ao final das contas, não acrescentam em nada. A fagia seria, ao meu ver, uma forma de filtrar aquilo que é realmente necessário ou que tenha conteúdo e, ao mesmo tempo, nos fazer perceber, através do grotesco, o que realmente existe por trás de tudo que não nos acrescenta.

site: http://nostalgiacinza.blogspot.com.br/2017/08/resenha-regurgitofagia.html
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