Estrela Distante

Estrela Distante Roberto Bolaño




Resenhas - Estrela distante


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Valdir Vidal 09/02/2014

Estrela Distante, Roberto Bolaño

Para muitos críticos de Bolaño, Carlos Wieder, que usa o pseudônimo de Alberto Ruiz-Tagle, é o melhor personagem do autor chileno. Este romance repleto de paródias e atmosfera mórbida, conta a história de Wieder ou Ruiz-Tagle, poeta escorregadio e torturador do regime Pinochet. Quando jovem, e ainda conhecido como Alberto, Carlos Wieder frequentou oficinas literárias na Universidade de Concepción, no Chile. Já nessa época tomava atitudes controversas e desaparecia repentinamente por longos períodos. Desencadeado o golpe militar de 1973, Carlos Wieder sai da clandestinidade e dá vazão a sua sociopatia e crueldade.

Após o golpe, muitos alunos da Universidade desaparecem temendo represália política. Um deles era Alberto. Nesse mesmo período, surge espetacularmente na história um tenente coronel da Aeronáutica chilena, famoso repentinamente por causa de suas façanhas aéreas. As apresentações eram marcadas por malabarismos e versos de Orwells no céu com fumaça: A morte é comunhão. O narrador Arturo Belano, também poeta e amigo de Tagle na universidade, desvenda rapidamente o mistério e logo associa Carlos Wieder a Alberto Ruiz Tagle. Com medo de ser descoberto Wieder passa a matar todos os que o conheceram antes do golpe. O assassino metódico também gostava de charadas. Seu sobrenome Wieder, por exemplo, em alemão significa “outra vez”. Talvez uma alusão a persistência do nazismo. Ideologia de segregação racial que recobra o fôlego toda vez que é retirada das catacumbas da história em tentativas, já inicialmente fracassadas, de criar regimes totalitários em prol do “bem comum”.

Após o fim do regime e já exilado na Europa, Carlos é movido pela necessidade incontrolável de se manter ativo e é justamente este impulso que dará fim a sua fuga. Belano rastreia Wieder em diversas publicações ultranacionalistas na Europa, onde mesmo marginalizado insiste em sua vocação poética e publica, ainda que sem a fama anterior, alguma obra sob vários pseudônimos. Quando finalmente é encontrado Carlos está irreconhecível, velho e abatido. Nada mais justo que seu fim fosse o mesmo que reservou à suas vítimas, o apagar silencioso e amargurado de quem sabe que tudo em que acreditava ruiu. Sua morte abrupta e violenta extingue o mal, mas não apaga o terror que implantou em suas vítimas.

Arturo Belano, personagem utilizado em outras histórias é quase certamente um pseudônimo do autor chileno. Já Carlos wieder é um personagem mencionado em Literatura Nazi na América e no Livro dos Seres Imaginários, de Borges. Apaixonado por Borges, Bolaño assumiu que o livro Detetives Selvagens foi sua tentativa de ser Borges e Cortazar, tentativa essa reconhecida pelo crítico espanhol Inácio Echeverria: "O romance que Borges teria escrito". Em Estrela Distante Bolaño limita-se a perseguir o mestre trajado na figura de Belano e conferindo ao mestre a alcunha de Wieder.

Metaforicamente talvez não exista melhor analogia a eterna busca de um escritor pelos seus mestres. Na pele de Belano, Bolaño busca sem esmorecer encerrar a tirania, benéfica ou não, que os mestres exercem sobre seus pupilos e finalmente dar o passo adiante em sua obra. Feito finalmente realizado em Detetives Selvagens.


site: http://cabrestussuburbanus.blogspot.com.br/2012/12/estrela-distante-roberto-bolano.html
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Menezes 11/07/2013

Mundo Bolaño
Dia 18/07 na Livraria da vila do Higienópolis, o blog Espanador
, dará início a um clube de leitura. Abaixo tem a resenha original do blog:

"Quando resenhei 2666, insisti de leve em uma interpretação do título como um símbolo de localização histórica, entre duas bestas: a do Holocausto e a dos assassinatos em Santa Teresa, contudo minha ideia seria desenvolver esta interpretação em um sentido de contemplar não só esse aspecto histórico, mas o símbolo que persegue a obra de Bolaño como uma obsessão eterna, que seriam a violência e a literatura. Em minha primeira ideia, essas seriam as duas “bestas” pessoais que regem a escrita de Bolaño, contudo nesta resenha específica, além de sua extensão, a possibilidade de acharem que estou usando entorpecentes aumentaria. Entretanto, desconsiderando a validade desta proposta para com o título daquele livro, ela encaixa como uma beleza na obra como um todo do Mestre Chileno. Seus heróis são sempre literatos, poetas e críticos, e a violência está sempre presente na sua narrativa, mesmo em Monsieur Pain, dentro da escrita de Bolaño uma pressupõem a outra, como o raio e o relâmpago. No trecho acima a violência atroz do personagem de Wieder é horrível de ser ler, e seu autor é nada mais do que um candidato a poeta.

As raízes deste romance pressupõem outro, Literatura Nazi Nas Américas, que ainda não tem edição brasileira somente portuguesa pela Quetzal, que é um romance atípico, pois se pressupõem enciclopédico ao narrar uma lista de autores vivendo na América do Sul, mas é de fato uma ficção, uma vez que nenhum deles existe de verdade. Neste ele cria personagens originais às vezes se baseando em alguns reais, que deixam transparecer em sua obra ou vida, uma ligação com as ideias nazi-fascistas da Europa, ou até mesmo autores que se refugiaram no Brasil após a segunda guerra. O último antes de uma galeria, também falsa de obras e autores menos conhecidos, é aquele que detém a maior entrada em seu cânone nazista, e um dos mais interessante: Ramon Hoffman, um poeta chileno e torturador que fazia poemas com seu avião no ar.

Esse personagem é tão interessante que Estrela Distante nada mais é do que a vida deste reescrita agora de maneira mais detalhada, e com um novo enfoque, vide que ele não é chamado de Hoffman, mas primeiramente de Alberto Ruiz-Tagle e depois de Carlos Wiedle, já como aviador e criador de poemas com fumaça. O nosso narrador Arthur B(elano), que também é o narrador principal de Detetives Selvagens, conhece um poeta contido e influente na década de 70, cujo o nome é Alberto Ruiz-Tagle e que após toda a confusão e perseguição do golpe de Pinochet este se torna um assassino do governo e depois de muitos anos o narrador vem a descobrir que ele se tornou o piloto-poeta Carlos Wieder, mudando nome antes de desaparecer completamente. Essa multiplicidade de nomes não é acidental. Ao mudar o nome do personagem que falava em Literatura Nazi, ele ao mesmo tempo que cria outra história, corrobora com a impressão de que os autores “ficcionais” deste livro são baseados em “autores reais”. Sendo que o “real” de Hoffman, nada mais é que o igualmente “ficcional” Wieder, um pseudônimo de outra pessoa, que é narrado por Arthur Belano, amigo de Bolaño, que se limitou a “preparar bebidas, consultar alguns livros e discutir,” como ele mesmo nos conta no prefácio, além de organizar o relato. Mas Belano é um heterônimo de Bolaño, ou alter-ego se preferir. Entendeu? A literatura de Bolaño é auto-referencial como se ao mesmo tempo que se constrói se auto-critica.

Eu diria que Bolaño criou uma nova entrada na categoria de Duplo na literatura. Esse símbolo que é normalmente associado ao oposto dentro da narrativa, aqui se torna um oposto temático que não pode nunca ser desassociado. A literatura e sua magia estão sempre fascinando e instigando o narrador de Bolaño, ao mesmo que a violência vem junto para chocar. A própria passagem acima pode ser um exemplo ao mesmo tempo que estamos dentro de uma cena de assassinato frio e calculado, temos um certo fascínio do narrador em narrar o evento com delicadeza e emoção. Ao mesmo tempo em que Wieder quer quebrar o quarto da empregada em fúria, ele se contém de restrição, controlando sua emoção. O símbolo da noite que entra na casa alheia, para denunciar o terror da ditadura de Pinochet, e assim o faz de maneira quase sexual no “entrar e sair” da descrição. E se a “paixonite” do narrador foi assassinada nessa noite, ele jamais, até nos momentos finais da narrativa, vai se levantar contra Wieder, pois ele tem no fundo um certo fascínio pela situação.

O assassino é um poeta, e isso também é fascinante para o leitor e o que, de certo modo, motiva o leitor a continuar a leitura na tentativa de entender Carlos Wieder. Este, como poeta, vai provocar o interesse não pelo conteúdo de sua poesias, mas pela forma que ele o faz, desenhando versos no céu, o que, em contraponto com a cena do assassinato, são cenas belíssimas e que instigam a imaginação, chegando a parecer fantásticas. Mas novamente a dualidade volta, e em sua exibição mais famosa Carlos escreve vários versos celebrando as várias faces da morte. Ser um assassino e poeta está intimamente ligado para ele,e na tentativa de o entender tanto o narrador quanto o leitor parecem se distanciar dele, como um estrela mesmo que está sempre mais distante da Terra e o brilho mais perto de se extinguir.

Nesse ponto o título é uma alegoria perfeita, pois a estrela brilha mais forte quando já não existe, é só um eco de algo que não existe mais. Na parte final do livro, tentamos descobrir o que aconteceu com Carlos Wieder depois que desapareceu. Enquanto mais avançamos, mais damos brilho a sua estrela como poeta, que era medíocre nos verso,s mas brilhante na forma, e que dá forma ao livro em que temos em mão. Essa ideia de que quanto mais perto chegamos da verdade, mas longe chegamos de entende-lo também é uma dualidade temática que Bolaño trabalha, assim como todo o livro ser narrado de maneira jornalística, mas isso não permite um acesso à instancia do “real” e sim instiga a pensarmos na veracidade desta narração, pois em vários momentos em que o autor não estava presente, ele descreve as cenas com “A partir daqui meu relato se baseia de conjecturas,”, “Só pode ter sido assim”. Em poucos momentos há certeza clara, o narrador fica-nos lembrando de que isso pode não ser o que realmente ocorreu, mesmo quando volta a participar ativamente da caça de Carlos, em seu final há a sombra da ambiguidade.

Estrela distante, por seu tamanho e concisão, não é tão complexo quanto as obras de mais fôlego do escritor, mas é o primeiro grande livro dele por consolidar seu estilo que flerta aqui da maneira mais direta entre o metalinguístico e o horror do mundo que nos cerca. O poeta é o assassino, a morte contém beleza, nos poemas há a morte e a dita cuja tem sua função dentro da história. E ainda é mais genial por conseguir criar na concisão de suas 144 páginas, todo o labirinto espelhado que Bolaño cria em sua narrativa. Um clássico contemporâneo e uma porta de acesso perfeita para quem quer se aventurar com o grande Mestre Chileno"

site: http://espanadores.blogspot.com.br/2013/06/leituras-compartilhadas-o-clube-de.html
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Marc 27/08/2012

Dialética do Esclarecimento
Para mim uma leitura aterradora. Sai do livro com um gosto estranho, como daqueles dias que todos vivemos e que vão terminando de maneira desoladora. Difícil explicar, mas sei que a sensação não é estranha a ninguém. Quando criança, esses dias tinham data e horário para acontecer: domingo, por volta das 10 da noite, quando chegava a hora de dormir para acordar cedo no dia seguinte e eu tinha a plena sensação de que aquele dia tinha mesmo acabado e que não havia nada que se pudesse fazer...

Enfim, creio que essa sensação é a que o narrador do livro deve ter sentido também. Apenas a sensação de que as coisas que se passaram não podiam ser mudadas e que o mesmo iria acontecer muito em breve. E as coisas que haviam se passado eram o nazismo, o fascismo e elas não apenas voltaram a acontecer como poderão acontecer novamente. Claro que minha breve nota pessoal não serve mais como parâmetro para se descrever a intenção do autor, mas ao menos indica a náusea que é o primeiro sintoma das coisas que vemos e que fogem a nosso controle.

Mas o mais aterrador mesmo é a demonstração de que a violência pode andar ao lado, de mãos dadas, com o que consideramos de mais elevado no espírito humano. Quantos de nós já não ouviram a clássica referência à educação como se ela fosse capaz de evitar que uma série de coisas perigosas acontecesse? Solução para um país que vota por um prato de comida, para pessoas que são humilhadas e atiradas ao lixo da falta de conhecimento para mudar suas vidas. E muitos de nós se convencem de que se o governo investisse em educação, o país finalmente iria rumo ao futuro que tanto merece. Ora, mas e as figuras que adoram arte, que se dedicam com afinco a conhecer a música, filosofia, artes plásticas e mesmo assim são capazes de matar e destruir?

E justamente isso faz o livro ser aterrador, porque no fundo percebemos que não há garantia contra tudo que muitas vezes consideramos superável. Não há certeza de que um dia possamos parar de matar em nome do que quer que seja. A mesma civilização capaz de produzir um Goethe, um Van Gogh, um Stravinsky, é capaz de criar máquinas e métodos cada vez mais eficazes de tortura e assassinato. O nazismo, mais uma vez, foi pródigo nisso. O país da civilização nos mostrou que talvez justamente o que nos faz progredir em “espírito” é o mesmo que nos faz progredir em crueldade e violência. É essa “dialética do esclarecimento” que Bolaño explicita aqui, embora usando um exemplo mais próximo a nós latinos.

Certamente, por insistir em deixar muitos espaços sem explicação, como geralmente é a vida, a figura de Carlos Wieder se torna mais concreta. E isso assusta, porque não paramos de pensar que o mesmo sujeito respeitável, exemplo de conduta, uma pessoa inteligente e que nos agrada a companhia, pode muito bem ser um torturador ou qualquer coisa similar a serviço do Estado. Uma pessoa acima de qualquer suspeita, como geralmente são essas pessoas, mas que estão a nosso lado e são nossos amigos. O livro é um grande exemplo de como a violência do Estado pode ser palpável e complexa, atuando calmamente, com uma tranquilidade de predador mirando uma presa que ignora absolutamente seu destino.
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Marcel 01/08/2012

Confuso!
Estrela Distante de Roberto Bolaño, conta a história de Carlos Wieder, piloto e poeta, além de assassino nas horas vagas.

Bom, achei um livro muito confuso, o Bolaño se perde com os personagens, parece mais cronicas de cada personagem no livro, do que sobre Carlos Wieder.

Não sei se era para ser assim ou esperei muito pela resenha de capa escrita por Eduardo Sterzi, neste livro nas coleções da Folha, ele dá a entender que se trata somente de Carlos Wieder, mas não foi isso que enxerguei no livro.

Ainda, Roberto Bolaño fala muito dos poetas/artistas chilenos, para vc entender bem Estrela Distante, tem que saber um pouco sobre o Chile.

O bom é que o livro é bem curtinho, não atrapalha a sua vida literária e as ultimas folhas dão um pequena suspense, até gostoso de ser lido.

Não sei se indico para algum amigo...

Boa leitura!
Marcianeysa 10/12/2022minha estante
Estou com a mesma impressão que você. Ainda não terminei, mas quase abandono.
A "sorte" é que ele escreve bem demais


Marcel 18/02/2023minha estante
Terminou? rssrsrsrr


Marcianeysa 18/02/2023minha estante
Terminei, super concordo com sua resenha!




Isolda 15/06/2011

Apenas minha experiência com o livro
A leitura deste livro foi sugestão do grande amigo Rodrigo Freire. Não tardou, comprei o livro e logo tratei de mergulhar em sua trama. É bastante peculiar o modo como Bolaño implica personagens inventados e figuras reais, produzindo no leitor a necessidade constante de permanecer ali, preso à leitura e tomado pela "realidade" ficcional.
"O trato com os livros exige certo sedentarismo, certo nível indispensável de aburguesamento". Apesar de Freire não concordar muito, esta é uma frases que grifei em meu exemplar. Recomendo.
Gustavo.Campello 21/02/2015minha estante
To lendo o livro e vi seu comentário e fiquei na dúvida..... é o mesmo Rodrigo Freire que escreveu Como Elefantes ao Mar?




Martha Lopes 24/04/2010

Sobre o livro
Filmes e livros baseados em histórias reais despertam um fascínio particular. Mais do que divertir, a trama satisfaz uma espécie de desejo voyeurístico, revelando detalhes de uma vida real, além de servir como exemplo ou guia para os leitores/espectadores. Mais fascinante ainda é quando não se sabe se a narrativa é verídica e o tom do autor aumenta a confusão.

Um dos maiores mestres na façanha é o argentino Jorge Luis Borges. Em contos como "Biografia de Tadeo Isidoro Cruz" e "Emma Zunz", do livro "O Aleph", ele relata acontecimentos fictícios fantásticos usando referências históricas verdadeiras.

É nesse estilo que se apoia "Estrela Distante", do chileno Roberto Bolaño, lançado no Brasil em novembro. A obra, que se passa durante a ditadura chilena, conta a busca de um poeta por Alberto Ruiz-Tagle, um colega da turma de poesia da faculdade, que supostamente assume a identidade do aviador Carlos Wieder ao longo do período repressor.

A matéria completa está em http://www.colheradacultural.com.br/content/20091222000331.000.4-N.php
Vinnie 13/07/2012minha estante
Acho que Bolaño está mais próximo de Doctorow e de Dos Passos que de Borges. A aproximação dos latinos é frágil e fácil.




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