Tamara 22/07/2017
*Resenha postada originalmente e na íntegra em: http://rillismo.blogspot.com.br/2017/07/resenha-orfa-8-por-kim-van-alkemade.html
É fato que eu não leio qualquer história sem antes ler a sinopse, e quando uma sinopse se mostra dramática e triste, isso tende a me chamar muita a tenção e sempre fico com vontade de ler o livro em questão; e foi exatamente o que aconteceu com esse livro. Então, assim que o tive em mãos, fiquei cheia de expectativas, e assim que sobrou um tempinho, comecei a leitura. Preciso dizer que é uma história que começa muito bem; o primeiro capítulo, trazendo Rachel, uma garotinha geniosa, ingênua e muito inteligente nos toca e cativa, e a situação da família é bastante real e vívida. Logo, ocorre o incidente que é o desencadeador de todo o resto da história da garotinha e de seu irmão, e a partir daí o tempo dá um salto, passando para a vida adulta de Rachel, quando ela já é uma enfermeira. Confesso que lamentei, de certa maneira, esse salto no tempo, pois o momento de 1919 estava me prendendo muito, mas logo me vi envolvida também no presente da enfermeira, assim que a médica chega ao lar de idosos. A partir daí, retornamos e entendemos o passado de Rachel, como foi sua experiência no orfanato, e acompanhamos toda a sua saga.
Porém, admito que ao chegar ao final da história eu me senti levemente decepcionada; não que o livro seja ruim, pelo contrário, ele traz uma variedade de temas muito importantes, e é uma obra bastante dinâmica, com drama, romance e as vezes até um certo suspense sobre o destino dos personagens. Mas, ainda assim eu esperava mais. A partir de tudo que nos foi apresentado, de tudo o que vivenciamos junto com a protagonista, eu esperava um final um tanto impactante, ou emocionante, ou menos aberto, digamos assim; pois ao virar a última página fiquei parada alguns segundos, me questionando o que viria depois e como poderia estar acabando naquele instante. Fiquei com um certo sentimento de que a autora começou com uma grande ideia, mas não sabia como terminar aquilo tudo de forma adequada, e só terminou assim, de uma forma meio aleatória.
Os pontos que mais foram positivos para mim certamente estão nos temas apresentados. Em primeiro lugar, a autora aborda um romance lésbico de uma forma bonita, interessante e instigante, apresentando isso em uma época em que existia muito preconceito e uma proibição quase velada a esse tipo de relação, que se mostrava imoral e muito fora dos padrões. Além disso, ela retratou a vida no orfanato de uma forma vívida, realista, mostrando que as coisas não são tão terríveis quanto parecem, uma vez que lá as crianças tinham companheiros, aprendiam muitas coisas, possuíam um lar e alimentos, e viviam em um lugar muito melhor do que muitos que viviam na pobreza ou nas ruas, mas também mostra que não é tão perfeito, pois todas as crianças deveriam crescer ao lado de suas famílias, recebendo o máximo de carinho e atenção. Ainda, a autora fala sobre experiências com crianças, que senti ter um tom de realidade, e experiências que acabaram marcando muitos por toda uma vida, como no caso da protagonista da obra. Posso destacar ainda, que achei muito boa a abordagem dos Judeus que a autora fez, e mesmo que ela tenha fugido um pouco do padrão de trazer somente a história de judeus da segunda guerra mundial, isso foi ótimo, pois realmente, na maioria das vezes que ouvimos falar do povo judeu, é durante o holocausto.
Porém, conforme já mencionado, o final da obra foi uma das coisas que mais me incomodou, embora, quando estava na metade do livro, já me perguntava se a autora conseguiria terminar toda aquela história de uma boa forma, então, o final um tanto esdrúxulo não se tornou uma grande surpresa para mim, mas ficou sendo o ponto mais negativo que encontrei a destacar no livro. Ainda, em alguns momentos achei que algumas coisas acabaram se tornando mal explicadas, como por exemplo ao final, Rachel está usando uma peruca que lhe foi muito importante durante toda a vida. Mas ao ver esse uso, sua companheira menciona que não entende o porquê ela está usando "a velha peruca", então fiquei intrigada com o que há por trás de ela parar de usar a tal peruca; ou ainda senti falta de uma maior exploração do judaísmo no orfanato, dentre algumas outras pequenas coisas.
Não fui cativada por nenhum personagem em especial. Apenas gostei de todos, mas sem um favorito, exceto Rachel enquanto pequena, que me cativou muito. Ela, Rachel, é uma mulher cheia de segredos, devido ao seu relacionamento, e por isso é calada e introspectiva em seu ambiente de trabalho. Ainda, temos Mildred, a médica, que é uma mulher que está passando por seus últimos dias de vida, e que não se arrepende de nada do que fez, e achei isso triste, é claro, mas também bastante vívido, pois é algo que muitas vezes ocorre na vida real. Outro personagem interessante, e sobre quem fiquei querendo saber um pouco mais foi Sam, o irmão de Rachel, que viveu no orfanato, lutou na segunda guerra e se tornou um grande defensor dos judeus, e confesso que fiquei desejando um livro relacionado a ele.
A obra é dividida em vinte e dois capítulos, que se alternam entre uma narrativa em terceira pessoa, e em alguns momentos em primeira pessoa, sendo Rachel a narradora principal. A leitura foi realizada em ebook e não encontrei erros.
Recomendo o livro para leitores que gostam de histórias tocantes, emocionantes e que levam-nos a pensar e refletir sobre como as coisas poderiam ser se alguns fatos tivessem ocorrido de forma diferente, e livros que nos levam a mergulhar de cabeça na história, vivenciando outra época e outros costumes.
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