Maria - Blog Pétalas de Liberdade 13/07/2017Resenha para o blog Pétalas de LiberdadeO narrador e protagonista é o Samuel, um professor já na casa dos quarenta anos que mora com seu gato de estimação, tem uma namorada e, como melhor amigo, um escritor idoso de livros de autoajuda chamado Titus que mora num apartamento vizinho. Uma vida pacata, a do Samuel.
"A única coisa boa de ser um homem que se comporta com moderação é que as catástrofes nunca são imensas." (página 146)
Até que ele recebe um cartão postal sem remetente, vindo do Japão, apenas com a imagem do gatinho com a pata erguida e os dizeres "Wabi-Sabi". Dias depois, outra correspondência misteriosa chega em sua casa. Devido a um acontecimento que deixa o Samuel muito triste e abalado, ele acaba sendo convencido pelo Titus a ir pro Japão (já que ele estaria de férias da faculdade onde trabalha) tentar descobrir a origem dos cartões postais e o que significa a expressão "Wabi-Sabi".
"- Parece que você tem um amigo fiel em Quioto. O outro foi enviado da mesma cidade.
- Amigo fiel? Não conheço ninguém em Quioto nem em nenhum lugar do Japão. Deve ser um engano.
- Nenhum equívoco acontece duas vezes da mesma maneira. Além do mais, seu nome e endereço estão escritos no espaço reservado ao destinatário. Não há erro.
Peguei um banco para me sentar ao seu lado, como um menino que procura o conselho e a proteção do pai. Eu precisava das duas coisas, porque estava ferido e perdido como um cão na estrada." (página 50)
"Wabi-Sabi" é um livro simples, e de certa forma, real. Não espere muito da história, não se iluda imaginando algo mágico ou grandioso. Samuel é um homem comum, solitário, que vai viajar para um país que tem uma cultura diferente e vai nos contar sobre essa viagem e sobre esses lugares que ele viu. Aliás, me pareceu que muito do Samuel foi inspirado na própria vida do autor. É um livro bem curtinho, com uma escrita fluida, que pode ser lido rapidamente. Um dos pontos fortes da obra é a forma como o autor faz com que nos importemos com os personagens e seus dilemas, com suas dores; falando em dores, para quem já leu: que tensa a situação da Mizuki, hein?! É um daqueles livros que terminamos de ler, mas continuamos pensando nos personagens que conhecemos, como se eles fossem amigos novos que ganhamos.
"Em geral não há coisas bonitas ou feias, mas olhares bonitos ou feios." (página 147)
Sobre a expressão que dá título ao livro:
"Wabi-Sabi se refere à beleza do que é imperfeito, temporal e incompleto. Essa concepção, como tantas outras da cultura japonesa, é inspirada na observação da natureza. Nada é perfeito na natureza, ou pelo menos não no sentido geométrico euclidiano como concebemos a perfeição no Ocidente, dado que é cheia de assimetrias. Nada é permanente na natureza, já que tudo na vida nasce e morre e está em constante mudança, pois a ideia de completude é apenas uma abstração criada pela mente do homem." (página 54)
A editora fez uma capa linda para o livro, mais bonita que todas as estrangeira que eu vi (veja uma aí ao lado) e que tem vários elementos que condizem com a história. As páginas são amareladas, a revisão está boa, a diagramação traz letras, margens e espaçamento de bom tamanho.
"Como se eu já não estivesse confuso, justo antes de atravessar a porta do ryokan, um gato preto cruzou meu caminho a toda velocidade. Repeti a frase de Groucho Marx para não achar que o azar havia desabado em cima de mim.
- Se um gato preto atravessa seu caminho, isso significa que ele está indo a algum lugar - repeti como se fosse um mantra." (página 114)
Enfim, "Wabi-Sabi" foi um livro diferente do que eu esperava, mas que eu gostei e recomendo. Foi bom aprender sobre a beleza do que é efêmero e imperfeito. Foi bom conhecer um pouquinho do Japão através dos olhos do Samuel (e do autor, visto que o Francesc fez algumas viagens ao país), e dos personagens que o autor criou, como o querido Titus, a Mizuki e o avô, a Meritxell e todos os outros personagens que cruzaram o caminho do protagonista em algum momento. Só senti falta do reencontro do Titus e do Samuel no final, queria ser uma mosquinha pra ver o que aconteceria por causa de uma certa coisa que um deles aprontou!
Em resumo o que eu posso dizer é que "Wabi-Sabi" foi uma leitura para pensar sobre o que já conheço, o imperfeito e o efêmero, mas também para conhecer novas coisas, novos pedacinhos do mundo, e algo que eu conheci e que deixo aqui para vocês ouvirem é a música Lost Song do Olafur Arnalds.
"Wabi é a sensação provocada pelo céu de um entardecer de outono, a melancolia da cor, quando cessou qualquer som. Esses momentos em que, por alguma razão que a mente não pode explicar, as lágrimas começam a correr de forma incontrolável." (página 101, eu já senti isso, e vocês?)
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