z..... 12/11/2019
Adaptação em HQ (Peirópolis)
Sombrio, surreal, surpreendente, sensacional! Prende a atenção do início ao fim, com dois momentos viscerais, provocativos à reflexão.
Tem o despertar num mundo em trevas, onde a solidão e incertezas instigam loucura, com a personagem sofrendo numa noite sem fim, desesperada por entendimento, introspectiva, perdida em incompreensões, a ponto das ideias e descobertas serem dolorosas na percepção das peculiaridades daquele mundo, fustigando o desespero tal qual um demônio. É a solidão e entrega ao medo, expressa principalmente na visão de todas as pessoas mortas para o protagonista-narrador.
Depois a confiança renascendo do amor, que brota no reencontro com a amada Laura. Em seu estado tenebroso e esquisito, até então entregue à morte e loucura na solidão, o casal é transformado pela cumplicidade no reencontro, numa força que substitui o medo por desafio à sobrevivência, neste conto desenrolando-se surrealmente, dando sensação duma história comum, repetida por gerações, até o fim dos tempos.
Não conhecia o conto e agora está entre meus preferidos.
Entre as abordagens possíveis, achei interessante também o texto de apresentação equiparando o momento às perspectivas de descoberta do mundo por Adão e Eva após saída do Jardim do Éden, onde as apreensões instigavam temor e terror do desconhecido na interpretação editorial. Curiosa a analogia...
Em relação à adaptação em HQ, o texto fantástico sobrepõem qualquer ilustração, seja tosca ou não (e são). Os desenhos, diante da grandeza narrativa, são insignificantes. Aspecto curioso, pois costumo basear as avaliações de quadrinhos (assim como a maioria dos leitores, creio) boa parte instigado pela concepção visual da obra.
Sem mais lengalenga, o conto é uma obra-prima de Aluísio Azevedo.