Bianca Patacho 26/06/2017Divertido e apaixonanteTal mãe, tal filha é o novo trabalho de Clara de Assis, lançado recentemente em versão Digital na Amazon. Clara é daquele tipo de autora que eu leio até a lista do supermercado. Para você ter ideia do quanto sou apaixonada pelos livros dessa pessoa. Eu conheci o trabalho dela há alguns anos atrás quando li, ainda no Wattpad, o romance Aluga-se um noivo e, a partir daí nunca mais parei de acompanhá-la. Embora muitos desconheçam, ela tem um série teen publicada no Nyah Fanfiction chamada A Aposta, que está na segunda temporada e foi a única coisa que eu já li naquela plataforma e sou apaixonada também. Além deles, na Amazon você também pode encontrar os dois primeiros volumes da série Dragão de Jade (Dragão de Jade e Esfinge) e, ainda, o conto Faz amor comigo?.
Nesse momento, vou dar uma de metida e dizer que ela tem um trabalho engavetado maravilhoso. Eu já tive o prazer de ler ;-). Assim que for liberado eu venho contar correndo para vocês porque a resenha dele já está prontinha. Só o que eu posso adiantar é que a previsão é para após a Bienal do RJ 2017.
Enfim, vamos falar sobre o livro de hoje: Tal mãe, tal filha.
Allison Hamilton é uma jovem batalhadora que conseguiu o emprego dos seus sonhos. Agora ela estava em uma disputa acirrada por uma promoção no trabalho, a vaga de Editora de Moda. Sem dúvidas ela era muito competente e teria grandes chances de chegar lá. O grande problema é que no meio do caminho uma pequena mentira tomou grandes proporções e acabou colocando-a em uma grande confusão: Ela precisava de uma filha, tipo, para ontem.
Para se livrar do assédio de um colega de trabalho ela acabou inventando que tinha uma filha e usando-a como desculpa. Agora, a chefe da redação propôs que Alisson e a filha ilustrem a edição de maio da revista e sem ter para onde correr, ela acabou entrando nesse barco furado.
“(…) Mesmo sem pretensão, embora tenha sido em momento financeiramente oportuno, estava disputando uma vaga para o cargo de Editora de Moda. A Heat tinha uma equipe de excelentes profissionais (e duas grandes cobras, que também disputavam a vaga). Eu estava indo muito bem, até que aconteceu isso, eu precisava impressionar Elizabeth Peddleton, a qualquer custo. (…)”
Alisson não tinha uma boa relação com a família, especialmente com a mãe. Quando criança, a prima órfã Carolyn veio morar em sua casa e fazia questão de implicar com ela e menosprezá-la. Sua mãe, no entanto, sempre defendia a prima e o que deveria ter sido apenas um ciume bobo de criança vira uma mágoa que a acompanha até a vida adulta. Em sua família seu trabalho não era valorizado e por isso ela tinha necessidade em se afirmar bem sucedida perante eles. A ultima coisa que ela queria era passar atestado de fracassada para família, principalmente para a prima cobra.
Ela não tinha dinheiro sobrando, pelo contrário. Para manter o padrão de luxo em que vivia ela estava sempre com a corda no pescoço. Ela estava sempre devendo o pagamento de algumas taxas e as vezes até o cartão de crédito. Mas nada disso importava. Com aquela promoção ela ganharia mais e consequentemente poderia viver melhor a vida que escolhera para si.
“(…) Claro que eu estava sempre com a corda no pescoço, a cada mês eu atrasava uma conta diferente. Um mês era o cartão, no outro a taxa de iluminação, depois eu acertava tudo e passava o mês comendo queijo branco e uvas verdes. Acreditem, se estou magrinha assim, é por uma questão de prioridades. Um filé na manteiga ou uma Fendi? Claro que a Fendi. (…)”
“(…) Não, não pensem que eu sou fútil e metida a riquinha, querendo levar um padrão que eu não tinha, tratava-se de uma questão de honra provar para todos que eu não era a fracassada que eles imaginavam, de quem passaram anos rindo e debochando, enquanto a “coitadinha da Carolyn” era uma vencedora por abrir seu próprio negócio de venda de quinquilharias. Veja bem, aguentei anos de piadinhas sarcásticas sobre eu ter escolhido a faculdade de moda. (…)”
Vivendo sobre a pressão entre se sobressair no trabalho e conseguir alguma desculpa para não ter que apresentar sua suposta filha, um dia chegando em casa ela sente uma forte pancada no tornozelo quando ia entrar no elevador. Ao se dar conta do que havia se passado, ela conhece Amy, uma vizinha de 10 anos que a acertou com seu skate.
Amy é uma criança linda e vivendo uma fase meio rebelde. Ela perdeu a mãe e o pai está sempre ausente. Assim, ela é desleixada com a aparência e está sempre aprontando. Na verdade, tudo que ela quer é atenção e suas peraltices são a sua maneira de chamar a atenção do pai.
“(…) Amy é terrível, também adorável e muito carinhosa. Por favor, Srta. Hamilton, sei que não é da minha conta, mas… não posso deixar de defender a Amy, ela é uma garotinha realmente adorável. Se contar algo mais para o pai dela, esta menina não vai sair do castigo nunca. (…)”
Novamente elas se encontram no elevador e enquanto a menina tagarelava falando o quão tedioso era estar de castigo e sobre sua vida chata, Allison tem um Insight. Amy seria a criança que a salvaria! Agora bastava apenas chegarem a um acordo.
“(…) A Amy não era uma garota tão difícil quanto tentava aparentar. Ela só precisava de alguém que conversasse com ela como uma pessoa, não como uma criança ou alguém com deficiência “coercitiva”. Me deu a mão na hora de atravessar as vias e era falante e determinada. Uma pena que o senhor carrancudo, que era o pai dela, segundo informações da própria Amy, não lhe dava atenção. (…)”
Conforme Alisson e Amy vão passando mais tempos juntas, vão formando um laço de amizade. Alisson passa a entender as demandas de Amy, conversando com ela, levando-a à pequenos passeios sorrateiros mas, acima de tudo, dando atenção e apoio. Em contra partida, Amy começa a ser mais educada no trato com as pessoas, menos mal criada, mais arrumadinha e ambas a cada dia tornam-se mais amigas e mais cúmplices, como verdadeiras mãe e filha.
No trabalho, a pressão em cima de Allison só aumenta. Sua chefe direta, com a desculpa de preparar-lhe para o possível novo cargo, começa a passar muitas de suas atribuições para Allison. Sobrecarregando-a. Sem alimentar-se adequadamente e num ritmo de trabalho intenso, o corpo cobra a conta e ela passa mal no hall de entrada do prédio. Ela é amparada por um homem lindo que já tinha chamado sua atenção em outras ocasiões. O que ela não contava é que esse homem fosse justamente John Evans, o pai de Amy.
A atração entre eles é imediata mas ela ainda tem reservas com ele pelo que Amy contou. Aos poucos ela vai conhecendo-o melhor e entendendo seu lado, tornando-se uma espécie de ponte de aproximação entre pai e filha. Todavia, o acordo entre elas precisa permanecer oculto pois ele jamais o aceitaria. E, além disso, ela tem medo da reação de Amy com um possível envolvimento dela com John. Alisson é uma amiga leal e não quer trair a confiança de Amy.
Agora, mais que antes, a vida de Allison está de ponta a cabeça. Ela tem que lidar com a pressão no trabalho, a capa com Amy, sua relação com a menina e o sentimento que está nascendo em relação a John. Como isso vai terminar? Ah, aí só lendo Tal mãe, tal filha para saber!
O livro é todo narrado em primeira pessoa pela Allison e de uma forma fluida e muito divertida. Um traço marcante da escrita da Clara de Assis é que seus livros usam uma linguagem bem cotidiana e de fácil entendimento. Eles são sempre certeza de boas gargalhadas e nessa história você vai dar várias. A Allison é muito atrapalhada e comete inúmeras gafes, criando cenas muito cômicas. Ela me lembrou de longe a Bridget Jones, de O Diário de Bridget Jones, com as mancadas que dá. Mesmo com esse estilo leve e descontraído, ela não deixa de abordar temas relevantes como o assédio sexual em ambiente de trabalho.
O enredo é bem desenvolvido e marca bem as fases da história sem deixar nenhum hiato. É divertido e muito envolvente. Leitura de folego único. É um livro relativamente curto mas isso não quer dizer que falta algo, porque absolutamente não falta!
Os personagens são bem construídos e tem personalidades bem distintas, o que acaba se tornando algo interessante. De um lado temos uma mulher meio maluquinha, atrapalhada, mas decidida e bem segura de si. De outro, temos um homem formal e sério para os negócios, mas inseguro e traumatizado na vida pessoal. E a Amy, é uma joia a parte. Todas as inseguranças e atitudes tipicas da infância são muito bem representadas na figura da espoletinha.
Os cenários ambientam perfeitamente a história, em especial o núcleo da redação da revista Heat, desde a descrição do mobiliário, à rotina de trabalho, a politicagem e a rede de intrigas nas relações hierárquicas de trabalho. Também me encantei pelas descrições dos passeios que a Amy e a Allyson fazem, fiquei até com vontade de conhecer realmente estes locais.
O engraçado é que em um primeiro momento eu não entendi a escolha desse título – Tal mãe, tal filha. Todavia, na medida em que eu ia conhecendo e observando o comportamento de Amy e Allison não foi difícil perceber as similaridades e a conexão entre elas e aí realmente tudo fez sentido.
Lido em sua versão digital. A obra apresenta boa revisão e diagramação. A capa remete ao problema gerador de toda a deliciosa confusão em que a protagonista se envolveu.
Divertido e apaixonante. Venha conhecer e se apaixonar por esse trio que é certeza de boas risadas e muitos suspiros.
Bianca Patacho
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http://www.livrosdocoracao.com.br/tal-mae-tal-filha-fazer/