Andressa 02/09/2021
Por mais livros cheios de emoção assim
Um Farol no Pampa é o segundo livro da série A Casa das Sete Mulheres e traz em seu interior a história de Matias, o neto amado de D. Antônia, filho de Mariana e João Gutiérrez, enquanto se atrela às velhas personagens já conhecidas no livro anterior. A autora, Leticia Wierzchowski, tem uma escrita tão poética e, ao mesmo tempo, tão crua e delicada que impregna no leitor toda sorte de sentimentos ao ser enveredado numa costura de acontecimentos retratando mais guerra (a que acabou e a que virá, conhecida como a mais sangrenta da América do Sul), o crescimento dos filhos de Bento Gonçalves, mais desencontros, da lamentável escravidão e mais da familiar angústia de Manuela em sua longa espera por seu eterno amado.
Enfatizo o 'mais' não de uma maneira cansativa, Leticia sabe bem como mesclar o novo e o velho sem tirar o brilho de ambos. Para os leitores que se conectaram às histórias das sete mulheres e sentiram saudade, em Um Farol no Pampa, temos a chance de novamente fazer parte de suas rotinas, agora, cada uma em sua casa, com os problemas de seu próprio círculo, ainda muito afetadas pelo fim da Revolução Farroupilha, enquanto buscam manter o controle e algum tipo de normalidade após dez anos de distância e sofrimento.
Em consequência dos acontecimentos no livro anterior, Matias viveu por algum tempo afastado da família por causa de sua avó de sangue, porém, ao contrário da solidão que poderia sentir, ele encontrou na casa de D. Antônia a alegria, aconchego e uma vó que viria a ser um referencial, a pessoa mais especial de sua vida. Vó Antônia era a sua família. E Inácia, filha de sua tia Perpétua, o seu grande amor.
No início da leitura, não achei que fosse gostar muito, a delicadeza da escrita e da história continuava a mesma, mas não tinha o frescor de favorito como o primeiro livro. Porém, conforme as coisas foram se desenrolando e a Guerra do Paraguai arrebentando, me vi imersa outra vez no Rio Grande, emocionada com as perdas, com as dores e as escolhas de Matias. Assim como a vó Antônia, também quis protegê-lo do que viria e foi dolorido ler sua situação como soldado durante a guerra, assim como o último diálogo entre ele e Inácia. Por ali, não haviam gritos, nem discussões, apenas murmúrios, febre, lágrimas e, de alguma forma que só a escrita da autora é capaz de explicar, aquela cena de apenas duas páginas, me impactou pra valer. De repente, eu tinha um livro favorito nas mãos e um coração com buraquinhos.
E não para por aí. Manuela se apossou do sentimento de amargura que, ora divertia com o tamanho de sua ironia, ora dava raiva ou, até mesmo, pena por escolher desperdiçar a vida por um homem que nunca a amou. O livro também apresenta entre interlúdios, Antônio Gutiérrez, filho de Matias, que aos trinta anos vai atrás da herança, deixada pelo pai, A Estância do Brejo. É um personagem que, a princípio, não instigou muito interesse, mas mostrou o seu valor no tempo certo e, no final, partiu o meu coração novamente.
Um Farol no Pampa é uma sequência ainda mais emocionante que A Casa das Sete Mulheres e, absolutamente, necessária. Amei a experiência de conhecer um pouquinho mais do Rio Grande do Sul, de seus pampas, charques e mate gaúcho, da realidade de seus conterrâneos durante a penosa Guerra do Paraguai e do personagem incrível que é Matias. Pretendo refazer a leitura em um futuro breve só pelo tanto de emoções que me trouxe. Na verdade, bom mesmo seria, se todos os livros me impactassem dessa forma, mas como não é possível, me contento em chamá-lo de favorito.