Retipatia 05/11/2018
#chewbecca
Rebecca é jovem e acaba de se mudar para Maringá, no Paraná. Vinda da pequena Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo, tudo tem o sabor de novidade. Mas nada que seja motivo de distração, Becca é estudiosa e sagaz, nada irá lhe tirar do seu principal foco de vida: os estudos. Em especial quando suas aulas na faculdade de Letras, que ela tanto sonhou, estão prestes a começar.
Tudo em seu plano parecer dar certo: os colegas que irão dividir o apartamento parecem receptivos, seu quarto possui exatamente tudo que ela precisa e, chegando na cidade um mês antes do início das aulas, dificilmente algo poderia dar errado. Tudo isso não fosse o vizinho rabugento e mal educado que acaba de se mudar para o apartamento de frente ao de Becca. Em um único encontro, ele parece propenso a ser mau educado sem a menor das razões. Não que isso seja realmente um problema, já que, afinal, o que um vizinho pode afetar em sua vida?
Apesar de ser difícil tirar a visão do corpo escultural do seu vizinho da cabeça, que, é claro, "não passa de uma versão grosseira do Chewbacca", Becca força seus pensamentos a se concentrarem nos estudos, porque, de uma coisa ela tem certeza, evitar os erros de sua mãe, que tanto lhe assombram é, definitivamente, sua prioridade de vida. Mas, problemas surgem. Após a primeira aula, seu colega de casa, Arthur, já lhe conta sobre o pior professor que resolveu aparecer na UEM: Adônis, que logo seria conhecido como o Carrasco.
Apesar dos avisos de Arthur, Becca acaba fazendo exatamente o que não deveria: se atrasar para a primeira aula do Carrasco, digo, professor Adônis. E, como se a surpresa em descobrir que Adônis-Carrasco é igual a Vizinho-Mau-Humorado-Sarado-Chewbacca não fosse suficiente, os dias de Becca nas aulas de interpretação de texto passam a ser um verdadeiro redemoinho de terror. Se, com todos os alunos Adônis fazia questão de ser extremamente exigente e grosso, com ela, a situação era bem pior.
Nada que tire Becca de seu caminho firme nos estudos, mas, depois de sua primeira noitada numa típica festa de república e algumas biritas a mais, não é que ela encontra o próprio Chewbacca na porta do seu apartamento? Nada seria tão ruim se não fosse o fato de que, dessa vez, é Becca quem passa dos limites das boas maneiras e, depois de vomitar - literalmente - aos pés do vizinho, ela é abençoada com o agridoce esquecimento do encontro da madrugada.
Não fosse o comportamento predominantemente rude de Adônis, Becca não se sentiria tão confusa, ou compreenderia melhor o porquê de seu comportamento fora da sala de aula não ser exatamente o mesmo. Entre tropeços ocasionais nos corredores do prédio, ela sabe: um sentimento perigoso está surgindo.
O que impede Chewbacca-Adônis de se abrir para Becca, contudo, é algo que marcou seu passado de maneira tão cruel que ainda lhe traz pesadelos que lhe fazem gritar e perder o sono com frequência. Além disso, seus planos não envolvem nutrir sentimentos por alunas ou, tampouco, investir em algo que ele sabe que, em breve, precisará findar.
Numa brincadeira de verdade ou consequência, Becca é trancada para o lado de fora do seu apartamento. Sua consequência é: entrar no apartamento do Carrasco. E, não é que ele a permite entrar? A porta aberta aqui, tem dois sentidos, a de permitir que ela não passe a noite no corredor do prédio e a entrada definitiva em sua vida. O problema é que, além dos planos de Becca, de não se apaixonar, Adônis têm planos muito distintos para seu futuro, que são totalmente incompatíveis com a possibilidade de se manter um romance: ele irá se mudar de país ao fim do ano letivo.
Os dias passam e a certeza dos sentimentos que um nutrem pelo outro são fortalecidos entre encontros meio escondidos e o conhecer de um ao outro. Tudo num clima de durará "para sempre, até acabar". Mas, será que terminar e dizer adeus ao amor um do outro e esquecer tudo que passaram juntos será assim tão fácil?
27%. Esse foi o ponto em que Becca descobriu-se realmente apaixonada por Adônis, seu querido e, por vezes, rabugento Chewie. Mas, o mais interessante é que foram esses exatos 27% que eu demorei para perceber que eu também já me apaixonara e, não apenas pelo Chewie (óbvio que por ele também né... rsrsrs), mas tanto pela história, seu desenrolar e narrativa. Foi uma verdadeira sincronia de pensamentos, Becca falou consigo mesma, eu ouvi e concordei (imagino as vozes dos personagens em minha cabeça, ok?!).
Mas, para não ficar confuso, vamos por partes. Primeiro, a história em si. Lola pegou o que poderia parecer um roteiro pronto de amor entre professor e aluna e transformou em algo novo. Claro, ainda temos um professor e uma aluna que se apaixonam, mas a beleza de um romance está na trajetória de seus personagens, no modo como interagem entre si e com o leitor. E a história de Becca, que é uma narradora super envolvente e que, por vezes, chega a falar diretamente com o leitor, é não apenas um bom romance, mas uma história capaz de te fazer acreditar. Isso porque é verossímil, todas suas ações, acontecimentos e demais fatos de sua vida são bem apresentados e, o que poderia ser apenas mais um amor entre professor e aluna, se tornou num grande romance. Algo que você imagina que poderia acontecer com a sua colega de classe ou com você.
A narrativa ainda ganha alguns capítulos intercalados de Adônis. É ele quem nos conta sua versão da história, e ajuda a conhecer mais de seu personagem, motivações e passado. É um interessante recurso que nos faz gostar ainda mais da história. Mas, não se deixe pensar que sem estes capítulos não conheceríamos Adônis. Enquanto ele se apresenta a Becca e abre a porta da sua vida para ela, nós também conhecemos todas as facetas que compreendem o - já amado - Chewie.
E, já que estou falando do Chewbacca, ele é um personagem masculino excelente. Apesar de poder parecer que ele é só mais um cara grosso que quer descontar a fúria do seu mundo nas outras pessoas e que, após se abrir para o amor acaba amaciando, mas apenas para aquela que detém seu coração... livre-se dessa ideia. Este não é Adônis. Ele é um cara marcado pelo passado, um ato irresponsável mudou seu destino para sempre, contudo, a medida que sua vida volta a ser tocada pelo amor, ele se abre, não apenas para Becca, mas para o mundo. E gostei muito disso, dessa sutileza da transformação progressiva do personagem. Foi gradual e em todas as áreas de sua vida, como deveria ser. Não engulo a história de que uma pessoa pode ser boa com uns e péssima com outros e de que isso é aceitável... rsrsrs
Da mesma maneira que Chewie, Becca tem seus motivos bem fundados para não querer se abrir ao amor, já que a sua história com sua mãe passa o nível de rejeição, tendo ela sofrido bullying pela mãe durante toda a infância e juventude. Contudo, sua perspicácia é invejável. Ao mesmo tempo que ela arma barreiras em sua vida, as desconstrói quando tem certeza de seus sentimentos e de que deseja experimentá-los. Becca não dá um passo para atrás, não espera. Ela é a própria heroína do seu conto de fadas, da sua história de amor. Ou, como ela própria preferiria ser comparada, uma Katniss Everdeen que toma as rédeas de sua vida, de toda a situação e faz o que precisa ser feito. Além do seu grande vício e amor por Star Wars, Harry Potter, Jogos Vorazes, The Beatles e muitas outras coisas que amamos e que faz nosso lado nerd aflorar, Becca é uma girl power que consegue ser exatamente quem precisa ser. E, como toda boa heroína, com um pouco de ajuda, encontra seu próprio caminho para seguir a vida. E, nesse aspecto, não falo apenas da sua vida amorosa, falo realmente de quem ela quer ser e de quem se torna.
Um detalhe bem engraçado na história é que, além do apelido que Becca dá a Adônis, ele também a apelida: donzela, ou, especialmente para irritá-la, princesa. Não que Becca fique grande fã de tais apelidos no início, mas, com o tempo, até mesmo a palavra donzela começa a ter uma conotação totalmente diferente da que inicialmente soa para Becca. Mas, nada de pensar que são pejorativos ou que denotem qualquer tipo de fraqueza da personagem. Mesmo o próprio Adônis deixa claro, várias vezes (não apenas em palavras), toda a força (e a Força) que vê na garota que roubou seu coração.
É bom acrescentar que, apesar de ser a história de Adônis e Rebecca, temos vários personagens secundários muito bem construídos, que não servem apenas como apoio aos personagens principais. Fazem parte da história e seguem suas próprias vidas, seus próprios acontecimentos durante a trama. O que é ótimo, por que a vida de ninguém pára, não é mesmo?! Um detalhe especial para Arthur, que se torna um amigo inseparável de Becca e para seus avós, que são sua base de vida e, na verdade, são como seus pais. São bem construídos e acrescentam sempre à história.
Já disse que tudo é bem narrado por Becca, mas é bom acrescentar que a escrita da Lola é viciante. As páginas fluem super rápidas e a leitura é prazerosa, ela te leva para Maringá, para a UEM e para todo e qualquer pedaço de lugar que os personagens estejam. E isso é uma das coisas mais atrativas em uma leitura, sem dúvidas.
Além disso, a história ainda aborda um ponto muito legal e que, particularmente, acredito muito: precisamos ser completos por nós mesmos. O amor vem para a vida para acrescentar, para somar, sempre. Ele não pode ser usado como um band-aid para disfarçar os problemas e suprir as necessidades de cada um. Amor é fazer transbordar e, a dupla #chewbecca, transborda, e muito!
A Linguagem do Amor é com certeza um dos melhores romances que li em 2017, e sem dúvida alguma tem nota máxima no NOM (Níveis Ordinários em Magia). Uma leitura mais que recomendada já que, como o próprio título do livro indica, as páginas que serão lidas estão todas escritas em uma única linguagem: a do amor.
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