Pandora 18/01/2022Eu não costumo ler livros sobre a Segunda Guerra. Acho um assunto explorado, muitas vezes, de maneira indevida, desrespeitosa e romantizada. Porém, além deste elogiado livro ser o escolhido num grupo de leitura do qual participo, é o livro de memórias de um sobrevivente dos campos de concentração nazistas.
Eu gostei muito da forma como o livro foi escrito, sobre fatos cotidianos do campo e suas lutas diárias internas - que iam muito além do domínio nazista -, mas também com reflexões sobre a humanidade, sobre o que fazemos sob condições adversas, sobre quem podemos ser na luta pela sobrevivência.
Todas as mortes são lamentáveis, mas o que dizer dos que pereceram momentos antes da libertação ou logo após a chegada dos libertadores?
Eu tive sentimentos e reflexões similares aos que senti durante a leitura de Ensaio sobre a cegueira, do Saramago. Quando toda a nossa dignidade nos é destituída… o que sobra? É isto um homem?
“Assim como a nossa fome não é apenas a sensação de quem deixou de almoçar, nossa maneira de termos frio mereceria uma denominação específica. Dizemos “fome“, dizemos “cansaço“, “medo“ e “dor“, dizemos “inverno“, mas trata-se de outras coisas. Aquelas são palavras livres, criadas, usadas por homens livres que viviam, entre alegrias e tristezas, em suas casas. Se os Campos de Extermínio tivessem durado mais tempo, teria nascido uma nova, áspera linguagem, e ela nos faz falta agora para explicar o que significa labutar o dia inteiro no vento, abaixo de zero, vestindo apenas camisa, cuecas, casaco e calça de brim e tendo dentro de si fraqueza, fome e a consciência da morte que chega.” - pág. 182