TUDO AÍ - 40 anos de poesia

TUDO AÍ - 40 anos de poesia Osvaldo Rodrigues




Resenhas - TUDO AÍ - 40 anos de poesia


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Penalux 20/10/2017

Sensibilidade da poesia
A poesia que é sentimento. Assim pode ser definido o livro “Tudo aí” de Osvaldo Rodrigues. O subtítulo da obra “40 anos de poesia”, refere-se aos 40 anos de vida do autor, pelos quais o poeta reuniu uma coleção de poesias, avolumadas, de modo, seleto e sensível.
O poeta, Álvaro Alves de Faria faz uma crítica em relação tecnocracia da poesia, presente principalmente em um jornalismo cultural exacerbado, construído pelos campos das universidades, mas este poeta chama a atenção para a construção da poesia necessária, aquela que reúne sentimentos e transmite nos seus pequenos versos uma compreensão, não apenas prática do mundo, mas também sensível.
Neste sentido Osvaldo Rodrigues criativamente faz suas poesias, sem que para isto recorra a lugares comuns. No poema “Os vermes não comem vidro” Osvaldo traz o tema da morte, e brinca com a sensação de fim trazida por ela, quando em seu silêncio encerram-se as cenas saudosas, que são mantidas apenas pela memória “os sapatos de couro/ que outra acompanhavam os seus passos terrestres/ estavam agora rotos e desfigurados/ e com o cadarço desfiados/ amarrei-me na eternidade daquele silêncio”.
No campo do ritmo e da harmonia sonora o poeta também surpreende. Em alguns poemas, as rimas aparecem sutis, nas quais o poeta explora a semelhança vocal de algumas palavras como “desfigurados” com “desfiados”. Já em outros poemas como “Vasto” o poeta faz uma intercalação de palavras começadas com a letra “V”. Neste desafio de escalar palavras começadas com a mesma inicial, o poeta surpreende construindo um raciocínio poético, mesmo na limitação do emprego de palavras semelhantes.” Vasto/ vaso vazio vazando venenoso vento/ vacas vermelhas/ vagueiam vadias/ velozes valentes/ vales verdes vagões/ viaturas verticais/.
“Tudo aí” é uma viagem ritma e etérea por palavras de impacto, que chocam hora pela força com que suscitam imagens, ora também pela oralidade que tem o poder de cala qualquer contrariedade, apenas trazendo o silêncio da poesia que muda a maneira de se enxergar o mundo.
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Krishnamurti 19/05/2017

TUDO AÍ
Pelos idos de 1976, um jovem poeta escreveu a poesia “Despertar” que tem esses versos: “Despertai Oh! Poetas / dos aljubes, das alcovas, das masmorras / verseje um verso sublime... poeta / na angustia, alguém a ti recorra”.
Muito bem; o vate (de então), se chama Osvaldo Rodrigues que por quarenta anos seguiu pela vida afora versejando e produzindo obras de inegável valor poético. Isto de seguir na Literatura por mais de quarenta anos é que é “o negócio”. Produzir literatura (e poesia em particular), num país em que a maioria da população por questões ligadas a nossa própria formação (e outras razões nem tanto por isso), vive cega de poesia, fundindo-se como rochas nos mastros ilusórios da razão – para usar uma expressão da poeta Clara Baccarin- , é realmente um feito notável. “Tudo aí” – 40 anos de poesia de Osvaldo Rodrigues editado pela Penalux, é o testemunho vivo da estrada percorrida. Em um projeto editorial de muito bom gosto, divide-se a obra em capítulos que marcam a trajetória do poeta em 318 páginas. Desde as primeiras produções até as mais recentes que atestam a maturidade literária alcançada por este poeta. As mais recentes poesias reunidas no capítulo “Confidencial” são excepcionais, e somente essas dariam uma belíssima obra. Acertado, e muito, o comentário de Celso de Alencar que salienta a relação do poeta com a linguagem, com a palavra, com o movimento, a projetar-lhe a maturidade.
E ainda Carlos Felipe Moisés acrescenta que a pesquisa de novas formas, ritmos e modalidades expressivas, levadas a efeito pelo autor, e fruto de curiosidade e insatisfação permanentes – não é simples exercício intelectual, “mas a tentativa de encontrar o instrumento adequado à tradução dos passos de outra pesquisa que corre paralela, sobre o sentido e a razão da existência. Daí, a forte impressão que seus versos deixam de um ser humano que cresce à medida que o poeta aprimora os seus dons, e vice-versa”.
Não há mais a comentar. Trata-se de obra de percurso traçado. Disse que não há mais a comentar também, porque estou aqui digitando esse texto tomado por uma vontade imensa de transcrever várias de suas poesias. Mas, como não é possível pelo reduzido da intenção de Resenha, vai uma das mais belas, acompanhada da pergunta. Depois de ler uma coisa assim dá ou não, uma vontade louca de estar dentro de um “eu te amo”?
O AMOR TEM QUE SE PERMITIR
Se um dia fores dizer: eu te amo
certifique-se se estás cego
Se um dia fores falar: eu te amo
verifique se já tens diploma de solidão
Se um dia fores pronunciar: eu te amo
dê uma espiada nas ferrugens dos trincos
Se um dia desejares gritar: eu te amo
veja se todas as portas e janelas estão abertas
Se um dia, pelo menos, pensares: eu te amo
olhe delicadamente entre os vãos do espanto
Se um dia anoiteceres sonhando: eu te amo
Anote num papel a tua rebeldia juvenil
Se um dia amanheceres sussurrando: eu te amo
pegue o primeiro trem rumo ao paraíso
Se um dia se aventurares num: eu te amo
ignore as alturas das montanhas
Se um dia quiseres balbuciar: eu te amo
não tenha medo do abismo aos teus pés
Se um dia em tuas mãos repousar um: eu te amo
roube uma flor do jardim mais próximo
Se um dia em tua vida te assaltar: eu te amo
não te esqueça de assassinar teu senso comum
Se um dia de suicídio houver um chamado: eu te amo
reúna a criançada, vá pular corda, amarelinha, passa anel...
Se um dia em teu coração pulsar: eu te amo
será crime perfeito e florirá em teus vasos sanguíneos
Se um dia o vento soprar em teus cabelos: eu te amo
recolha as folhas deixe livre o caminho primaveril
Se um dia em teus olhos brilhar: eu te amo
mergulhe, esqueça a profundidade do penhasco
Se um dia em tua alma se permitir: eu te amo
deixe-a repousar em um terreno baldio
Se um dia teus olhares cruzarem com um: eu te amo
estenda a mão para a eternidade de silêncios
Se um dia em teus ouvidos soar: eu te amo
não vá para o trabalho
não vá para a escola
não vá para a academia
não vá para o bar
não vá para o cinema
não vá para o teatro
não vá para o parque
não vá para a rua
não vá não vá não vá
fique em teu corpo
tua casa sagrada.

Livro: “Tudo aí – 40 anos de poesia”, de Osvaldo Rodrigues. Editora Penalux – Guaratinguetá – São Paulo. 2016. 318 p.
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