Carlos.Eduardo 30/08/2017
Existe um ponto final no dia mais feliz?
O Dia Mais Feliz da Minha Vida, é um romance leve, despretensioso, gostoso de ler e que irá prendê-lo, principalmente a partir da segunda metade da história. Narra, num quase bate-papo com o leitor, os primeiros 40 anos da vida de Kaká: uma simpática garota que, se muda, ainda bem jovem, para a capital do Rio de Janeiro, no início dos anos 70 e experimenta todas os conflitos próprios de cada fase do seu crescimento até a vida adulta.
Amarrando estas fases, por meio de uma visita aos “dias mais felizes” da vida da personagem o autor nos leva, de carona, numa viagem pelos fatos mais relevantes da política, da economia e, sobretudo, nas transformações sociais observados nas últimas décadas. Estão ali: a espiral inflacionária no período da redemocratização (e seus reflexos na classe média), a consolidação da mulher independente e geradora de renda, o entendimento do alcoolismo como doença, a aceitação social das relações homo-afetivas, entre outras.
Para mim – que amo o Rio de Janeiro - foi uma delícia imaginar Ana Catarina trabalhando no Rio Sul (“numa época que os Shoppings ainda não abriam aos Domingos”), indo curtir a noite na Papagaio Disco Club ou passeando despretensiosamente na Lagoa. Para as leitoras, imagino como vão identificar-se com as situações tão particularmente femininas, vividas por Kaká. Por sua vez, os pais, certamente vão sentir um nó na garganta ao imaginar o grande conflito emocional que Cláudio e Leandro passam, quando a história os confronta com um impasse.
Por fim, como conheço pessoalmente o autor não pude deixar de identificar um sem número de referências autobiográficas na obra – o que, só acrescentava um ingrediente a mais, pois, a cada página, eu era desafiado a remontar as fronteiras em que o livro deixava a ficção e se esgueirava pela realidade.
Se eu gostei, sim, e muito. À medida em que chegava ao fim do livro, ao mesmo tempo em que minha ansiedade fazia com que corresse as páginas à espreita de saber se o autor nos reservara um grand finale, também me entristecia ter de despedir-me do convívio desta menina-mulher que curti tanto conhecer. No ponto final, vi que havia espaço para um “O Dia Mais Feliz da Minha Vida 2”, - mas ora, o que mais podíamos a esperar de um escritor cinéfilo como é Rafael Poggi.
...que fique o convite.