Ricardo Santos 28/01/2018ObrigatórioA Fantástica Jornada do Escritor no Brasil é muito útil para o leitor conhecer mais sobre os bastidores da literatura fantástica nacional. E é obrigatório para o autor que pretende fazer parte dela.
A autora Kátia Regina Souza nos conta, em formato de livro-reportagem, a história recente da literatura nacional de fantasia, terror e ficção científica. Ela entrevistou mais de cinquentas pessoas, entre escritores, editores, críticos e pesquisadores, para falarem sobre suas experiências e avaliações do passado e do futuro dessa parcela do nosso mercado editorial. É uma história de desânimo, derrotas, desistências e prejuízos, por um lado. E de desafio, conquistas, fortalecimento e crescimento, por outro.
A maior contribuição do livro é revelar a verdade nua e crua. Ser escritor no Brasil é difícil. Ser escritor de literatura fantástica é pior ainda. Mas também há outra realidade: o autor nacional de lit fan é muito dedicado, procurando sempre se aperfeiçoar e se profissionalizar; não exatamente para viver de literatura, mas para apresentar ao leitor um produto tão bom quanto os demais livros no mercado, em conteúdo e forma.
Os capítulos de A Jornada Fantástica são divididos emulando as etapas da jornada do herói. Mostra o caminho do autor, do manuscrito à publicação. Na verdade, os caminhos, considerando a autopublicação, a publicação tradicional, as plataformas digitais e a contratação de vanity presses, as polêmicas editoras pagas. O livro também tem um aspecto de utilidade pública. De alertar autores, principalmente, em início de carreira, a refletir melhor sobre suas opções e evitar ciladas. Além de dar preciosas dicas de como dever ser a postura de um autor profissional, que busca reconhecimento no meio e entre os leitores.
A Fantástica Jornada é uma leitura fluida com pouquíssimos erros de revisão. Isso graças ao talento da autora e com certeza de outras pessoas em editar bem o texto, deixando o conteúdo relevante e dinâmico.
Terminado o livro, podemos chegar às seguintes conclusões, principalmente, para quem acompanha a literatura fantástica nacional como leitor: 1) O melhor dessa literatura no Brasil está sendo produzido por autores independentes e pelas pequenas editoras, salvo raras exceções; 2) O mercado da lit fan nacional ainda está atrasado, mas há uma tentativa constante de recuperação, pelo esforço de muitos autores e de algumas editoras; 3) Esse esforço já está chamando atenção, já há algum tempo, do mercado editorial como um todo; 4) Mas isso não é garantia de crescimento no automático. A História ensina que não existe essa coisa de evolução contínua, a oscilação é um quadro mais realista; 5) A lit fan nacional está sendo mais estudada na academia, quebrando, aos poucos, uma barreira de longa data; e 6) O leitor brasileiro, pelo menos, aquele acostumado a ler, cada vez mais, está entusiasmado pelos autores nacionais de lit fan, num universo em que os autores estrangeiros têm um apelo muito forte.