O vendido

O vendido Paul Beatty




Resenhas - O Vendido


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Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

O vendido, Paul Beatty - Nota 8/10
O cenário é Dickens, uma cidade californiana que, por motivos políticos, some do mapa. O protagonista, e narrador, é “Eu”, nascido em Dickens e submetido a diversos estudos raciais – feitos pelo seu pai, um cientista social - ao longo de sua infância. A trama é a busca do protagonista pela reinserção de Dickens no mapa dos Estados Unidos e a tentativa de se livrar de uma acusação, perante a Suprema Corte dos Estados Unidos, de promover a escravidão e a segregação racial. Só com base nisso, já dá para perceber que não se trata de uma obra muito comum. De fato, a proposta do autor é trazer uma reflexão - ácida e carregada de ironia - sobre a questão racial, principalmente nos Estados Unidos. E Paul Beatty conseguiu cumprir com o pretendido. Apesar de lidar com uma temática extremamente delicada, o autor criou uma narrativa que vai se equilibrando entre os limites do humor e do racismo. Não é à toa que a obra começa com a seguinte frase: “Pode ser difícil de acreditar vindo de um negro, mas eu nunca roubei nada”. A leitura também é muito rica em termos culturais. No entanto, como o autor faz inúmeras referências a passagens e personagens históricos, em especial da cultura pop norte americana, senti que deixei de captar algumas mensagens. Talvez esse fato também tenha prejudicado um pouco a minha opinião sobre o livro. Isso porque, a leitura iniciou muito bem, conseguiu prender muito minha atenção, mas aos poucos comecei a achar a narrativa um pouco cansativa. Apesar disso, essa sensação passou mais para o final da obra e a história voltou a me interessar. Em suma, trata-se de uma obra muito impactante e atual, que consegue mostrar de forma muito clara como o preconceito passou a se manifestar de forma mais tímida, e até travestido de certo humor, ao longo das gerações, mas nunca deixou de existir.
A título de curiosidade, o livro foi vencedor do Man Booker Prize de 2016, uma dos prêmios literários mais importantes da língua inglesa. Obrigado @todavialivros pelo envio da obra e parabéns pela edição!

site: https://www.instagram.com/book.ster
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Maria Ferreira / @impressoesdemaria 28/10/2017

Humor e racismo
Este livro foi uma das primeiras publicações da editora Todavia, lançado em julho deste ano. A Todavia é uma editora nova no mercado, mas que possui títulos muito bons, O Vendido é um deles, apesar de algumas ressalvas à obra. É ótima a tradução de Rogério Galindo e muito bonito o trabalho gráfico.
O livro começa de forma bem provocativa, listando uma série de coisas que, apesar de ser negro, o personagem nunca fez. Já a partir daí o leitor pode perceber o tom do livro:
“Pode ser difícil de acreditar vindo de um negro, mas eu nunca roubei nada” (p.7).
Com uma narrativa feita em primeira pessoa, de forma não-linear, por Eu, o personagem principal que também é a quem associa-se o título, a história começa com o julgamento de Eu na Suprema Corte dos Estados Unidos, acusado de escravizar um homem e promover segregação racial em Dickens, cidade natal dele.

É uma acusação gravíssima e o pior é que de fato Eu faz isso, mas tem suas justificativas. O homem a quem foi acusado de escravizar, na verdade se voluntariou para ser escravo, praticamente obrigou o protagonista a aceitá-lo. Já em idade avançada, não dispunha de muita energia física para trabalhar de verdade, então resultava que ele trabalhava pouco. Em sua infância, foi um ator que atuou na série Os Batutinhas e o livro é permeado de relatos nos quais fica evidente o teor racista dos episódios em que ele figurava, mas não tem consciência disso, só pensa na fama.
A segunda acusação, é justificada pelo desejo do personagem de fazer com que Dickens figure novamente no mapa e para isso pinta uma faixa branca no chão ao redor da cidade, segrega ônibus com bancos reservados só para brancos e escolas, fazendo com que sejam só para negros, acredita que atitudes como estas também fazem com que a autoestima dos negros se elevem.

Eu foi criado por um pai cientista social, que usava o filho como cobaia para testar seus experimentos e teorias de como a sociedade norte-americana é racista e queria incutir no filho consciência sobre sua raça. O pai também foi fundador de um grupo de discussão em que reunia intelectuais negros em uma doceria para discutir questões raciais, denominado de Dum Dum Donuts, do qual fazia parte uma celebridade em decadência chamado Foy Cheshire, que dedica seu tempo em reescrever livros clássicos da literatura norte-americana de um modo “racialmente” correto, principalmente as obras de Mark Twain.

É um livro carregado de ironia do início ao fim. O autor expõe como o racismo é disfarçado de camaradagem e faz críticas sociais que nos levam a refletir sobre o modo como deixamos que a sociedade interfira em nossas ações.
Recheado de citações, alusões a fatos históricos e literários, é inegável o humor corrosivo, que faz rir mas também faz sentir culpa por estar rindo de algo que não necessariamente é engraçado. O livro é tapa na cara atrás de tapa na cara.

Pessoalmente, me incomodou esse uso constante do humor para tratar de um assunto tão sério quanto foi a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Por vezes, senti que não entendi a piada que estava sendo contada por falta de um conhecimento específico e acho que essa pode ser uma limitação para o leitor brasileiro, que não conhece muito da história dos Estados Unidos.
Acho que é um livro importante para refletir sobre uma série de assuntos relacionados à questão racial, mas é preciso ultrapassar a passividade que o humor pode gerar.

site: http://www.impressoesdemaria.com.br/2017/10/o-vendido-paul-beatty.html
meriam lazaro 28/10/2017minha estante
Interessante. Essa questão da barreira regional pode fazer diferença mesmo na compreensão e aprofundamento de parte do texto. Ótima resenha, como sempre.


Maria Ferreira / @impressoesdemaria 30/10/2017minha estante
Faz mesmo. Obrigada, Meriam!


Eloiza Cirne 29/12/2017minha estante
Maria, obrigada por me "esclarecer" porque eu não estou conseguindo ler o livro. A quantidade de referências externas contidas no texto é excessiva, a meu ver. E vc resumiu à perfeição: assunto muito sério para tanto humor mesmo que seja irônico.


Nara 26/04/2019minha estante
Maria, tive a mesma opinião que você. Mas me deu a impressão que o autor insinuou que o racismo mesmo existindo é superestimado. Ou então, eu não entendi nada mesmo. Só consegui dar 2 estrelas.




Lais Porto (@umaleitoranegra) 25/09/2020

O vendido
O vendido é um livro incrível, supera todas as expectativas, te surpreende do início ao fim, porém não é um livro para se levar tão a sério, pois é um livro com auto teor de ironia e sarcasmos. A atenção é imprescindível durante toda a leitura e as vezes é preciso ler mais de uma vez um único paragrafo pra então compreender tudo o que o autor quer nos dizer.

Inúmeras questões tratadas no livro são especificas sobre locais, personalidades ou situações que negros estadunidenses vivem, ou seja, vai ter momentos da leitura que não vai ser possível trazer para a nossa realidade brasileira, mas em muitos outros momentos conseguimos visualizar acontecendo no nosso país, afinal o racismo nos mata de diversas maneiras e essas maneiras se repetem em qualquer canto do mundo.

Eu tenho muita vontade de saber o que um psicólogo acha desse livro, óbvio um psicólogo negro, uma leitura e olhar a partir dessa ciência seria muito interessante, se você for um psicólogo e já leu esse livro vamos conversar 😀😀

Trago essa minha vontade, pois o livro aborda nos personagens algumas das consequências do racismo no que se refere ao comportamento, como essas pessoas pensam, como vão agir e o resultado disso tudo, que na verdade não passa da reação a violência do racismo que se apresenta de forma direta e indireta, Paul Beattty nos faz pensar até que ponto estamos vivendo ou somente reagindo ao racismo que nos moldou desde antes de nascer.

Também seria interessante conversar sobre os experimentos que o pai do personagem principal realiza e como isso influencia na sua formação, a única coisa que gostei de um desses experimentos foi que O vendido passa a não sentir atração por mulheres brancas e aqui o escritor toca em um assunto tão dramático para as pessoas negras, a palmitagem, não recomendo refazer nenhum dos experimentos, mas esse fiquei tentada heim rsrsrs

Uma das questões que mais gostei do livro foi que o personagem principal apresenta muitas indagações, pensamentos, ideais contrarias ao movimento majoritário de pessoas negras, em muitas situações você nem diria que ela faz algo pelo povo negro, porém aí que o escritor se mostra brilhante, não é porque ele discorda do que está posto pelo movimento, porque ele faz diferente ou porque ele até dúvida, que ele não esteja fazendo algo e ainda por cima tendo resultados positivos.

Bom, sobre a história o que posso dizer é que vocês vão acompanhar um homem negro sendo processado, vão entender quais motivos dele está sendo processado, porque ele fez o que fez e o resultado disso tudo, esse é o resumo do enredo, todas as outras coisas que compartilhei com vocês são alguns dos vários temas que o escritor aborda no livro.

Esse com toda certeza não é um livro superficial, não é para quem está querendo uma leitura rápida e leve, com essa leitura você vai ser obrigada a pensar e muito, a observar as suas próprias reações a cada movimento na história, se tiverem a oportunidade leiam, e recomendo se possível uma releitura para conseguir captar o que deixou passar na primeira leitura, mas independe de quantas vez está lendo esse livro se preparem pra uma história muito potente.

site: https://leitoranegra.blogspot.com/
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Yuri Silva 23/04/2020

Pra mim esse livro é por-americano-para-americanos. Tem um monte de carga histórica e background que eu não conheço, e por isso eu precisei pesquisar um bocado e isso atrapalhou um pouco o fluxo de leitura. A leitura deve ser mais prazerosa quando se conhece esses fatos e pessoas de antemão. Sobre a história, ela é caótica, sarcástica e provocativa. A leitura não fluiu tanto, as frases são longas e cortadas por muitos adendos que acabaram fazendo a leitura não tão agradável pra mim.
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Renato 23/01/2021

Poderia ter uma linguagem mais universal
O livro em si é excelente, a proposta e discussão essenciais. Mas Beatty cita incessantemente fatos, personagens, hábitos e referências locais de Los Angeles que soam um pouco incompreensíveis para quem é de fora. A leitura fica truncada e pouco fluida. Este regionalismo, provincianismo, soa até mesmo arrogante para um latinoamericano isolado do país que se acha centro do mundo. Um senso de universalismo faria este livro ser bem melhor.
B.norte 23/01/2021minha estante
Achei interessante sua opinião sobre linguagem universal


Renato 23/01/2021minha estante
Uma de dezenas: "levei uma surra que teria feito Kunta Kinte tremer na base." Fica difícil entender quem não sabe o que é. Kunta Kinte é um personagem escravo do livro/série de TV ?Raizes?. Este tipo de citação caso o leitor não saiba o que é exclui ou deixa desconfortável o leitor. Por isto senti o livro árido e sem humor.




Juca Fardin 08/05/2020

Morno
Embora aclamado pela crítica, o livro não me empolgou tanto assim, apesar das sacadas de humor inteligente do autor, mas a leitura se arrasta, assim como tartaruga sobre a lama.
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Pri | @biblio.faga 08/12/2020

Não é gratuito quando dizem que a primeira impressão é a que fica: as páginas introdutórias deixam evidente o tom inusitado e a gritante originalidade do escritor Paul Beatty – merecidamente recompensado com o prêmio Man Booker Prize no ano de 2016.

O livro começa com “Eu”, o protagonista do romance, fumando maconha enquanto é julgado pela Suprema Corte Americana. Descobre-se que Eu fora acusado de restabelecer a escravidão e a segregação racial em Dickens, sua cidade natal, uma espécie de "gueto agrário" na periferia de Los Angeles, na Califórnia.

Se não bastasse o enredo inusitado, embora a obra trate de temas “pesados” e delicados, como preconceito, raça, identidade e pertencimento, a abordagem é feita de uma forma “pouco séria” e, para alguns, até mesmo politicamente incorreta, já que carregada de ironia e de um humor ácido e corrosivo. Extremamente crítico e sarcástico, o escritor brinca com a ideia do fim do racismo em “mundo pós-racial”, satirizando descaradamente os costumes norte-americanos.

E justamente por isso, a narrativa é permeada por citações, alusões a fatos e a personagens históricos, clássicos literários e a itens da cultura pop dos Estados Unidos. Escolha que, a meu ver, ao mesmo tempo que enriquece o livro, pode também o enfraquecer, tirando um pouco da sua universalidade e exigindo mais de comprometimento do leitor.

O excesso de referências, às vezes, pode causar a sensação de que estamos perdemos alguns detalhes ou fragmentar a leitura com pausas para pesquisa – no entanto, na minha opinião, muitas das menções possam ser depreendias e compreendidas pelo contexto em que estão inseridas e não prejudicaram a experiência de leitura, mas sim instigam a pesquisar mais sobre a história do EUA.

“O vendido” é um livro inteligente, exigente, desconfortável, incômodo e muitíssimo rico em seus detalhes; a sua história caótica, sarcástica e provocativa mostra como somos influenciados pelo meio social e como o racismo está enraizado na sociedade, embora disfarçado em condutas veladas como, por exemplo, o humor.

Com certeza, foi uma experiência única e desafiadora.
Recomendadíssimo!


~ Quotes:
“Agora vejo que a única situação em que um negro não sente culpa é quando ele realmente fez alguma coisa de errado, porque assim a gente se livra da dissonância cognitiva de ser negro e inocente, e de certo modo a perspectiva de ir para a cadeia se torna um alívio” (p. 23/24)

“E o que são cidades na verdade além de placas e limites arbitrários?” (p. 99)

“Esse é o problema da história, pensamos nela como um livro - achamos que podemos virar a página e ir em frente. Mas a história não é o papel em que está impressa. Ela é memória, e memória é tempo, emoções e música. A história são as coisas que ficam com você” (p. 127)

site: https://www.instagram.com/biblio.faga/
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Cris 01/03/2024

O livro tem uma premissa surpreendente e aborda o tema do racismo de maneira muito interessante.
Muitas referências a cultura americana mas nada que comprometa a leitura para quem não está familiarizado.
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Levi.Pedrosa 15/04/2021

Livro sobre racismo, com uma tentativa de humor. Mas escrito de forma complicada, cheio de divagações, quase sempre com conteúdo local, que dificultam o entendimento e tiram o prazer da leitura. Não gostei.
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Ariadne 22/01/2022

Excelente
"O Vendido" é um romance extremamente sarcástico e irônico sobre como a ideia de sociedade pós-racial é uma grande farsa. Paul Beatty usa inúmeras referências populares da história negra norteamericana para construir sua história ao mesmo tempo em que denuncia com muito humor a imagem da sociedade norteamericana caucasiana construída e vendida como igualitária e justa para todos (composta por brancos, negros, latinos e outros povos que construíram e mantém os EUA) foi feita em cima de muito sofrimento em cima, principalmente, da população negra e que a dívida dos brancos com esta população nunca foi paga e que o racismo continua mais vivo do que nunca.

Como disse acima há inúmeras referências à cultura pop negra norteamericana, mas eu escolhi ir simplesmente lendo mesmo que não entendesse completamente todas elas. Para mim, não foi difícil entender através do contextos mesmo que não pegasse todas as referências.

Foi uma excelente leitura e espero ler os outros livros de Beatty.
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jota 03/09/2017

Eu contra os EUA
Enquanto na ficção eu lia que a Suprema Corte americana julgava o caso de Eu - o personagem central de O Vendido, cidadão negro californiano acusado de instalar no país uma segregação racial às avessas -, jornais e televisões mundo afora mostravam na realidade os confrontos raciais em Charlottesville, Virgínia, com o enfrentamento entre supremacistas brancos e grupos antirracismo, que resultou em três mortos.

Então, antes de mais nada, o livro de Paul Beatty é bastante atual ainda que trate de questões raciais de forma irreverente, com ironia feroz e humor corrosivo, tudo muito distante do que seria uma visão politicamente correta desses problemas. Fato que, por outro lado, o levou a ganhar o cobiçado Man Booker Prize de 2016. A sinopse da editora, reproduzida aqui no Skoob, parece mostrar que a história de Eu ocorre de forma linear, bem contada etc. Mas a coisa não é bem assim, não.

E melhor do que eu poderia resumir tudo, vamos nos valer da resenha de Jerônimo Teixeira, de Veja: "A prosa ágil de Beatty, em que cada frase é carregada de citações, alusões, referências a fatos históricos, clássicos literários ou itens obscuros da cultura pop, torna esse enredo doidivanas ainda mais explosivo e, sobretudo, cômico." Ou seja, o leitor, dependendo de seu grau de conhecimento da cultura pop americana, especialmente aquela predominante entre os habitantes dos bairros ou guetos negros, hispânicos e orientais, pode se divertir bastante ou ser obrigado a interromper a leitura diversas vezes para pesquisar coisas, fatos ou pessoas nem tão conhecidos assim, a que Beatty se refere durante toda a narrativa.

E mais: se por vezes parece que o livro foi escrito por alguém bebido, cheirado ou fumado (como Eu, que fuma maconha o tempo todo, até mesmo durante seu julgamento na Suprema Corte), é só ler as entrevistas que o autor deu durante a FLIP 2017 para verificar que, ao contrário de seus personagens, ele não é amalucado, claro, e sim centrado, que O Vendido deve ter dado um trabalho enorme para vir à luz, que não foi resultado de piração alguma.

E agora o parágrafo inicial do livro, uma pequena amostra do que o leitor vai encontrar pela frente: "Pode ser difícil de acreditar vindo de um negro, mas eu nunca roubei nada. Nunca soneguei impostos nem trapaceei no baralho. Nunca entrei no cinema sem pagar nem fiquei com o troco a mais dado por um caixa de farmácia indiferente às regras do mercantilismo e às expectativas do salário mínimo. Não assaltei uma casa. Não roubei nenhuma loja de bebidas. Nunca entrei num ônibus ou num vagão de metrô lotado, sentei no lugar reservado para idosos, tirei meu pênis gigante da calça e me masturbei até gozar com um olhar pervertido, ainda que um pouco abatido. E, no entanto, aqui estou eu, nas cavernosas instalações da Suprema Corte dos Estados Unidos, com meu carro estacionado de maneira ilegal e de certo modo irônica na Constitution Avenue, as mãos algemadas atrás das costas, já tendo abandonado e dito adeusinho ao meu direito de permanecer calado, enquanto me mantenho sentado numa cadeira com um estofado grosso que, mais ou menos como este país, não é tão confortável quanto parece."

Minha avaliação: 3,7.

Lido entre 17/07 e 03/08/2017.
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LimaCamila 29/07/2023

Confuso
A história até que é boa, mas achei bem confusa de acompanhar. Se a escrita fosse mais clara, talvez eu tivesse gostado mais. Ainda assim, pontuo que tem muitas críticas/piadas interessantes.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/05/2018

Paul Beatty - O Vendido
Editora Todavia - 320 Páginas - Capa: Pedro Inoue - Tradução de Rogério Galindo - Lançamento no Brasil: 12/07/2017

Paul Beatty se tornou o primeiro autor norte-americano premiado pelo Man Booker Prize em 2016 com o romance The Sellout, após a adoção de critérios de seleção mais amplos em 2014, quando a organização passou a considerar não somente escritores do Reino Unido, Irlanda e da comunidade britânica, mas também de qualquer outra nacionalidade (EUA, Canadá, Jamaica, Índia, Paquistão etc), desde que a obra tenha sido escrita originalmente no idioma inglês e publicada no Reino Unido.

The Sellout foi traduzido por Rogério Galindo e lançado no Brasil no ano passado pela Editora Todavia com o título de O Vendido, o livro já havia sido premiado nos Estados Unidos com o National Book Critics Circle Award de 2015, chegando a ser comparado pelo júri do Man Booker Prize com obras escritas por Mark Twain e Jonathan Swift, mestres do gênero da sátira. Após ler o romance, a minha avaliação é de que a crítica social de Paul Beatty, com base em um humor corrosivo e corajoso, alcança o nível dos textos de Kurt Vonnegut, Thomas Pynchon e Junot Díaz, outros grandes resenhistas da sociedade contemporânea nos Estados Unidos.

A narrativa é conduzida em primeira pessoa por um protagonista com o sugestivo nome de "Eu", iniciando com o julgamento de um processo na Suprema Corte dos Estados Unidos no qual ele é acusado de violar as Leis de Direitos Civis e Emendas Constitucionais do país. Paul Beatty escreve sobre a fragilidade das relações raciais nos EUA e a hipocrisia das conquistas relativas à integração racial por meio do seu narrador americano negro que, para afirmar a sua identidade afro-americana procura, de forma totalmente improvável, restabelecer a escravatura e a segregação racial. O trecho abaixo, parágrafo de abertura do romance, oferece um bom exemplo do texto provocativo e politicamente incorreto que será adotado em todo o romance, uma verdadeira coletânea de insultos raciais que nos fazem perceber diariamente como a Constituição não é seguida na prática — tanto nos EUA quanto no Brasil — quando define que: "todos são iguais perante a lei".

"Pode ser difícil de acreditar vindo de um negro, mas eu nunca roubei nada. Nunca soneguei impostos nem trapaceei no baralho. Nunca entrei no cinema sem pagar nem fiquei com o troco a mais dado por um caixa de farmácia indiferente às regras do mercantilismo e às expectativas do salário mínimo. Não assaltei uma casa. Não roubei nenhuma loja de bebidas. Nunca entrei num ônibus ou num vagão de metrô lotado, sentei no lugar reservado para idosos, tirei meu pênis gigante da calça e me masturbei até gozar com um olhar pervertido, ainda que um pouco abatido. E, no entanto, aqui estou eu, nas cavernosas instalações da Suprema Corte dos Estados Unidos, com meu carro estacionado de maneira ilegal e de certo modo irônica na Constitution Avenue, as mãos algemadas atrás das costas, já tendo abandonado e dito adeusinho ao meu direito de permanecer calado, enquanto me mantenho sentado numa cadeira com um estofado grosso que, mais ou menos como este país, não é tão confortável quanto parece." (Pág. 7)

Nascido em Dickens, um "gueto agrário" na periferia de Los Angeles, o protagonista sempre viveu em uma fazenda e serviu de cobaia para os estudos de comportamento racial conduzidos pelo pai, um sociólogo que pretendia aplicar a teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo no próprio filho, em experiências violentas que lidavam com os reflexos condicionados da criança, até mesmo com a aplicação de choques elétricos. Por outro lado, o pai desfrutava de um ótimo conceito na comunidade negra da cidade e era conhecido por suas habilidades de negociação com suicidas em potencial, sendo chamado de "Encantador de Crioulos". Tudo muda na vida de Eu quando o pai é morto em um tiroteio com a polícia e a cidade de Dickens é repentinamente excluída do mapa da Califórnia.

Morador mais famoso de Dickens, Hominy Jenkins é o último ator vivo da série "Os Batutinhas", "ele é um constrangimento vivo da cultura americana. Uma nódoa lastimável no legado afro-americano, algo que deve ser retirado dos registros raciais, como imitações grotescas de negros", sempre interpretou papéis cheios de estereótipos da raça negra e se acha "um escravo que por acaso também é ator". Após salvar a vida de Hominy Jenkins, que tentava se enforcar, Eu recebe um insólito pedido do amigo, espancá-lo sem piedade, como a um escravo.

"Dizem que precisaram de três policiais pra me tirar de cima dele, porque chicoteei aquele crioulo até quase matá-lo. Meu pai teria dito que eu estava sofrendo de 'transtorno dissociativo' (...) Eu adoraria dizer que despertei de meu próprio estado de fuga e que só tinha lembrança das fisgadas nas minhas feridas policiais enquanto Hominy as limpava com bolas de algodão embebidas em água oxigenada. Mas, enquanto eu viver, jamais vou esquecer o som do meu cinto de couro correndo pela calça jeans Levi´s enquanto eu o tirava. O assobio daquele chicote marrom e preto cortando o ar e caindo pesado com um barulho de trovão na pele das costas de Hominy. As lágrimas de alegria e a gratidão que ele demonstrava enquanto rastejava, não para fugir da surra, e sim para chegar mais perto dela, buscando colocar um ponto-final em séculos de raiva reprimida e em décadas de subserviência não recompensada abraçando meus joelhos e implorando que eu batesse mais forte, seu corpo negro dando boas-vindas ao peso e ao sibilo do meu chicote com rastejantes barulhos guturais de êxtase." (Págs. 90 e 91)

Tentando assumir o legado do pai como "Encantador de Crioulos", Eu percebe que, contraditoriamente, o retorno das práticas de segregação racial como representação da recuperação da própria cidade de Dickens é a solução para muitos dos conflitos da sociedade local. Afinal, "O Apartheid uniu a África do Sul, por que não podia fazer o mesmo por Dickens?". Ou nas palavras de uma das personagens, professora da escola local que admite o retorno da segregação dos alunos como solução: "O problema é que a gente não sabe quando a integração é um estado natural e quando é artificial. Será que a integração, forçada ou de outro tipo, é entropia ou ordem social?".

Em uma das muitas ações subversivas levadas a cabo na cidade por Eu (não há como deixar de pensar neste protagonista como uma espécie de alter ego do autor, ou até mesmo do próprio leitor, com um nome assim tão evidente) está a colocação de um aviso nas janelas no terço dianteiro do ônibus dirigido por sua namorada: "ASSENTOS PREFERENCIAIS PARA IDOSOS, DEFICIENTES E BRANCOS", um retrocesso histórico que irá chocar os intelectuais locais. Esta sequência de ações contestadoras irá levá-lo ao julgamento.

Um livro inteligente e até mesmo perturbador em seu humor neurótico, mostrando uma realidade brutal e sem retoques, produto de décadas de preconceito e falsas políticas de integração racial. De fato, o autor conseguiu muito mais do que uma sátira de costumes, desnudando o que ninguém quer ver, sejam "branquelos" ou "crioulos". O romance, que já é bem difícil de ser assimilado, se torna ainda mais complexo para o leitor brasileiro devido às inúmeras referências ao contexto político e eventos históricos da sociedade norte-americana. De qualquer forma, nada que prejudique o ritmo da narrativa e, de qualquer forma, o preconceito não é um comportamento tão estranho assim à nossa própria sociedade, não é mesmo?
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Eloiza Cirne 12/07/2023

Para norte-americanos
Uma ideia boa e executada com ressalvas pelo excesso de referências ao universo estadunidense e que tornam a leitura morosa e muito chata.
Um livro premiado e que 10 anos depois não constará de nenhuma lista de referência literária. Pelo menos, não no Brasil.
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Benditos livros - Luana 21/04/2020

Um incrível relato contemporâneo sobre a questão racial norteamericana.
Um livro absurdamente sarcástico, e , ao mesmo tempo, muito sério. Esse é o meu sentimento ao terminar de ler "O vendido", de Paul Beatty.
O protagonista, chamado Eu, nos leva em uma viagem louca pelo subúrbio negro de Los Angeles. Em uma tentativa de manter seu bairro no mapa e na memória de seus moradores, ele vai promover o inimaginável - a volta da segregação racial.
.
O livro é incrível. O texto é pop , atual, e ao mesmo tempo, bem complexo de acompanhar. E digo logo, ele não foi feito para agradar ou alfinetar, mas sim para dar risada na cara daqueles que insistem no discurso de "mundo pós racial" que ouvimos aqui e ali ainda hoje.
.
Um texto afiado e com profundas reflexões sobre raça, identidade e pertencimento, que só podia ser escrito por um negro que sabe exatamente onde e como cutucar a sociedade norte-americana.
.
Um grande destaque para a tradução espetacular de Rogério Galindo. Ele conseguiu manter a cor e o tom do livro vivos , sem perdas.
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