Carol Lilium 04/09/2018O despertar do filho de Oxum"Aos olhos de Ayo - O despertar do filho de Oxum" conta a história de Ayo, um escravo nascido em terras brasileiras e filho de Oxum. Ayo nasceu na senzala de uma das muitas fazendas, e viveu na mesma até o dia em que foi vendido para o Marquês de Olinda, um navio a vapor.
Mas quem pensa que "Aos olhos de Ayo" foca somente no escravo, engana-se, pois o livro apresenta outros personagens e faz com que suas histórias vão se entrelaçando de maneira natural e, ao meu ver, muito bela e bem encaixada. Não há nenhuma ponta solta nas inter relações dos personagens, por mais que no início da leitura não pareca que cada um deles vá se encontrar, ou até mesmo ser tão importante no desenvolver da história.
Por mais que tenha a pegada religiosa, puxando para o lado espirita, não é um livro psicografado, mas sim um livro de fantasia que traz elementos espíritas de forma respeitosa e muito agradável. O leitor tem a chance de conhecer um pouco de cada Orixá abordado no livro. E para mim, como espírita, o fato de Ayo ser filho de Oxum é algo ao mesmo tempo que inesperado, por conta da temática do livro, é também algo muito belo, pois podemos tirar diversos ensinamentos do Orixá que representa o amor. O livro não fechado somente a espíritas, ele é livre a qualquer leitor, por não conter elementos específicos do espiritismo que possa restringir assim sua leitura.
O livro é muito rico em detalhes históricos e também descritivos. Achei a narrativa extremamente dinâmica e nada enjoativa, de modo que o leitor fica preso a todos os personagens aguardando ansiosamente o possível desfecho da aventura.
Em meio a leitura, peguei-me fazendo feições de asco em meio as descrições de feridos e mortos em guerra, pois a riqueza de detalhes é tanta que faz muitas vezes o estômago revirar. Não é uma literatura maquiada, evitando a utilização de certos termos. Allison usa os termos reais, e isso se encaixa de maneira fenomenal ao livro, devido a sua temática e situação temporal.
É um livro que eu realmente indico para ter na estante, e render-se a esta leitura sem preconceitos, pois como dito acima, por mais que tenha a pegada espírita não é algo restrito.
Em meio ao enredo, somos surpreendidos com a presença de um inimigo muito mais poderoso que o próprio Paraguai. Inimigo este não esperado por mim, e que acabou por fazer-me ler muito mais assiduamente. E também, este foi um dos principais responsáveis pela mudança crucial no enredo da história.
Devo dizer que alguns personagens me surpreenderam em suas mudanças ou mesmo revelações, e por que tal final fosse esperado peguei-me arrepiada e com pequenas lágrimas aos olhos. Como dito, vale a leitura de um livro tão incrível e tão belo, que nos toca de diversas formas e nos faz ver como uma guerra pode ser tão nociva a um país e toda a sua população.
No mais é isso, e aguardo ansiosamente a continuação.