Procyon 28/05/2022
Por que ler os clássicos ? comentário
?Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.?
?Por que ler os clássicos?, do escritor ítalo-cubano Ítalo Calvino, é uma excelente coletânea de artigos publicados pelo autor, em sua maioria dos anos 1980. Entre ensaios e críticas literárias, aborda-se livros clássicos da literatura mundial e italiana (alguns não traduzidos para o português), além de mais de trinta grandes autores da tradição ocidental, como Voltaire, Balzac, Stendhal, Flaubert, Dickens, Tolstói, Borges, Montale, Homero, Ovídio, etc. Além do antológico prefácio do autor que dá título a obra póstuma, Calvino também escreve textos interessantíssimos sobre Hemingway e Stendhal. É um livro pequeno, de capa dura, de impressão e diagramação impecável.
Calvino propõe várias definições do que seria um clássico. Mas gosto particularmente desta afirmação:
?Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança de antigos talismãs.?
Por meio dessa magnânima fala, podemos aplicar o conceito de clássico a outras artes, além da literatura. Não existe jazz sem Monk, Ellington, Coltrane, Armstrong, Davis; não existe blues sem King, Johnnson, Waters, Dixon; não existe country e folk sem Cash e Dylan. Em outro espectro, não existe cinema sem Griffith, Murnau, Eisenstein, Bergman. Um clássico é aquele que transcende as barreiras do tempo. Clássico é aquele que regurgita eternidade através de um orgasmo entorpecedor, de apreciação pela arte. Clássico é uma preciosidade. Um talismã, ou talvez um relógio (sem ponteiros, a imagem intangível do Eterno). Clássico é simplesmente um clássico.