Márcia 27/04/2024
O peso do pássaro morto
O que um leitor esperaria de um livro com o título ?O peso do pássaro morto?? Bom, no meu caso, um livro que seria discutido no @leiamurelheresvdc de dezembro/2023. O livro chega, estranho o tamanho (pequeno até: 168 p.) e começo a ler. Fui tragada imediatamente pela beleza da obra. O estilo escolhido pela autora é outra obra-prima: ela mistura prosa, poesia e até diário, estreitando laços com o leitor, que se encanta com as imagens e as metáforas provocadas por essa miscelânia.
Aline cria uma protagonista que é também a narradora, mas inominada ao longo de toda a história. Acompanhamos sua trajetória dos 8 aos 52 anos, detendo-se em algumas idades específicas, que nomeiam os capítulos. É um livro sobre perdas (companhias queridas, inocência, fé e esperança), as perdas dessa protagonista, que começa aos 8 anos, quando ela perde sua melhor amiga. Essa perda molda sua vida para o resto dela, uma vez que esse luto não foi conversado. Vejam o estilo:
?Na escola
em casa
na cozinha
perguntei pra minha mãe:
? o que é morrer?
ela estava fritando bife pro almoço.
? o bife
é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua carne.
quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos, mas tentamos.
almoçamos a morte e foi calado.?
A maternidade ganha bastante destaque na obra e me vi em muitos trechos. E é isso que o livro faz conosco: discorre sobre uma história que é universal, nos envolvendo em passeios pelo terreno das ausências, porque é parte inerente de nossa existência. Quantos corpos não se arrastam por aí, pelos espaços e pelos anos? Quantos corpos não se limitam a existirem apenas para cumprirem sua função de existirem para quem está ao redor, mas nunca para si mesmo? Trabalha, paga as contas, alimenta o filho e limpa a casa. Aos 18, aos 28, 37, 48, 50 e aos 52 anos!
Dito assim, tão cruelmente, parece horrível, mas Aline Bei consegue fazer discorrer sobre o sofrimento em forma de poesia. Ela escreve algo forte, pungente, doloroso e, ao mesmo tempo, tão belo. Amei!