Discipulado na Igreja Local

Discipulado na Igreja Local Randy Pope




Resenhas - Discipulado na Igreja Local


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Gustavo 22/12/2017

UM MODELO ANTIGO E ATUAL



Neste livro, Randy Pope, pastor da Igreja Perimeter em Atlanta, apresenta-nos o nascimento a estrutura e o processo do que chama de Discipulado Missional Life-on-life (DMLOL). No primeiro capítulo apresenta a importância dos modelos para a realização dos objetivos (visão) da igreja local. Pope indaga: “qual é a eficácia do seu modelo ministerial” e em seguida apresenta três modelos comumente encontrados e uma quarta via, o modelo vida-a-vida (life-on-life) o qual apresentará com maior profundidade no livro. Com este, busca um modelo que dê conta de “transmitir a ampla mensagem do evangelho e a vasta missão da igreja de modo pessoal, até que nosso povo esteja cheio delas” (p. 27), eliminando assim a distância entre as palavras declaradas no púlpito e o povo.
O segundo capítulo é escrito em defesa da necessidade da visão. Cinco ênfases importantes são apresentadas, o que é utilizado no método life-on-life (vida-a-vida), e representado no acróstico (em inglês) TEAMS (Truth, Equipping, Accountability, Mission, Supplication). Pope reconhece que sua abordagem TEAMS, “não é um modelo explicitamente descrito na Bíblia; é o nosso modelo. É a nossa lente. Jesus não o usou como seu modelo de ministério”, mas confia que seja “próximo o suficiente de Jesus para sabermos que não estamos fazendo algo nosso. Estamos seguindo Jesus” (p. 78). O método aí apresentado não é a última palavra em discipulado, nem mesmo a única forma de discipular, visto que “qualquer meio que usemos para ajudar as pessoas a seguirem a Cristo é discipulado” (p. 65).
O capítulo três apresenta de forma mais aberta o que Pope considera um “investimento vida-a-vida em algumas pessoas”. Encontramos nos grupos de discipulado um grupo de reabilitação espiritual.
[...] Assim como um dependente químico necessita da influência lenta e metódica de um padrinho e de outras pessoas para que ele possa chegar a uma condição esperada de sobriedade, o cristão purificado precisa do mesmo processo relacional para transportá-lo a um ponto de desenvolvimento espiritual saudável (p. 64).
Há três componentes claros desse modelo vida-a-vida, que valem ser destacados. Dois deles são encontrados nas pregações, pequenos grupos, escolas bíblicas, cultos, etc. e um é, defende Pope, objetivo claro dos DMLOL. Esses componentes são o desejo de ajudar as pessoas a irem “da descrença para a crença”; auxiliar o seguidor de Cristo a se mover “da crença para a maturidade”; e por fim “da maturidade para a liderança”. O DMLOL deve incluir os três componentes.
O quarto capítulo é dedicado à fundamentação bíblica do DMLOL. Enfatizando o modo de Jesus realizar sua missão (“o que Jesus fez”), identificando ai as bases para a criação de um modelo para nosso tempo. No quinto capítulo, Pope contrapõe o impacto saudável da igreja ao mero sucesso. Escreve em defesa de modelos de igreja que privilegiem resultados que não podem somente ser quantificáveis, mas observados na transformação da vida das pessoas.
O tipo de igreja que impacta o mundo para o reino não é necessariamente uma igreja que cresce em termos de metros quadrados e membresia. É uma igreja saudável. Uma criança saudável crescerá, mas nem sempre uma criança que está crescendo está saudável. De modo semelhante, se como igreja, nós formos saudáveis, provavelmente cresceremos, mas apenas crescer não nos tornará saudáveis (p. 89).
O capítulo seis torna claro o pensamento do autor acerca do que significa discipular. É descrito o modo pelo qual se desenvolveu o nome DMLOL e como se compreende cada termo. Com discipulado se compreende o seguimento de Jesus e a participação na família de Deus. Com missional enfatiza-se a necessidade de envolver mente, coração e mãos naquilo que Jesus nos ordenou. E com “life-on-life” se pretende o desenvolvimento espiritual onde os discípulos animam-se como jogadores em campo no seguimento de Cristo, envolvendo suas próprias vidas de modo íntimo e pessoal.
No sétimo capítulo afirma-se a necessidade de um processo lento de formação, onde se inicia o trabalho com um grupo experimental, depurando o processo até que se tenha um “produto” a ser lançado para outros. “Começar pequeno e ir devagar é o modo do discipulado missional life-on-life” (p. 126). Neste, ele descreve o processo de escolha dos membros e início do grupo. Enfatiza aí a necessidade de oração prévia, seguida por um encontro para compreender a “fome espiritual” do candidato, até que, num segundo encontro lhe seja apresentada as orientações e realizado o convite. Após duas semanas de encontros com o grupo é que os membros decidem se permanecerão mesmo (assinando um contrato formal de permanência) ou não.
O perfil de um líder “maduro e capacitado” é o que encontramos no oitavo capítulo. Entre outras coisas, esses líderes devem desenvolver sua vida espiritual por si mesmos, responsabilizando-se por sua caminhada com Deus, adorando-O, apresentando-se de forma humilde e sendo ensináveis. Devem liderar bem suas famílias, serem disponíveis, serem profundos em sua visão da vida cristã, experientes na liderança de um grupo, serem capazes de expressar suas fraquezas e prestarem contas a outros.
O nono capítulo fala-nos do currículo do discipulado, que na Perimeter (igreja de Randy Pope) é chamado de “Jornada”. A defesa é que sempre fazemos uso de algum currículo. O currículo torna o discipulado reproduzível, o melhora, o torna intencional e comunica ao grupo o que está sendo realizado (p. 152-3). Afirma-se que
[...] A vida de uma pessoa – vivendo pela graça, confiando no evangelho, comprometendo-se com o estudo da Palavra e com a oração e demonstrando o significado de seguir a Jesus Cristo – é o melhor currículo que você encontrará (p. 160).
No capítulo dez encontramos a compreensão de Pope acerca do desenvolvimento orgânico da igreja, um pandemia de cura e vida, uma boa infestação promovida por esse vírus saudável que é o discipulado vida-a-vida, concluindo que “o poder do Evangelho, presente na Palavra de Deus, é mais bem traduzido de uma vida para a outra” (p. 175).
O penúltimo capítulo fala da importância dos modelos, que podem ser esquecidos. Eles determinam o como de nossas igrejas, marcam o cotidiano do quê que afirmamos ser a igreja. De nossos modelos, permanece o que for edificado sob Cristo somente. E no capítulo final dá instruções fundamentais para o início de uma jornada de discipulado, que consiste na avaliação de nossa situação, desenvolver uma visão clara por meio da oração, escolher um modelo e obter recursos para realizá-lo.
O livro também inclui relatos fictícios representando os encontros de discipulado que ocorrem na igreja Perimeter. Estes são inspiradores e apresentam de forma bonita a potência do DMLOL. O modo como a fé dos discípulos cresce nos encontros, como as vidas se entrelaçam, ao ser relatado no livro lança nova luz aos momentos cotidianos que se vivencia na igreja.
Trata-se de uma leitura fundamental para quem deseja pensar sua comunidade local com seriedade e piedade. Pope dá forma à elementos que por vezes compreendemos mas dificilmente encontramos modos de encarná-los. Lubrifica engrenagens nas quais investimos em nossas igrejas locais, mas que, com o passar do tempo se vão tornando rígidas e envelhecidas.
O método apresentado por Randy mostra-nos uma alternativa saudável e atual para a prática do discipulado cristão. Suas ênfases acertam em cheio a necessidade do mundo contemporâneo, em meio ao isolamento e solidão dos indivíduos nas cidades, famílias em crise e refugiadas em seus prédios, a proposta de uma “jornada” em grupo é extremamente significativa e necessária.
Coaduna-se a ideia de povo e o senso de missão, não restrito ao ambiente eclesiástico. A aproximação entre o que se proclama e como se vive, enfatiza a vida mesma do discípulo como uma carta viva do Evangelho, ou um outdoor, para usar uma linguagem mais contemporânea. Mas o que há de novo nesse método? Justamente o aspecto vida na vida. O que é comunicado, por assim dizer, é a própria vida de um discípulo de Cristo à outro, não o conteúdo doutrinário em um curso, mas a vida mesma.
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