Pro Inferno Com Isso

Pro Inferno Com Isso Matheus Peleteiro




Resenhas - Pro Inferno Com Isso


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Gabriel Perez Torres 10/04/2024

O Desafio do Contemporâneo
"Pro Inferno Com Isso" de Matheus Peleteiro é uma obra que se insere audaciosamente no contexto literário contemporâneo, desafiando os limites entre gêneros e a própria concepção do que significa ser um escritor no século XXI. Através de contos e reflexões que mesclam o realismo crítico com um humor ácido, Peleteiro nos convida a uma viagem pelas vicissitudes da vida moderna, do desencanto com o cenário literário à crise existencial do indivíduo perante uma sociedade cada vez mais alienada.

O livro se destaca pela crítica mordaz ao circuito literário e a ironia com que trata temas como a autenticidade e a busca por reconhecimento. Ao narrar as desventuras de Daniel, um escritor que migra entre gêneros literários e desdenha da vaidade e superficialidade encontradas em feiras literárias e antologias, Peleteiro faz uma metacomentário sobre o estado atual da literatura e de seus produtores.

Entretanto, é na figura de Tom Ribeiro que o autor encontra seu veículo mais potente para a crítica. Tom, com sua rejeição tanto à esquerda quanto à direita e sua poesia que "desrespeita e despreza técnicas, conceitos e classificações", representa a antítese do artista comprometido com movimentos ou ideologias, preferindo, em vez disso, uma arte que impacta pela força de suas palavras e ideias.

A obra também explora a ideia de solidão e o sentimento de não pertencimento, com personagens que se debatem com suas inseguranças e anseios em uma sociedade que pouco valoriza a genuinidade. Por meio de uma linguagem que flerta com o coloquial e o poético, Peleteiro nos presenteia com uma narrativa que é tanto um desabafo quanto uma declaração de independência da literatura contemporânea.

Contudo, "Pro Inferno Com Isso" vai além da crítica social e literária. Em seus momentos mais introspectivos, a obra toca em questões existenciais profundas, explorando a solidão, o amor, a desilusão e a busca incessante por significado em um mundo aparentemente absurdo. Essa mistura de cinismo e sensibilidade confere à obra um caráter único, tornando-a um retrato fiel das contradições do ser humano moderno.

Em resumo, "Pro Inferno Com Isso" é uma obra provocativa e instigante que desafia as convenções e questiona o papel do artista na sociedade contemporânea. Com uma narrativa rica em ironia e reflexão, Matheus Peleteiro apresenta uma literatura que não apenas critica, mas também oferece um espelho das complexidades do mundo atual. Uma leitura obrigatória para quem busca entender os desafios enfrentados pela literatura e pelos escritores no século XXI.
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Andrea 23/02/2022

Literatura como protagonista
O escritor baiano Matheus Peleteiro reúne 28 contos, em sua maioria relativamente curtos, no livro Pro inferno com isso.

De uma forma geral posso dizer que os contos trazem para o leitor uma mistura de filosofia, comicidade, relações familiares, meio social, política, paixões e muita literatura, ao qual ouso dizer ser a estrela principal deste livro.

Pois em alguns pontos as referências e o ato de escrever são os personagens principais ao influenciar tudo a sua volta, assim como os sentimentos e escolhas dos indivíduos que acompanhamos em cada história.

E assim deixo a dica para quem curte ler contos, para quem busca mais escritores brasileiros, para quem busca conhecer novos escritores, para quem adora a literatura como tema e acompanhada de referências, e claro para quem gosta simplesmente de livros.

Resenha completa no blog: http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2022/02/pro-inferno-com-isso.html?m=0
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Marlonbsan 15/02/2022

Pro Inferno Com Isso
Os contos são rápidos e dinâmicos. Em cada história, recortes de uma vida normal. Bem rente à realidade.

O livro é dividido em contos que são curtos e possui linguagem bem acessível. A leitura é bem fluida, oscilando entre divertimento e reflexão sobre a vida e cotidiano.

Curto bastante livros de contos, principalmente quando utilizam de ironia e desfechos surpreendentes, no caso desse livro há uma mescla disso, alguns desfechos são bem legais, enquanto outros acabam sendo bem mornos, mas a base das histórias é interessante.

O autor tem muitas referências, algumas que conhecia, outras não, e utiliza de algumas citações e menciona bastante outros autores que foram usados como inspiração, mas ao mesmo tempo, cria um estilo próprio, juntando todas essas referências.

As histórias giram em torno do cotidiano, relacionamentos, pensamentos, o que dá um bom dinamismo. Só que alguns dos contos não me causaram impacto e acabou sendo uma leitura normal.

No geral, gostei da experiência, são contos legais e interessantes e pra quem quer ler algo curto e dinâmico, é uma boa pedida.
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Fabio Shiva 21/01/2022

Sob o signo da Juventude: página de um livro bom de Matheus Peleteiro
Quando Mestre Yoda começou a ler o livro “Pro Inferno Com Isso”, de Matheus Peleteiro, balançou a cabeça satisfeito:

– A Força grande nesse jovem é…

Ao término da leitura, quando me emprestou o livro, Mestre Yoda sorriu enigmaticamente e comentou:

– A Força jovem nesse grande é…

Acho que entendi o que o Mestre Jedi quis dizer, depois que eu mesmo devorei os 28 contos de “Pro Inferno Com Isso”. Matheus Peleteiro tem uma prosa fluida e cativante, que tem o poder de transportar o leitor para o intenso e visceral mundo imaginativo do autor. E, interessante perceber isso, boa parte dessa intensidade tem a ver com uma forte aura de juventude que emana das páginas do livro.

A tal ponto senti essa impressão, que me peguei elaborando as seguintes comparações. Se esse livro fosse um signo do zodíaco, seria o de Áries, com seu grande ímpeto para os começos. Se fosse uma carta do Tarot, seria a do Carro, com sua sobrepujante energia juvenil. Se fosse um hexagrama do I Ching, seria o de número 4, que retrata a boa sorte de um jovem talentoso. Se esse livro fosse um disco, seria “Raulzito e os Panteras“, auspicioso começo da potência musical de Raul Seixas. Aliás, ao saber que o autor é também soteropolitano, como Raulzito e eu mesmo, fiquei com a renitente vontade de achá-lo fisicamente parecido com Raul em alguma de suas muitas fases. Acho que captei mais foi a inquietação da alma, a altivez das atitudes e a nobreza das intenções, que é muitas vezes disfarçada por borbotões de deboche.

Ao ler “Pro Inferno Com Isso”, senti claramente estar diante de um talento genuíno, o que muito me alegrou. Nessa obra em particular, foi preponderante essa impressão de Juventude, tanto no que ela tem de belo quanto no que tem de irritante. É claro que em tudo que lemos, nos vemos, seja no que nos agrada ou no que nos repele. Sei muito bem que vi a mim mesmo de outros tempos em muitas passagens desse livro. Mais especificamente, ao Fabio Lopes de vinte e poucos anos, baixista da banda de heavy metal Imago Mortis, que acreditava ser a sua missão compor a música mais triste do universo, capaz de fazer alguém querer se matar só de ouvir.

Espero ter novos encontros com a Literatura de Matheus Peleteiro no futuro, e descobrir assim, em renovados espelhos, o quanto cada um de nós caminhou.

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/01/sob-o-signo-da-juventude-pagina-de-um.html



site: https://www.facebook.com/sincronicidio
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Ingrid 08/10/2021

Resenha - Pro Inferno Com Isso
Pro Inferno Com Isso foi o primeiro livro de contos escrito por Matheus Peleteiro, e também o primeiro livro que li do autor baiano.

O livro trás vários contos curtos, o que torna a leitura bem rápida. Os contos têm temáticas similares, passando por violência, crimes, sexo, escritores atuais e autores clássicos, com uma linguagem ácida e irônica, sempre criticando a sociedade atual.

Para mim, os melhores contos estão mais no final do livro. O meu preferido foi “A Maldição”, que trouxe uma história que me lembrou “Ensaio sobre a cegueira”, com uma epidemia que causou uma apatia nas pessoas, com muito sono e câimbra nos pés. Claro que, como uma narrativa curta, o objetivo do conto não foi o mesmo do livro de Saramago, mas foi minha comparação enquanto lia.

O último conto do livro, “O sonho de um homem que sente falta”, finalizou muito bem o livro, com a história de um homem sentindo falta de um sonho recorrente que tinha desde a infância.

Outro excelente conto foi “Entrevista na Gaiola dos Pedantes”, que me lembrou um dos contos do último livro que li de Rubem Fonseca, onde o autor nos mostra uma entrevista com um escritor ficcional, mas que nos deixa a sensação de ser uma autoficção.

“No Tribunal de Exceção e suas Consciências” me deixou muito impactada, e também me lembrou Rubem Fonseca, que teve livros censurados durante a Ditadura Militar. O conto de Peleteiro se passa em uma situação mais moderna, mas não deixa de relembrar a situação que nosso país vivia durante a Ditadura.

Já “O Bar da Escrita Criativa” foi mais engraçado, criticando os escritores modernos que não sabem nada de literatura e apenas escrevem ou fazem antologias de histórias sem nenhuma criticidade. Escritores que não vivem a vida, que são parabenizados pelo seu sucesso e não por suas obras. Mais críticas ao meio literário atual estão em “Edema de Glote”, outro conto que gostei bastante.


site: https://www.instagram.com/ingridbeatrizbs/
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Zeka.Sixx 01/09/2021

Ácido e divertido
Lançado em 2017, esse livro reúne 28 contos do escritor baiano Matheus Peleteiro, um dos ótimos nomes a se prestar atenção na literatura brasileira contemporânea. São contos, em sua maioria, curtos e com uma pegada bem pop, recheados de ironia, de acidez, de críticas à sociedade atual, ao mundo literário e à futilidade de nossa geração, mas que não deixam de ser divertidos e arrancar boas risadas do leitor.

Entre os contos que mais gostei, destaco o agridoce "Mãos de Poeta", o excelente "Eu Vou Foder com Você!", o ótimo "Um Encontro com o Velho" (que narra um imaginário encontro com o espírito de Bukowski), o cinematográfico "Uma Puta Cativante e um Cafajeste Romântico" (daria um bom curta-metragem), o hilário "O Bar da Escrita Criativa" (o que mais me arrancou risos) e "Entrevista na Gaiola dos Pedantes" (no qual fiquei com a impressão de que o autor flertou com a autoficção).

Como é comum em livros de contos, é sempre difícil manter o nível elevado em todos os textos. Penso que a obra se beneficiaria de um corte maior de gordura, de uma enxugada, excluindo alguns contos que estão em um nível mais abaixo, mas entendo que é sempre uma decisão complicada para o escritor - eu mesmo sempre digo que deveria ter sido mais "xiita" na seleção dos contos que compuseram meu primeiro livro, "O Caminho dos Excessos". Enfim, nada que tire o brilho do livro, uma ótima amostra do talento de Matheus, que já havia me surpreendido anteriormente com seu livro de poemas, o ótimo "Nossos Corações Brincam de Telefone Sem Fio".
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 21/08/2021

Matheus Peleteiro - Pro Inferno com Isso
Edição do Autor - 148 Páginas - Arte de Capa: Themis Lima - Fotografia de Capa: João Regis Novaes - Lançamento: 2019.

Matheus Peleteiro é um jovem escritor apaixonado pelo estilo do romancista, contista e poeta genial Charles Bukowski (1920-1994) – que era também alcoólatra, jogador e vagabundo –, um homem "inadequado" para qualquer padrão imposto pela sociedade, mas que soube como poucos nos transmitir esta faísca que incendeia o espírito em qualquer tempo. Nesta antologia de contos, "Pro Inferno com Isso", desde o título percebemos a influência de Henry Chinaski, alter ego do velho bêbado, assim como em muitas das narrativas e personagens do livro, especialmente como o fantasma-protagonista no conto "Um encontro com o velho".

Buscando cativar a atenção do leitor com narrativas velozes e diálogos bem encadeados, Matheus Peleteiro demonstra estar no caminho certo, contudo precisa amadurecer a técnica e encontrar um estilo próprio, desafio de todo escritor iniciante, ou nem tão iniciante assim, que foi contaminado pelo vírus da literatura: "O vírus da literatura tinha me contaminado, e vacina nenhuma poderia ter me preparado para tal doença, que me corroía como um ácido e se apossava do meu corpo, dia após dia, como um amor que lhe rouba a liberdade e não te dá alternativas senão amá-lo e enxergá-lo como aquilo que te lembra que algo em você ainda vive."

"Volta e meia transformam tudo que há de melhor em pecado. Fora a destruição que tem acontecido com a língua. 'Lumbersexual', que [*****] é essa? Li algumas notícias e vi essa coisa sobre estilo lenhador, uma espécie de hipster sei lá o quê. HIPSTER, há termo mais pejorativo que este? Designaram conceitos relativos até mesmo à propensão dos seres humanos de amar a forma de pensar do outro.'Sapiosexual', se não me foge à memória. Diabos, depois de um belo par de pernas, o que mais estimula a paixão é o desafio gerado pela forma de pensar do outro, não precisamos dessa destruição linguística fodida." - Trecho do conto "Um encontro com o velho" (p. 63)

Entre os contos com maior potencial, gostei de "Eu vou foder com você!" e "Amor de puta", exemplos de como escrever sem censura, interna ou externa, o resultado nesses casos é sempre satisfatório porque, para escrever bem é necessário ter algo verdadeiro para dizer, algo que pode ser fruto da experiência ou da sensibilidade, mas que deve provocar a identificação e aceitação desta verdade no leitor (não necessariamente concordância).

"Enquanto transavam, ela sorria. Era um riso tenebroso e, ainda que o rapaz o tivesse enxergado, inicialmente, de modo excitante, após alguns instantes, quando notou que ela mantinha aquele riso sombrio de maneira doentia, notou terror em seu olhar, e um ar de pânico se manifestou sobre todo o seu corpo. Sentia medo, mas fingia não se importar. A loucura se assemelha à adrenalina, e a adrenalina lhe dava tesão. / 'Eu vou foder com você' – ela sussurou em seu ouvido'. / Ele sorriu e apenas continuou o ato. Depois, a cumprimentou desajeitadamente e foi embora, ainda um pouco assustado. Não confessou que não pretendia vê-la nunca mais." - Trecho do conto "Eu vou foder com você!" (p. 50)

As dificuldades do escritor no século XXI, inclusive a concorrência de youtubers e a ditadura da escrita criativa, seja lá o que isso possa significar, servem como matéria-prima para algumas das narrativas, como em "O suicídio de um poeta que não teve coragem de se matar", "O bar da escrita criativa" e "Entrevista na Gaiola dos Pedantes". Fica aqui a dica de um dos personagens que Matheus aplica em seus contos: "Literatura se planta com acidez e ironia".

"Ser poeta no século 21 era uma coisa engraçada. A diversidade havia se expandido demais e, agora, nos criticávamos como uma maneira de fortalecer nossos egos, que variavam às suas maneiras enquanto mantínhamos o preciosismo e a vaidade residindo em nossos versos. Os que se tornavam mais famosos, tratavam de criticar somente os mais famosos que eles, afinal, se comparar às novidades, por melhores que fossem, os rebaixavam no meio literário e os que não se tornavam, preenchiam o tempo condenando a sociedade nas redes sociais." - Trecho do conto "O suicídio de um poeta que não teve coragem de se matar" (p. 101)

Sobre o autor: Nascido em Salvador – BA em 1995, escritor, poeta e contista, Matheus Peleteiro publicou em 2015 o seu primeiro romance, Mundo Cão, pela editora Novo Século. Em 2016, lançou a novela intitulada Notas de um Megalomaníaco Minimalista, pela editora Giostri e o livro de poemas Tudo que Arde em Minha Garganta sem Voz, pela editora Penalux.
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Ana Claudia 16/07/2021

Matheus Peleteiro é, ao meu ver, um grande autor contemporâneo! Estou com o Kindle Unlimited só para poder lê-lo.
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underlou 30/04/2021

Presunçoso, mas promissor.
Logo no prefácio, alguém denomina Matheus Peleteiro como um cara "trágico e duro como Dostoievski, mas fluido e sociológico como Bukowski e Camus", o que já é algo que acende o alerta. No primeiro conto, "Suave é a noite", entretanto, o autor já oferece uma narrativa extremamente truncada, a qual é tão ágil quanto uma espécie de escaleta de roteiro.

Em seguida, temos um conto chamado "Legiões urbanas de devoradores de literatura", uma história sem pé nem cabeça na qual o autor despeja um monte de referências literárias; e o repete em tudo que se segue, como se tentasse a todo custo "refinar sua obra com citações que lhe deem certos aspectos de erudição" (como diz o velho Bukowski, que aparece como personagem em determinado conto, a respeito de Rubem Fonseca). Aparentemente, o autor não tem nenhum pudor em demonstrar suas pretensões juvenis.

A propósito de Charles Bukowski, esse volume de contos deve ser muito mais interessante para quem está naquela fase da vida em que se compartilha o apreço à literatura marginal, o que significa, por assim dizer, não ficar tão constrangido com certas passagens politicamente incorretas.

De toda forma, Peleteiro trata de temas caros ao cotidiano, como a solidão e o desamor nos grandes centros, embora se mantenha em lugares-comuns; em várias passagens o autor ainda questiona o papel da literatura, o que me fez pensar, em algum momento, em qual especificamente o papel da literatura dita contemporânea. Seria apenas divertir/passar o tempo (mesmo que involuntariamente)?; mas no geral são contos curtos - ao menos isso -, de modo que quem se arrisca a avançar na leitura, muito rápido partirá para outra mais enriquecedora.
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Gabriel.Lima 22/07/2020

Parei para ouvir Tom Waits
Caminhava toda noite. Era da Barra até a ondina. Não queria emagrecer nem nada. Só ouvia música e caminhava. Às vezes um cigarro. Às vezes uma coca-cola. Mas sempre música. Nessa época, a minha coisa era o Tom Waits. Tinha acabado de ler Misto Quente. Tinha 19. Foi um dos primeiros livros que li por inteiro na minha vida. Sempre odiei literatura. E continuo, de algum modo, odiando. Seu livro conseguiu me tirar de dentro dessa coisa das letrinhas. Me levou pra esse lugar: a Barra, já perto do Cristo, com um cigarro na mão e caminhando. Falo "Seu" porque te conheci, no caso, e acho importante não dar ousadia pra esse tipo de formalidade cínica.

Como perambulei esse universo estético do urbano molhado, posso dizer que é um bom exemplar do gênero. É interessante como as influências são assumidas e celebradas. Gosto da estrutura do Legiões Urbanas. Um rolê alá Meia-Noite em Paris. Aliás, a utopia da grande era da arte viva me pareceu o tema central da obra. Da pra ver isso de novo no conto que o Bukowski revive e no que a galera começa a curtir Sérgio Sampaio. Além das indignações com a comunidade literária que também apontam para uma revolta com esse tipo de coisa que caminha no sentido do esmorecimento da arte.

Pro meu gosto, discordo de alguns adjetivos. Achei que muitas vezes (principalmente nos primeiros contos) aparecem de forma redundante, para formar expressões e não para cumprir sua potência adjetivadora. Gostei quando você se inclinou para narrativas menos ensaísticas e mais concretas, como no Amor de Puta. Os personagens ficaram bem sólidos e definidos. Penso que esse caminho, mais Ruben Fonseca e menos Bukowski e Saramago, seria o que mais me interessaria de encontrar em outra obra sua.

Sabe como acabou aquela minha fase Tom Waits? Um cara encostou uma faca enorme na minha barriga e levou meu MP3. Ali mesmo, na frente do Cristo.
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() 04/06/2019

Pro inferno com esse livro
Com raras exceções, confesso não esperar muito de autores jovens demais. Mas esse livro me interessou e acabei pegando para ler. Já nos primeiros contos, o falso estilo despretensioso não me agradou. Quase larguei e só não desisti por serem quase todos bem curtos. Até agora o único que me agradou foi "Encontro com o velho", que narra uma conversa de bar com o finado escritor Charles Bukowski. Sobretudo, me irritaram a superficialidade e a sexualização das poucas personagens femininas - coroada pela grafia incorreta da escritora francesa Anaïs Nin ("Anais Nim", página 22) e o pejorativo termo "faminazi" (página 64) - além do ego evidente do autor em contos mais pessoais. Há uma pretensão de se mostrar entendido, citando autores conhecidos e até questionando o foco dos eventos literários de minorias, o que não acho legal, mesmo em uma ficção, vindo de um autor que obviamente não faz parte desses grupos. E pensar que no prefácio um colega de escrita o compara a Dostoiévski e Camus! Francamente, o inferno é bem mais embaixo.
AlexAff 04/06/2019minha estante
Não se esqueça do médico que usa google!!




Gramatura Alta 22/07/2018

http://www.gettub.com.br/2018/07/o-ditador-honesto-e-pro-inferno-com-isso.html
Para você ler O DITADOR HONESTO, é preciso realizar, primeiro, uma limpeza na sua mente quanto a ciências políticas ou preferências de direita ou de esquerda. Encare a leitura como aquilo que ela é: uma utopia sobre a governança de um ditador no Brasil. Neste ponto, você pode pensar que a história remete a acontecimentos da época militar dos anos de 1964 a 1985, mas é um ledo engano. A narrativa é quase alegórica, com passagens que chegam a beirar a ingenuidade, o que permite que a imaginação do leitor vague livre por onde quiser.

Como o próprio autor faz questão de ressaltar no prefácio: “...esta produção não possui pretensão alguma, senão a de protestar e emitir uma triste gargalhada em desrespeito à hipocrisia popular e à nauseante política nos tempos em que vivemos. (...) Este livro é um conto de fadas. Não por se tratar de uma fantasia, mas porque em contos de fadas as coisas simplesmente acontecem, assim como na vida.”

O livro é narrado em primeira pessoa por Antônio, um personagem que se torna secundário diante da verdadeira estrela da história, Gutemberg, o tal ditador honesto do título. Acompanhamos sua ascensão através de atos que, como o autor disse, apenas são o que são, sem qualquer necessidade de credulidade ou de análise lógica. As coisas vão se sucedendo em uma velocidade vertiginosa, até culminar no total domínio do Brasil por Gutemberg.

Nesse ponto, o ditador chega onde não há mais para onde ir, bem como a população, e igual o rebobinar de uma fita, as coisas começam a andar para trás, e Gutemberg tem um destino tão pragmático quanto sua política. E esse final, por mais absurdo que possa parecer, reflete como é o pensamento da turba, da multidão, e reforça aquela máxima de que a coletividade é burra, ou mesmo inconsequente.

O DITADOR HONESTO é um exercício de imaginação sobre o que poderia e o que não poderia ser o Brasil. O autor, apesar de utilizar e abusar da descrença do leitor, da total liberdade de sua prosa, consegue transmitir o que é essencial para a história: a vontade do pensar sobre como vivemos e como somos governados. E em um ano de eleições, onde um dos principais candidatos é tão esdrúxulo quanto um vilão de quadrinhos, e que consegue convencer uma grande fatia dos eleitores a se comportarem como acéfalos, O DITADOR HONESTO pode trazer aquela coceira do pensar, do raciocínio. Amém!

Seguindo a mesma linha de forçar o cérebro do leitor, PRO INFERNO COM ISSO traz uma sequência de contos dos mais variados tipos que conseguem entreter, surpreender e causar aquela sensação de familiaridade, de algo que você poderia perfeitamente ouvir em uma conversa de bar, do seu vizinho, na escola ou faculdade.

O autor viaja entre o medo, através de um conto sobre uma doença; sobre a vontade de se viver para sempre; sobre a inveja e a vingança entre irmãos; sobre o abuso emotivo, a subserviência pelo amor; as diferentes visões entre pais e filhos; sobre a realidade da amizade, ou da inimizade; ou até mesmo em um conto mais existencialista, introspectivo. São mais de vinte e dois contos curtos, de duas ou três páginas cada um, em um total de pouco mais de cem páginas. Não há lugar para enrolação, tudo é tratado de forma direta, com mensagens diretas, mas nem por isso displicentes.

Outro detalhe que vale destacar em PRO INFERNO COM ISSO, é a confirmação da originalidade e da necessidade do autor fazer o leitor questionar seu próprio estilo de vida, seu comportamento e o seu círculo de convivência. Isso é uma das coisas mais importantes em um livro: causar movimento no leitor.

O DITADOR HONESTO e PRO INFERNO COM ISSO não são, de forma alguma, livros que você fecha e se esquece em seguida. Você será obrigado a pensar sobre o que leu e a forma como o que leu se encaixa dentro de você e na sociedade. Tem coisa melhor?

site: http://www.gettub.com.br/2018/07/o-ditador-honesto-e-pro-inferno-com-isso.html
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O Colador de Resenhas 05/07/2018

INFERNOS INTERNOS EM MATHEUS PELETEIRO
“(Para um artista, não há nada pior que o comodismo e a não eventualidade).”
Matheus Peleteiro

por Luiz Otávio Oliani:

Com um título retirado de versos do grande Charles Bukowski, o livro "Pro inferno com isso”, de Matheus Peleteiro é uma obra riquíssima e de extrema qualidade, a demonstrar que o conto brasileiro contemporâneo vai muito bem.
Peleteiro se vale de um livro com múltiplas intertextualidades ou referências textuais. A demonstração mais latente é o sensacional "Legiões urbanas de decoradores de literatura", (p. 21), no qual a música de um dos grandes grupos de rock dos anos 80 e 90 é o mote indicador. Desfilam, no conto, personagens literários de grande representação, como Herman Hesse, Rubem Fonseca, Hemingway, Sartre, George Orwell, Fitzgerald, entre outros, numa leitura que finaliza com uma verdade: “O vírus da literatura tinha me contaminado. E vacina nenhuma poderia ter me preparado para tal doença.” (p. 26)
O conto título do livro "Pro inferno com isso" (p.30) traz Marcelo, um personagem atormentado na conversa com um bêbado que acredita na existência de discos voadores. Assim, o cenário ufológico aparece meio como uma alucinação de quem não está no bom fluxo das faculdades mentais, o que justifica a falta de Marcelo ao querer não se importar com o que o outro dizia.
Matheus Peleteiro trabalha exaustivamente a escolha dos títulos, numa busca de satisfação por um nome que lhe caia bem, sem excessos, ao conciliar forma e conteúdo. Trata-se de uma literatura de porradas, como se percebe na leitura de "você também (interlúdio)" (p.50), como no diálogo final: “-....É que... Você sabe...a bíblia... A tradição da família deveria se basear nas leis de Deus. / -Ah, vai se foder você também.” (p.51) ou no título de “Uma puta cativante e um cafajeste romântico” (p.80) ou “Eu vou foder com você” (p.52).
Nota-se pela leitura ilustrativa tão somente destes contos, o que não exclui os demais de qualidade semelhante, seja por títulos ou conteúdo, já que a tônica dos relacionamentos perpassa todos os textos.
Em "Mãos de poeta" (p.27), tem-se um conto emblemático, no qual os estereótipos são testados a todo tempo. A gentileza e a amabilidade que um homem pode ter em relação a amada se contrasta com a rudeza e a curiosidade que dele se espera.
O contundente "O bastante" (p.38) mostra o difícil diálogo entre os pais e filhos, na luta das gerações em busca de verdades eleitas como primordiais, como se houvesse uma única forma de ver o mundo e não há. Aqui, o eu lírico (embora se trate de prosa) comove o leitor com um final antológico do falar da figura paterna. Diz que: "Ele era um filho da puta" (p.41), mas, simultaneamente, " (...) ele me amava, o meu pai... Sentiu que sua missão tinha sido cumprida e se foi".
Interessante a discussão filosófico-existencial travada por Martin e Ted, em plena estrada, após visualizarem dois bêbados, no conto "Sem olhar pra trás" (p.42). O tom crescente do texto revela diálogos fortes e impactantes, capazes de gerar um furacão na mente dos leitores. Esta, sim, é uma forma de escrever que sensibiliza, ao retirar os indivíduos da zona de conforto.
Por meio de estudantes secundaristas em aula, no conto "A garota que não gostava de professoras de português" (p.45), a ironia fina e inteligente e o humor ácido valem a leitura do texto. Isto porque as personagens veem a literatura e a música por um prisma interessante, mas oposto àquele ensinado pela docente. Resta, contudo, uma verdade quanto ao ensino brasileiro: "E os vestibulares não mostram a literatura genial que existe no mundo" (p.49).
O conto “Um desabafo" (p.60) traz a decepção do músico de rua que recebe cem reais de um estranho. Não pelo som que produzia, mas pela possibilidade de ganhar um ouvido amigo. Aqui, Matheus Peleteiro é cruel. Investiga os quês e porquês da alma humana, dissecando o homem como se fosse a literatura fosse um exame cadavérico, em busca da causa mortis. Aqui, um tom machadiano se revela em Matheus Peleteiro, comparando o texto dele a dois capítulos do clássico “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, a saber: “Amor, amores” e “O Almocreve”. Enfim, neles, há o desnudamento do ser humano em toda extensão que lhe cabe: a mediocridade é revelada, mas sem máscaras.
Em "Recheado de culpa" (p.78), Matheus brinca com os limites da submissão e da subserviência amorosa. Até quando uma pessoa aceita perder a própria indivídualidade em detrimento do outro?
No já citado “Uma puta cativante e um cafajeste romântico” (p.80), o autor brinca com estereótipos. Expõe os personagens a teorias sobre casamentos, amores que se tornaram relacionamentos e finaliza o texto com una sacada de mestre, quando o cafajeste pede a mão da prostituta em casamento.
Em "Filosofia de bêbado" (p.87), Heitor e Gilberto passam a narrativa toda discutindo sobre o existencialismo,numa ótica muito particular, mas sempre subjetiva. Matheus encanta pelo desfecho, com a morte de cada personagem tentando descobrir a si próprio, ou seja, a própria verdade. Trata-se de um gold e placa do contista!
Em "E isso doía” (p.94), Peleteiro mostra a força das palavras. Muitas vezes,ainda que amargas, têm o poder de compelir,de impulsionar,de ajudar alguém na luta por um ideal. Isto foi o que o personagem Juca vivenciou,frente ao amigo Guido que, no passado, teria agido não a desencorajá-lo num momento,mas sim a impulsioná-lo,por meio de um empurrão não muito doce,digamos assim (grifo nosso).
Um texto que não poderia passar impune a notas é o antológico conto "O suicídio de um poeta que não teve coragem de se matar" (p.107), um dos melhores textos do livro, no qual o autor "brinca" com o conceito de imortalidade, o desejo de publicação de uma obra literária, o mercado editorial, a existência de leitores, ou seja, com tudo se relaciona à morte provável do poeta, como se fosse fator preponderante para que um intelectual se eternizasse.
E, para concluir, retorna-se à intertextualidade, também presente em "A maldição" (p.113), texto no qual uma estranha doença acomete indivíduos frente a um médico. Embora no texto de Peleteiro haja uma referência ao livro “A Peste”, de Albert Camus, enquanto a peste, como doença era a bulbônica, hoje a doença que acomete o povo é a apatia; esta leitura pode ir além. Se as personagens do texto de Peleteiro têm cãibras nos pés e sono profundo, não seria possível se lembrar da ausência de visão no clássico romance "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago? Em um plano diverso, num conto breve, Matheus Peleteiro surpreende e encanta com literatura de qualidade.

*Luiz Otávio Oliani é professor e escritor. Em 2017, a convite da escritora e ativista cultural Mariza Sorriso, integrou a equipe de poetas que representou o Brasil no IV ENCONTRO DE POETAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, em Lisboa, Portugal. Publicou 13 livros, 10 de poemas e 3 peças de teatro. O título mais recente é o solo de poemas “Palimpsestos, Outras Vozes e Águas”, Editora Penalux, 2018.
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