O Som da Montanha

O Som da Montanha Yasunari Kawabata




Resenhas - O som da montanha


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dani 30/11/2022

O som (perturbador) da montanha
"Com que idade Shingo teria começado a se sentir solitário ao acordar no escuro nas manhãs de inverno?"

Essa foi uma das leituras mais difíceis do ano. Embora a escrita seja fluida, o conteúdo é bastante denso devido a camadas e mais camadas de exploração psicológica que formam a essência do enredo. De modo perturbador e desconfortável, o autor explora temas como velhice, memória, arrependimentos e a dualidade entre a vida familiar e a vida em sociedade.

Tenho até dificuldade de descrever objetivamente do que se trata o livro, além de ser o recorte de uma trama familiar que se passa no Japão pós-guerra. O enredo não segue uma sequência óbvia, quase ignorando os conceitos de começo, meio e fim. A sensação que tive ao longo da leitura é de estar olhando para o céu, acompanhando o passar das nuvens enquanto mudam de forma até se dissolverem completamente. O que posso dizer é que a sensação de entrar na mente dos personagens foi uma experiência perturbadora, como se estivesse passeando em um território proibido. E no fim das contas, ainda não sabemos nada, ou quase nada sobre eles. Verdadeiros enigmas.

Como pano de fundo, Kawabata apresenta um Japão em plena fase de transição, passando por um malabarismo coletivo. Vemos uma nação que se agarra às tradições, ao mesmo tempo em que recebe uma enxurrada de influências externas. Esse é um tema recorrente na obra do autor. Outro tópico presente aqui, em momentos e discussões centrais para a trama, é o lugar e a identidade da mulher em uma sociedade em transformação. Ele também não deixa de fora o "legado" sutil e doloroso da guerra, ora na forma de danos emocionais que atrapalham as relações interpessoais, ora na desconfortável presença dos soldados americanos ocupando espaços do cotidiano.

Um último ponto que não posso deixar de mencionar é a belíssima representação ciclos da natureza e suas simbologias. Kawabata é mestre em incorporar esses elementos em suas narrativas. Por fim, confesso que o final do livro me pegou de surpresa. Por que o autor fez essa escolha? Ao mesmo tempo, por que não?
Nicolas388 27/12/2022minha estante
Que resenha maravilhosa! Comprei o livro há pouco tempo e agora estou doido para lê-lo (apesar das leituras atrasadas que tenho ?). Deu para sentir a história com seu resumo, parece uma leitura incrível, o Kawabata sempre me chamou a atenção.


dani 27/12/2022minha estante
Obrigada, Nick!
Que leitor não tem leituras atrasadas, somos todos culpados ?
Vou acompanhar sua leitura, estou curiosa para saber sua opinião.


Débora 10/09/2023minha estante
Resenha incrível, parabéns! Vc leu os outros livros da trilogia? Posso começar por este ou há uma sequência?


dani 10/09/2023minha estante
Obrigada, Débora! Comecei por "País das Neves" é agora ainda falta ler "Mil tsurus". Acredito que pode ler na ordem que preferir, se trata de uma trilogia informal, já que os livros não têm os mesmos personagens nem seguem uma linha do tempo.


Débora 10/09/2023minha estante
Muito obrigada, Dani!?




Mario Miranda 24/08/2020

Esta obra de Kawabata me lembrou obras de Roth: a temática da decadência humana, a perda da virilidade e o desencanto ao tomarmos conhecimento do avançar da idade.

O personagem principal, já senil, tenta como último bastião de sua vida manter a ordem e a moral familiar. insatisfeito com as ações do seu filho, o embate Pai/Filho representa não apenas um choque geracional, mas o próprio choque entre o Japão Tradicional e o Moderno país que surgia no século XX.
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Diego Rodrigues 22/09/2021

A efemeridade da vida
Nascido em 1899, na cidade de Osaka, Yasunari Kawabata foi um célebre escritor japonês, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1968 e defensor do chamado "Shinkankakuha" (ou neo-sensorialismo), movimento literário que visava uma revolução na literatura japonesa e propunha uma nova estética lírica, impressionista e altamente sensorial. Sua escrita é marcada por uma forte presença dos elementos da natureza em contraste com a condição humana, muitas vezes através de metáforas e, às vezes, com um leve toque de fantástico. Temas como a sexualidade, o tempo e a morte são profundamente explorados em suas obras, sendo que este último esteve ao lado do autor ao longo de toda sua trajetória: órfão ainda criança, Kawabata teve que lidar com a perda dos avós e da irmã ainda jovem. Deprimido, acabou por suicidar-se em 1972.

Publicado pela primeira vez em 1954, "O Som da Montanha" vai nos colocar em meio aos dramas familiares dos Ogata. Shingo, o patriarca da família, é um sexagenário que está dando seus primeiros passos rumo à senilidade: sua memória está começando a desvanecer. Seu filho Shuichi está envolvido em uma relação extraconjugal e sua filha Fusako se vê presa a um casamento infeliz. Enquanto tenta lidar com os problemas entorno de sua família, Shingo encontra afago em sua nora Kikuko e nos devaneios aos quais se entrega a profundas observações da natureza. Dramas familiares, conflito de gerações, a passagem do tempo, luto, culpa e sexualidade, esses são alguns dos temas com os quais vamos nos deparar ao longo dessa leitura.

Com uma escrita sutil e repleta de lirismo, Kawabata é daqueles autores que conseguem nos transportar para dentro da história em poucas palavras. Suas descrições da natureza são como verdadeiras aquarelas que saltam aos olhos e contrastam bem com a densidade de uma história que tem como pano de fundo uma sociedade extremamente fechada e traumatizada com a Segunda Guerra Mundial, cercada de tabus, incertezas e ainda em busca de identidade. Como se não bastasse tudo isso, a obra ainda nos permite conhecer um pouco mais da cultura japonesa, nos apresentando um pouco de sua culinária, seus costumes e suas crenças populares.

"O Som da Montanha" é um romance altamente sensorial que vai do mais leve ao mais pesado em um estalar de dedos: em alguns momentos o livro me transmitiu uma paz de espírito que me senti como se estivesse ali no jardim da casa de Shingo, no sopé da montanha, tomando chá e ouvindo o canto dos pássaros. Em outros, me mergulhou em tamanha melancolia que me deixou a beira de uma crise existencial. Uma leitura propensa a deixar o leitor contemplativo e que tem o poder de reavivar memórias e arrependimentos, nos levando a questionar o que fizemos com o tempo que ficou pra trás e o que estamos fazendo com o agora.

*Importante ressaltar que o livro aborda alguns temas delicados como aborto e suicídio, logo deve-se ter um cuidado maior na hora de embarcar nessa leitura.

site: https://discolivro.blogspot.com/
@quixotandocomadani 23/09/2021minha estante
Adorei! Acho que eh meu tipo de livro! ?


Diego Rodrigues 24/09/2021minha estante
Acho que você vai gostar!




Marcos606 15/12/2023

Shingo está ficando idoso, o que ele percebe quando sua mente e memórias começam a falhar. Embora esconda isso, Shingo está dolorosamente ciente de que sua secretária e filho, Shuichi, constantemente o lembra de tarefas e o ajuda a recuperar objetos perdidos. Shingo rumina sobre esse fenômeno, que avança de maneira sutil, mas inexorável e mórbida. Ao vasculhar suas memórias, em parte na tentativa de mantê-las, ele se lembra de seu amor pela irmã de sua esposa. Seu amor por ela ressurge, embora ela já esteja morta há muito tempo. Após seu falecimento, Shingo teve um casamento que durou mais de trinta anos com sua esposa, sempre lamentando não poder se casar com a outra mulher.

Enquanto isso, lidando com a revelação de que seu filho está traindo a esposa, Shingo se pergunta como suas próprias ações podem ter incutido essa tendência nele. A esposa do filho, Kikuko é muito bonita, despertando as memórias de Shingo da irmã falecida de sua também falecida esposa. Seu filho a trata mal, porém, parecendo confirmar os temores de Shingo, ele pergunta a Eiko, secretária de seu filho, sobre a mulher com quem ele está tendo um caso. Ela gradualmente se abre para ele sobre as indiscrições de seu filho, mostrando a Shingo o lugar onde a mulher mora. Shingo delibera, mas decide não confrontá-la, o que correria o risco de prejudicar permanentemente seu relacionamento com o filho.

Pouco tempo depois, a filha de Shingo, Fusako, chega em casa, tendo deixado o marido e pedido o divórcio.

Enquanto a ordem familiar parece desmoronar ao seu redor, Shingo, em vez de se condenar à morte existencial em reação, ou desistir do futuro da sua família, aprende a aceitar as suas complexidades e fracassos, assim, ele também aceita seus próprios erros. Enquanto o som da própria morte e da morte do velho Japão, machucado pela guerra, se aproxima.
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Nicolas388 10/01/2023

"[...] mas não havia dúvida de que o som vinha da montanha."
O melhor livro japonês que li (até o momento). Uma história que fala sobre sentimentos humanos, a transição do Japão entre a tradição e a modernidade, o envelhecimento e detrimento, não só físico, mas também da memória e até da sexualidade.

É interessante que, embora esse relato nos chegue em 3° pessoa, não temos um narrador onisciente, somos limitados pela consciência (e esquecimento) de Shingo, o protagonista. Há também a interessantíssima e belíssima representação que Kawabata faz da natureza, sua relação com os sentimentos humanos, e vice-versa. A cada capítulo (muitas vezes em seu nome), o autor evocará algum símbolo da natureza, seja no mundo real ou nos sonhos de Shingo. Esses símbolos fazem analogias às situações e problemas familiares, sentimentos ou dilemas morais que ele está enfrentando. O resultado é uma história muito profunda e sutil, que retrata bem a beleza, mas também a tristeza e vergonha do Japão pós-guerra.
dani 11/01/2023minha estante
Bela resenha! Que bom que gostou. É um livro marcante, ainda me pego pensando em alguns episódios e devaneios. Recomendo o filme, se tiver a oportunidade de assistir.


Nicolas388 12/01/2023minha estante
Muito obrigado! ^^
Ah, depois dessa leitura, não vou deixar de ver o filme.




Aline164 02/03/2014

O som da montanha, de Kawabata
"Quando o som parou, ele se sentiu aterrorizado. Teve calafrios ao imaginar que talvez fosse o prenúncio de sua morte."

Shingo Ogata é quem ouve o som da montanha. Ele é o patriarca sexagenário de uma família que passa por momentos de turbulência: o filho, Shuichi, arranja uma amante e despreza a esposa, Kikuko, que também mora com os sogros; enquanto a filha, Fusako, está se separando de um marido viciado em drogas e provavelmente traficante, que acaba indo morar com as filhas pequenas na casa dos pais.

Enquanto pressente a morte chegando, Shingo reflete sobre algumas frustrações ao longo da vida: era apaixonado pela bela irmã mais velha da esposa, que havia se casado com outro homem e morreu muito jovem; acabou casando-se com Yasuko, que não era muito graciosa, mas tinha a expectativa de gerar uma filha tão bela quanto a cunhada, o que não aconteceu - Fusako, aos olhos de Shingo, não era bela e não tinha modos, mas ainda tinha a expectativa de que uma de suas netas desenvolvesse algum tipo de beleza; pensa que talvez não tenha criado bem os filhos, principalmente Shuichi, que parece ter um sério desvio de caráter - apesar de pai e filho trabalharem na mesma empresa, em Tóquio, o filho não volta para casa com o pai, pois vai dançar em bailes com a secretária do pai ou encontrar a amante.

Devido à idade, Shingo se esquece com facilidade de fatos corriqueiros, mas recorre principalmente à esposa, à Kikuko e à secretária, que o ajudam a lembrar. No último capítulo, compartilhamos um pouco da angústia do patriarca: em uma manhã, enquanto se preparava para trabalhar, não se lembra mais de como fazer o nó da gravata, embora tenha feito isso ao longo de quarenta anos, Kikuko tenta ajudá-lo, mas não consegue e acaba chamando a sogra.

Publicado em 1954, O som da montanha traz características dos anos do Japão pós-guerra, quando o país passa por um período de "ocidentalização": Shingo usa terno para trabalhar, mas kimono em casa; as mulheres estão, aparentemente, se tornando mais independentes (várias vestem roupas ocidentais e trabalham fora, como a secretária de Shingo); no capítulo "O jardim da capital", Kikuko aparece ouvindo Les sylphides, de Chopin; a separação de casais não parece ser um tabu; o uso de aparelhos como aspirador de pó e barbeador elétrico.

No mesmo ano de publicação do livro, o diretor Mikio Naruse adaptou-o para o cinema. Vi o filme, lançado recentemente em uma coleção da Folha, "Grandes livros no cinema", mas achei o ritmo um pouco monótono. Para quem não leu o livro, ver o filme talvez seja entediante. O final é diferente do livro, mas igualmente plausível.

Uma das características da trama que fica muito mais sutil no filme é a ambiguidade da relação entre Shingo e a nora. No livro há uma tensão que permeia toda a narrativa, pois Shingo a vê tanto como uma jovem filha que precisa de ajuda e proteção (que o marido não lhe proporciona) quanto uma mulher bela e amorosa que lhe provoca desejos sensuais (seu cheiro e a maneira como se movimenta, por exemplo). Essa atitude provoca um certo ciúmes em Fusako, filha de Shingo, que uma vez diz explicitamente que o pai trata melhor a nora que ela própria.

Kikuko também apresenta certa ambiguidade, demonstrando um imenso carinho pelo sogro. No capítulo "O jardim da capital", Kikuko convida Shingo para um passeio e uma conversa no parque Shinjuku Gyoen. Ela estava passando alguns dias na casa dos pais, para restabelecer a saúde, mas queria voltar para a casa dos sogros em Kamakura, nas cercanias de Tóquio, e estava sem jeito.

"Shingo e Kikuko entraram no gramado e andaram entre os casais em encontro amoroso, mas ninguém deu atenção a eles. Shingo procurou passar longe desses casais.
No entanto, o que Kikuko estaria pensando? Não eram nada mais do que um velho sogro e a jovem nora que vieram ao parque, mas Shingo não conseguira se adaptar à situação.
Não dera importância ao telefonema de Kikuko, que marcou o encontro no Shinjuku Gyoen, mas agora que estava ali achava algo estranho."
...

"- Se você tem algo a me contar, antes de voltar para casa...
- Para o senhor? Tenho tanta coisa que gostaria de lhe dizer, mas..."

Ao mesmo tempo que faz um balanço de sua vida e percebe que está, aos poucos, se desligando da vida e se afastando de momentos presentes, Shingo observa a beleza da natureza, que permanecerá inalterada, mesmo quando ele já tiver partido.


site: http://www.panisetlibris.blogspot.com.br/2014/02/o-som-da-montanha-de-kawabata.html
Matheus 07/04/2021minha estante
Depois que soube que esse foi o romance mais famoso dele, tenho mais interesse em lê-lo!


Matheus 20/09/2021minha estante
Terminei de ler! Deixei minha resenha aqui, analisando mais de perto uma das últimas "cenas". Interessante como você marcou as passagens que mais te chamaram a atenção! Acho ótimo ter esses registros, ainda mais no Skoob. Fico no aguardo pra gente conseguir ler em conjunto uma mesma história.

Também gostei da resenha https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1601201014.htm quando é de algum especialista acho que ajuda a clarear mais fácil pontos principais das tramas.




Bruno.Dellatorre 01/09/2019

Sutil, leve, bem escrito...
Essas palavras resumem a deliciosa obra de Yasunari Kawabata. Uma leitura gostosa, que retrata puramente o cotidiano da família Ogata no Japão na década de 50. O livro faz excelentes abordagens de alcoolismo, suicídio/morte e aborto, sem criar situações folhetinescas ou tentar ser sensacionalista, apenas introduz sem pressa diversas ideias sobre os assuntos supracitados. Uma obra admirável, que se torna ainda mais admirável por conter a contemplativa escrita de Kawabata.
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spoiler visualizar
Gilda.Mayumi 03/05/2022minha estante
Nossa, obrigada por essa resenha! Me ajudou a compreender o livro ?


Matheus 04/05/2022minha estante
Fico feliz que ficou mais significativo pra ti! Às vezes acabo interpretando as coisas pela via da psicanálise. O próprio autor bebeu de algumas fontes como Freud, mas não sei te especificar... Na biografia fala sobre as influências que ele teve.




Lusia.Nicolino 19/09/2021

É de 1954, é preciso transportar-se para desfrutar
O som da montanha, atrás da sua casa, intriga Shingo. Shingo tem uma história com esse som. Shingo teve uma paixão pela irmã de sua mulher e dizia-se que seu sogro teria ouvido o mesmo som como uma premonição da morte de sua cunhada.
Ogata Shingo é um homem de negócios na agitada Tóquio e está vivenciando o ciclo dos sessenta anos que representa, no Japão, o renascimento de uma pessoa. Mas, o que ele enfrenta, na verdade, são sinais da velhice. A memória falha, a vista cansa, a família não é o que poderia ser. A mulher, praticamente uma substituta para a irmã, a paixão que ele não esqueceu; a filha, com um casamento fracassado e duas crianças, o filho que não fortalece o seu próprio relacionamento. O papel das mulheres, os laços que se desfazem. Sentimentos misturados, a vida inclinando a gangorra para o fim, fazendo refletir, sem muito tempo para consertar algumas coisas.
Há um contraste entre a descrição de paisagens bucólicas, de flores e pássaros e o turbilhão de sentimentos que Shingo enfrenta. O som da montanha é de 1954, é preciso transportar-se para desfrutar sem juízo de valor.

Quote: "– Um milagre que contraria a natureza não dura para sempre, não é? Kitamoto arrancou os cabelos brancos, contestando o curso do avanço da idade, o desmoronamento do destino, mas parece que a duração da vida é diferente. Mesmo que o cabelo volte a ficar preto, não se consegue prolongar a vida."


site: https://www.facebook.com/lunicolinole https://www.instagram.com/lunicolinole
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Arthur 27/01/2023

O som da montanha
Livro excelente e que diz muito sobre a vida em família, seus problemas e suas coisas boas. Livro bom para conhecer a obra de Kawabata, provavelmente meu livro preferido desse autor, em muitos momentos o que não é dito se torna mais importante do que é dito, em especial sobre a relação do Shingo e sua nora.
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Kleber 12/11/2013

O Som da Montanha de Yasunari Kawabata
Shingo é um homem de 60 e poucos anos, um homem comum, com suas frustrações. Apaixonado por uma mulher, se contentou em casar com a irmã, tendo uma relação estável mesmo sem nunca tirar da mente aquela mulher. Esperava em sua filha algo que o fizesse lembrar da mulher que amava, mas logo se decepcionou e encontrou nela alguém menos interessante que a própria esposa. Com o filho, certas expectativas, mas a forma como trata a nora, também o distanciou dele.

Como consolo, decepcionado com os filhos, lhe restou "adotar" Kikuko como filha. Tradicionalmente, a nora já é tratada como filha e o sogro como pai, mas aqui há algo que vai além das convenções da sociedade japonesa, pois Shingo encontrou na nora sua filha favorita, e a pessoa a quem dedicar seu mais sincero amor.

Com Kikuko, Shingo mantem uma relação estranha que o ajuda a lidar com suas frustrações, e com o fato de estar envelhecendo e perdendo gradativamente a memória. Se em algum lugar do seu íntimo flerta com o suicídio, o que mantem essa ideia como uma mera fantasia é a presença da sua nora.

Shingo é um homem que vive em um tempo e em um lugar que não são os dele, nasceu em um país que em sua velhice já não existe mais. Deve ser duro estar e ser ultrapassado. E é Kikuko quem lhe dá algum chão para viver.
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Valério 01/09/2016

Discrição nipônica
Japoneses são discretos ao falar e ao agir. E também, pelo que nos demonstra Kawabata, ao escrever.
O livro trata da vida de uma família tradicional japonesa. O patriarca sofre ao ver seu filho traindo a esposa (todos convivem na mesma casa) enquanto a sua filha volta de um fracassado relacionamento, do qual resulta um filho.
De toda a família, por pequenos gestos, nota-se a grande sensibilidade do patriarca e de sua nora, em uma relação de proximidade e carinho que beira mesmo um relacionamento amoroso. Apenas os dois se entendem na casa, se isolando conjuntamente da balbúrdia que os demais integrantes da família fazem de suas vidas.
Um romance peculiar, sensível, detalhista.
Interessante imersão na vida e cultura japonesas.
newton16 09/11/2019minha estante
Sua resenha é perfeita. Retrata muito bem o livro, cuja estória causa estranhamento ao leitor brasileiro.


Valério 12/11/2019minha estante
Obrigado


Débora 10/09/2023minha estante
Esse livro faz parte de uma trilogia. Gostaria de saber se dá para entender sem ter lido os anteriores.


Valério 10/10/2023minha estante
Não senti falta dos anteriores, Débora. Dá pra ler tranquilamente


Débora 10/10/2023minha estante
Obrigada, Valério!




Ariadne.Esqueisaro 19/12/2021

Introspecção do início ao fim
Não sei se estava ansiosa demais ou se não me preparei devidamente prá ler um romance japonês...muitas camadas em cada personagem, muita reflexão e todas as emoções contidas. Nada é declarado ou exteriorizado. É só uma passagem da vida, não tem um "acontecimento" ou um ápice. É vagaroso e arrastado
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SLMM 08/03/2019

Lindo, mas edição com erros
Kawabata dispensa apresentações, sua escrita é linda e delicada,suas estórias envolventes, poéticas,de um Japão que não existe mais.

Esta edição de O Som da Montanha trás erros que já havia percebido em outras obras do mesmo autor pela Estação Liberdade. Erros de digitação, concordância,uma coisinha aqui ou ali, que atrapalham um pouco. O que mais me incomoda é a mudança no tamanho do tipo em várias páginas. De repente vem uma frase com letras menores......
Além disso, não sei se erro de tradução, de edição ou se foi escrito assim mesmo,a estória tem em momentos uns "furos" cronológicos na narrativa. Nesta obra por exemplo, o personagem saí em busca da irmã que mudou para o interior. É um ponto importante na estória. Acaba o capítulo. Começa o seguinte e de repente perceboque o irmão já voltou, a irmã veio com ele, e simplesmente nada foi dito entre saída e retorno. Tipo,ficou por isso mesmo. Difícil acreditar que o original tenha esses buracos narrativos, as vezes algo que já foi dito se repete, o leitor fica perdido, mas sinceramente não sei se o escritor fez a obra assim. De qualquer forma, nada disso deve impedir a leitura da obra, muito bonita.
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