Julia G 11/12/2017A dieta do microbiomaQuem me conhece pessoalmente sabe, mas quase nunca comentei por aqui porque não tem nada a ver com o tema do blog: adoro estudar sobre alimentação. Sou daquelas loucas que sai de casa com vários lanches na bolsa, inclusive alguns para os quais a maioria das pessoas faz cara feia, como maionese de abacate e outras versões funcionais que, apesar de não aparentarem, são muito gostosas. Faço acompanhamento com nutricionista e vi mudanças significativas no meu dia a dia - disposição, humor, pele e cabelo, tudo isso mudou. Minha irmã diz que se não me conhecesse me acharia uma chata - afinal, a gente cresceu achando que salada era tomate e alface -, mas eu levo coisas super diferentes para ela e ela gosta, então não pode nem reclamar muito. Sou adepta da ideia de comer "comida de verdade" pela maior parte do tempo possível e faço em casa tudo o que consigo evitar comprar.
Essa introdução longa e bastante pessoal é só para dizer que eu decidi ler A Dieta do Microbioma, de Raphael Kellman, publicado pelo selo Cultrix, do Grupo Pensamento, por motivos também bastante pessoais. Quem estuda sobre alimentação já ouviu falar sobre a importância do intestino para o organismo, tanto que ele é conhecido como o "segundo cérebro", e o livro do Dr. Kellman aborda não só funcionamento desse órgão, mas sua inter-relação com o microbioma que vive dentro de nós.
A ideia do autor - e que ele fundamenta com dados científicos - é que o funcionamento do nosso organismo depende muito do microbioma que existe dentro de nós, algo na proporção de 90%. Isso significa que, se esse sistema estiver desequilibrado, nós estaremos desequilibrados. E isso reflete na nossa vontade de comer doces e industrializados, o que inflama o organismo e, como consequência, nos engorda. A partir daí, o autor elabora uma dieta que tende a alimentar os micro-organismos bons e "matar de fome" os ruins, de forma a reprogramar o sistema para que ele possa emagrecer naturalmente.
"Fico empolgado quando imagino que, em vez de depender de esforços infrutíferos de laboratórios farmacêuticos no sentido de curar uma doença, podemos contar com a sabedoria milenar da própria natureza para nos ajudar a equilibrar o organismo e, dessa forma, recuperar a saúde." (pág. 101-102)
O livro é dividido em cinco partes. A primeira trata do microbioma e explica seu funcionamento e a importância dele para o organismo. A segunda fala dos princípios da dieta elaborada pelo autor, a partir dos quatro Rs para restabelecer a saúde intestinal (Remover, Repor, Reinocular e Reparar). A parte três fala do quanto o estresse influencia todo o organismo e a importância de reequilibrar não só na alimentação, mas também na nossa relação com a comida e os aspectos psicológicos. As partes quatro e cinco falam sobre a manutenção vitalícia e o dia a dia da dieta, inclusive com receitas passo a passo e planejamento para manter tudo em dia.
Adorei conhecer os preceitos trazidos pelo autor e a lógica que ele emprega na elaboração de sua dieta. Muita coisa do que ele falou eu já vejo na prática e sei que é verdade, então acredito que, para quem quer tentar mudar de hábitos radicalmente, a dieta tem tudo para funcionar.
O problema, em minha humilde opinião de leiga, é que a dieta proposta por ele é um tratamento de choque, bastante radical, já que literalmente proíbe tudo o que tem poder inflamatório na alimentação e, se deixar de comer cereais e grãos (arroz e feijão) na dieta brasileira já é bastante difícil por um dia só, imagine ficar três semanas sem comer isso e vários outros alimentos que são muito saudáveis pelo fato de que eles podem ocasionar algum tipo de inflamação. As razões que o autor dá para isso são bastante plausíveis, e é realmente um tratamento de choque para reprogramar o organismo, mas, particularmente, eu não gosto de nada tão proibitivo, então não conseguiria levar isso para minha vida, pelo menos não ao pé da letra.
Além disso, alguns elementos que o autor sugere que sejam utilizados durante o tratamento não são tão facilmente encontrados no Brasil como são nos Estados Unidos, já que a ANVISA é mais restritiva quanto aos produtos que podem ser vendidos sem receita médica. Não conheço todos os que ele citou, mas acredito que alguns não sejam encontrados, a menos que haja acompanhamento médico.
Por outro lado, algumas coisas podem ser sim aplicadas, ainda que em menor escala. Por exemplo, o autor fala bastante da importância do uso de probióticos e prebióticos e a existência de super alimentos. Algumas dessas coisas já são parte do meu cotidiano há alguns meses, outras eu venho adotando inspirada na experiência do autor. Além disso, o livro é repleto de receitas que parecem mesmo deliciosas, então sempre que tenho oportunidade, testo uma ou outra.
De todo modo, para quem gosta de conhecer sobre o funcionamento do organismo e o poder da alimentação, indico muito A Dieta do Microbioma. Além de ser uma leitura fácil e agradável, traz diversos dados interessantes que podem estimular quem quer mudar sua forma de encarar a comida.
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http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2017/12/a-dieta-do-microbioma-raphael-kellman.html