spoiler visualizarAldemir2 31/08/2022
É eita atrás de eita 2: o retorno da que nem tinha ido
Eu não sei nem como começar essa resenha. Esse livro me fez passar por tantas emoções, tanta coisa acontecendo que é complicado saber o que falar porque é bastante coisa. Dos três livros da Segunda Era de Mistborn (até o momento em que estou escrevendo essa resenha), esse foi o que mais bem fluiu para mim, mesmo sendo o mais longo (por enquanto já que *The Lost Metal* está vindo aí), acredito que possa ter sido por acontecer muita coisa seguida, diferente dos outros dois livros esse terceiro é muito mais aventureiro e cheio de reviravoltas.
Dividido em três partes, a história começa com o casamento de Wax sendo arruinado por uma queda de uma torre de água na igreja em que estava acontecendo, mas como sempre ele nem tem tempo de respirar e já é metido em uma encrenca, agora envolvendo não somente os Imortais Sem Rosto e o próprio Deus (como se só esses dois elementos já não fossem muita coisa para o nosso protagonista lidar), mas tendo como objetivo procurar por artefatos extremamente poderosos que pertenceram ao próprio Lorde Soberano. Levando em conta os acontecimentos finais do livro anterior, Wax de maneira nenhuma quer se envolver nessa aventura, mas muda de ideia ao ver que seu tio está envolvido nesse caos e, como se já não fosse o bastante, tem a possibilidade de encontrar a sua irmã, Telsin. Waxillium, Wayne, Marasi, MeLaan e Steris (!!!) irão partir para longe de Elendel, até o limiar das Terras Brutas do Sul, em busca de descobrir como o Grupo, do qual o Sr. Elegante, tio de Wax, faz parte, está envolvido na busca de artefatos que podem dar poderes quase divinos para quem o portar.
Assim como o segundo volume, *As Sombras de Si Mesmo*, a Bacia de Elendel passa por uma certa instabilidade política, agora envolvendo a relação abusiva economicamente de Elendel com as cidades mais distantes. Tendo a economia prejudicada por causa dos impostos e taxas excessivas, os moradores dessas cidades se revoltam contra o grande centro da Bacia, os anúncios presentes na folha de jornal que está presente ao longo do livro mostram como é uma revolta popular que, por mais distante que isso pareça dos nossos heróis e dos moradores de Elendel, é uma tensão política que com algumas faíscas podem levar a uma guerra entre essas cidades. No entanto, acredito que essa tensão política não foi tão bem explorada quanto foi a tensão do segundo livro, poderia ter tido um pouco mais de explicação e mostrar o lado dessas cidades revoltadas, mas não é algo que prejudique a história. Sendo o próximo livro o último dessa Segunda Era, estou muito curioso para saber como esse nó político (junto com os próprios problemas internos de Elendel) serão resolvidos, junto com todos os outros problemas que os personagens ainda estão passando.
Novamente comparando com o segundo livro, enquanto em *As Sombras de Si Mesmo* apresenta muito crescimento dos três personagens principais, nesse terceiro livro já não teremos tanto assim. Vemos como Wax está ficando mais velho e até mais afetado com tudo o que já aconteceu com ele, mas principalmente vemos como ele deixa de ver a sua relação com Steris de uma maneira contratual e ele realmente passa a ama-la. Particularmente, ele amar ela não era bem o que eu esperava já que, assim como ele mesmo diz em certo ponto do livro, o tempo de criar uma relação assim com outra pessoa já passou, junto com a outra pessoa. Acreditei que eles teriam uma relação de parceria muito próxima, mas que não chegasse a amor, nem a maneira como eles chegaram a isso me pareceu muito crível, então não foi uma coisa que tenha me descido muito bem. Com Steris, no entanto, acompanhamos uma mudança na personagem desde o segundo livro quando ela começa a tentar se encaixar no mundo do seu futuro marido, aprendendo seus inimigos e o que pode chegar a acontecer com ele e com ela. Nesse terceiro livro, com ela muito mais presente, ela deixa de lado a imagem de esposa nobre e cuidadora da casa e das relações públicas para se tornar uma grande ajudante e parceira de Wax, salvando a pele dele em alguns momentos até. Agora indo para sua irmã, Marasi, nesse volume seu principal pensamento é como mesmo tendo conseguido o seu lugar ao sol na polícia por mérito, com ela batalhando pelo lugar em que chegou, ela ainda se sente na sombra de Wax. Em determinada passagem ela pensa em como a sua relação com ele mudou: enquanto no início ela era apaixonada, agora ela o admira como um grande herói e grande homem, não havendo mais nenhum sentimento apaixonado por ele, e é nesse ponto, envolvendo os três personagens até então citados, que quero pontuar uma coisa que gosto muito nestes três livros. Há muito tempo, antes de ler os livros, assisti as resenhas da Tamirez, do canal Resenhando Sonhos, e lá ela pontuou como o autor no primeiro livro apresenta esses três personagens de uma maneira que já faz a gente pensar que ocorrerá aquela mesma fórmula já bem conhecida: o herói tem que se casar com uma mulher por quem ele não é apaixonado por questões de conveniência, mas acabará ficando com a garota que é apaixonada por ele secretamente. *A Liga da Lei* faz o leitor pensar muito que é isso que acontecerá, mas já no segundo livro vemos como essa fórmula é deixada de lado, que a mocinha apaixonada vai deixando de amar o herói e que ele passa a gostar da pessoa com quem ele terá que se casar. É um ponto que eu concordo muito com ela de que é muito legal que aconteça, é uma quebra de um clichê muito bem feito e que convence o leitor a um ponto que se o autor seguisse a fórmula já seguida pareceria estranho e desajustado.
Como eu disse anteriormente, é um livro que acontece muitas reviravoltas, muitas coisas são reveladas ao mesmo tempo que várias outras perguntas vão surgindo, me deixando com medo de saber como irão resolver esses problemas no próximo livro. Foi um livro muito mais aventureiro em comparação aos outros e cheio de emoções, no entanto, houve uma reviravolta que não me desceu nem um pouco: a revelação de que na verdade Telsin, irmã de Wax, era uma vilã e estava trabalhando com o Sr. Elegante e para o Grupo. Desde que ela apareceu eu achei muito estranho como ela agia, por mais que condissesse com o (muito pouco) apresentado da personagem. Não só isso, mas ela também parecia muito deslocada da própria narrativa, às vezes até me esquecia que ela estava lá, e aqui foi mais um problema de escrita. Não sei se o Sanderson tinha ou até mesmo não tinha o objetivo de chocar o leitor quando, no templo, ela se mostrasse como integrante do Grupo, mas não me chocou nem um pouco e era algo que eu já esperava (convenhamos, é um clichê muito usado), então não gostei tanto disso, assim como não gostei muito da própria personagem. Um sentimento que tem me acompanhado durante a leitura desses três livros é como o autor mostra que o passado dos personagens é extremamente importante e que afeta muito os acontecimentos pelos quais eles passam, mas esse passado só é pincelado em momentos, deixando várias brechas na história que deixa o leitor querendo saber mais e o autor deixa ele de mãos abanando. É como se tivessem buracos ao longo do crescimento do personagem, deixando a leitura um pouco mais complicada e travada.
O quarto livro da Segunda Era, *The Lost Metal*, será lançado em novembro desse ano (2022) e não temos a menor previsão de quando poderá ter alguma possibilidade de ser publicado no Brasil já que a LeYa, que tinha os direitos da série de Mistborn até um tempo atrás, não pode mais publicar. Sendo assim, de alguma maneira eu vou ter que ler em inglês, mesmo eu não sabendo inglês tão bem quanto eu espero saber para conseguir ler um livro de fantasia de 400 páginas, então estou bastante nervoso com isso. É um livro que eu não acho que responderá por completo todas as questões não resolvidas dessa Era, afinal ainda teremos uma Terceira e uma Quarta, então é esperar para ver. Mas até então essa série tá sendo uma experiência de leitura única, de uma maneira que há muito tempo não acontecia comigo e acredito que demorará muito para acontecer de novo.